São Paulo, domingo, 28 de maio de 2000


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PRIVATIZAÇÃO

Esqueletos do banco vão exigir aumento de capital a acionistas

Minoritários devem vender ações do Banespa, diz banco

DA REPORTAGEM LOCAL

Venda suas ações do Banespa. É esse o conselho dado aos acionistas minoritários do banco no relatório do Banco Santander Central Hispano.
Esse tipo de relatório elaborado pelos analistas do mercado de ações tem como objetivo recomendar a compra, a manutenção ou a venda de determinada ação levando em conta o cenário que se desenha para a empresa em questão.
No caso, o analista do Santander considera que existem seis esqueletos no armário do Banespa que podem reduzir o valor do banco, que hoje está em R$ 4,170 bilhões.
"Acreditamos que os acionistas minoritários irão compartilhar as perdas escondidas (no Banespa), mas não irão compartilhar os ganhos escondidos, que só serão realizados ao longo dos próximos anos", afirma o texto.
Discretamente, o relatório opina que o comprador do Banespa terá todo o interesse em trazer à luz cada problema que encontrar. Porque assim diluirá a participação dos acionistas minoritários e, com isso, maximizará seu investimento.
O mecanismo para diluir o minoritário é o seguinte. Para fechar o buraco, o controlador tem de injetar mais dinheiro na instituição por meio de um aumento de capital. Caso os minoritários não acompanhem esse aumento, pagando sua parcela da conta, terão sua fatia acionária reduzida.

Os demais esqueletos
Outros cinco problemas do Banespa são levantados pelo relatório.
1) R$ 1 bilhão. O Banesprev é o fundo de pensão do banco criado em 87 e vale para funcionários admitidos desde 75. De 75 a 87, entretanto, não foi feita nenhum recolhimento para pagamento das aposentadorias. O banco tentou contornar esse problema mudando o tipo de benefício a ser pago. Queria que cada funcionário abrisse mão da aposentadoria integral para receber proporcionalmente ao que foi recolhido. Mas, segundo o próprio banco anunciou, apenas 6% dos funcionários aceitaram essa mudança. Para os outros 94%, o banco terá de constituir uma reserva adicional de R$ 1 bilhão. Até agora essa perda não foi reconhecida pela atual administração.
2) R$ 355 milhões. Mesmo depois de ser multado pela Receita Federal em quase R$ 3 bilhões por não ter recolhido impostos sobre as provisões previdenciárias, o Banespa continua sem fazê-lo por considerá-las dedutíveis de imposto. O banco está apelando da multa na Justiça. Em dezembro, o banco aumentou suas reservas em R$ 1,1 bilhão (de R$ 3 bilhões para R$ 4,1 bilhões). Segundo o Santander, o Banespa deve perder a ação e terá de pagar R$ 355 milhões de Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro sobre esse R$ 1,1 bilhão.
3) R$ 400 milhões. Mesmo tendo aumentado de R$ 3 bilhões para R$ 4,1 bilhões a provisão para aposentadoria dos funcionários admitidos até 1975, o Banespa deverá precisar de mais dinheiro nessa conta. O Santander avaliou que um banco privado será ainda mais rigoroso nessa área e acrescentou uma nova dívida de R$ 400 milhões.
4) R$ 500 milhões. Em 96 e 97, o BC não pagou participação nos lucros aos funcionários do Banespa. Os funcionários brigam para receber R$ 1 bilhão na Justiça. O banco até hoje não leva em conta essa eventual despesa. O Santander acredita que o novo dono deverá reservar pelo menos R$ 500 milhões para esse fim.
5) R$ 500 milhões. No início deste ano, o Banco Central anunciou regras mais rígidas para a área de crédito dos bancos. Segundo essas regras, os bancos têm de guardar muito mais dinheiro para cobrir eventuais perdas com empréstimos micados. O Banespa tem R$ 4 bilhões de empréstimos, sendo que metade é para os setores imobiliário e agrícola, que têm alto grau de inadimplência. Segundo o Santander, o Banespa terá de gastar pelo menos R$ 400 milhões para atender a essa nova regra.

Créditos tributários
Quando um banco faz uma reserva para cobrir eventuais perdas futuras como essas, ele gera um crédito tributário. Ou seja, ele ganha o direito de abater impostos no futuro. Em suas contas, o analista do Santander considerou essa possibilidade.
No cenário otimista, em que o rombo do Banespa seria de R$ 2,755 bilhões, ao usar o crédito tributário, o buraco é reduzido a R$ 1,939 bilhão. No cenário pessimista, o rombo de R$ 5,755 bilhões cai para R$ 3,919 bilhões com o abatimento do imposto.
(VANESSA ADACHI)


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