São Paulo, domingo, 28 de maio de 2000


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SERVIÇOS BANCÁRIOS

Relação nos grandes bancos salta de 38% em 95 para 72% em 99

Tarifa cobre 70% do gasto com pessoal


GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

A cobrança de tarifas na maioria dos serviços bancários cobre mais de 70% das despesas do setor com seus funcionários. No início do Plano Real, em 95, essa relação estava em torno de 40%.
A constatação é da EFC - Engenheiros Financeiros & Consultores, baseada na demonstração de resultados de nove instituições financeiras, entre as maiores do país.
Com base em informações extraídas dos balanços de 130 instituições financeiras, fornecidas pela consultoria Austin Asis, a Folha chegou a percentuais semelhantes em todos os anos de 95 a 99.
Os balanços de 99, segundo a EFC, mostram que, na média, nove grandes bancos privados e estatais tiveram R$ 11,5 bilhões de receitas com a prestação de serviços, basicamente de cobrança de tarifas. As despesas com pessoal, incluindo encargos trabalhistas, somaram R$ 15,9 bilhões.
A relação média entre serviços e gastos com pessoal, portanto, já atinge 72%. Na ponta superior está o Itaú, com relação de 196% no ano passado. Isso significa que as receitas com serviços representaram quase o dobro das despesas com pessoal.
No total de 130 instituições, R$ 14,3 bilhões de receitas com serviços corresponderam a exatos 70% das despesas com pessoal (R$ 20,4 bilhões).
A comparação com os totais de apenas nove bancos também dá uma idéia da concentração bancária no país.

Fim da inflação
O crescimento das receitas com serviços está relacionado à estabilização dos preços na economia. Até 1994, como a inflação era muito elevada, boa parte do lucro dos bancos vinha do chamado "ganho inflacionário".
Como a inflação girava em torno de 1% ao dia, os ganhos dos bancos cobriam com folga os custos de suas operações. Por exemplo, para fazer depósitos e aplicações. Por isso, os bancos não cobravam tarifas de forma explícita de seus clientes.
Calcula-se que em 1993, último ano de inflação elevada no Brasil, os "ganhos inflacionários" dos bancos somaram US$ 9,2 bilhões, o que corresponderia hoje a R$ 17 bilhões.
Como os bancos viram secar essa fonte de lucros, passaram a cobrar tarifas pela maioria dos serviços que prestam. No terceiro trimestre de 94, aumentaram as tarifas em 41%, na média, em comparação com igual período do ano anterior, segundo a EFC.
Mas o simples aumento das tarifas não consegue cobrir o que se deixou de lucrar na época da inflação alta, mesmo porque, observa Daniel Coradi, presidente da EFC, o encarecimento dos serviços tem limites. Pode afugentar o cliente.
De fato, a relação mudou em todos esses anos não apenas porque os bancos cobram mais e por uma quantidade maior de serviços. A automação colaborou para que os bancos enxugassem seus quadros de pessoal. As despesas praticamente não cresceram, considerados os 130 bancos, apesar de reajustes salariais no período.

Terceirização
A Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos) não nega que a relação entre receitas de serviços e despesas com pessoal próprio tenha se elevado de 94 para cá, mas ressalva que a análise dos balanços deve levar em conta outra rubrica: o de "outras despesas administrativas".
Aí, segundo a entidade, encontram-se também pagamentos relacionados a pessoal, porém de empresas que prestam serviços aos bancos de forma terceirizada. Por exemplo, na manutenção de equipamentos de informática, serviços gráficos, transporte de numerário etc.
De fato, os dados agregados de 130 instituições financeiras mostram crescimento de 79% entre 95 e o ano passado no item "outras despesas administrativas", que passaram de R$ 9,7 bilhões para R$ 17,4 bilhões.
É quase a evolução das receitas com serviços (86%), e os R$ 17,4 bilhões não estão tão longe dos R$ 20,4 bilhões despendidos com pessoal próprio.
A Febraban destaca que não só o número de clientes cresceu nos últimos anos, como aumentou o volume de serviços prestados, principalmente por via eletrônica ou telefônica.
Atualmente, 67% das transações bancárias são automatizadas, calcula a entidade.
A Febraban também alega que, no caso do pagamento de contas de concessionárias de serviços públicos, os bancos acabam tendo prejuízo.
Na média, estariam recebendo R$ 0,80 por conta no débito automático, contra R$ 1,06 do que chamam de tarifa interbancária mínima (quando um banco cobra do outro por serviço semelhante).
Dinah Barreto, assistente de direção do Procon-SP, responsável pela pesquisa de tarifas bancárias do órgão, diz que, mesmo havendo concorrência entre os bancos no tamanho das tarifas, ela não chega ao consumidor.
Na opinião de Dinah, a nomenclatura diferenciada entre os bancos e a enorme quantidade de tarifas impedem que o cliente faça uma boa comparação.


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