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PRIVATIZAÇÃO
Esqueletos do banco vão exigir aumento de capital a acionistas
Minoritários devem vender
ações do Banespa, diz banco
DA REPORTAGEM LOCAL
Venda suas ações do Banespa. É
esse o conselho dado aos acionistas minoritários do banco no relatório do Banco Santander Central
Hispano.
Esse tipo de relatório elaborado
pelos analistas do mercado de
ações tem como objetivo recomendar a compra, a manutenção
ou a venda de determinada ação
levando em conta o cenário que se
desenha para a empresa em questão.
No caso, o analista do Santander considera que existem seis esqueletos no armário do Banespa
que podem reduzir o valor do
banco, que hoje está em R$ 4,170
bilhões.
"Acreditamos que os acionistas
minoritários irão compartilhar as
perdas escondidas (no Banespa),
mas não irão compartilhar os ganhos escondidos, que só serão
realizados ao longo dos próximos
anos", afirma o texto.
Discretamente, o relatório opina que o comprador do Banespa
terá todo o interesse em trazer à
luz cada problema que encontrar.
Porque assim diluirá a participação dos acionistas minoritários e,
com isso, maximizará seu investimento.
O mecanismo para diluir o minoritário é o seguinte. Para fechar
o buraco, o controlador tem de
injetar mais dinheiro na instituição por meio de um aumento de
capital. Caso os minoritários não
acompanhem esse aumento, pagando sua parcela da conta, terão
sua fatia acionária reduzida.
Os demais esqueletos
Outros cinco problemas do Banespa são levantados pelo relatório.
1) R$ 1 bilhão. O Banesprev é o
fundo de pensão do banco criado
em 87 e vale para funcionários admitidos desde 75. De 75 a 87, entretanto, não foi feita nenhum recolhimento para pagamento das
aposentadorias. O banco tentou
contornar esse problema mudando o tipo de benefício a ser pago.
Queria que cada funcionário
abrisse mão da aposentadoria integral para receber proporcionalmente ao que foi recolhido. Mas,
segundo o próprio banco anunciou, apenas 6% dos funcionários
aceitaram essa mudança. Para os
outros 94%, o banco terá de constituir uma reserva adicional de R$
1 bilhão. Até agora essa perda não
foi reconhecida pela atual administração.
2) R$ 355 milhões. Mesmo depois de ser multado pela Receita
Federal em quase R$ 3 bilhões por
não ter recolhido impostos sobre
as provisões previdenciárias, o
Banespa continua sem fazê-lo por
considerá-las dedutíveis de imposto. O banco está apelando da
multa na Justiça. Em dezembro, o
banco aumentou suas reservas
em R$ 1,1 bilhão (de R$ 3 bilhões
para R$ 4,1 bilhões). Segundo o
Santander, o Banespa deve perder
a ação e terá de pagar R$ 355 milhões de Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro sobre esse R$ 1,1 bilhão.
3) R$ 400 milhões. Mesmo tendo aumentado de R$ 3 bilhões para R$ 4,1 bilhões a provisão para
aposentadoria dos funcionários
admitidos até 1975, o Banespa deverá precisar de mais dinheiro
nessa conta. O Santander avaliou
que um banco privado será ainda
mais rigoroso nessa área e acrescentou uma nova dívida de R$
400 milhões.
4) R$ 500 milhões. Em 96 e 97, o
BC não pagou participação nos
lucros aos funcionários do Banespa. Os funcionários brigam para
receber R$ 1 bilhão na Justiça. O
banco até hoje não leva em conta
essa eventual despesa. O Santander acredita que o novo dono deverá reservar pelo menos R$ 500
milhões para esse fim.
5) R$ 500 milhões. No início
deste ano, o Banco Central anunciou regras mais rígidas para a
área de crédito dos bancos. Segundo essas regras, os bancos têm
de guardar muito mais dinheiro
para cobrir eventuais perdas com
empréstimos micados. O Banespa
tem R$ 4 bilhões de empréstimos,
sendo que metade é para os setores imobiliário e agrícola, que têm
alto grau de inadimplência. Segundo o Santander, o Banespa terá de gastar pelo menos R$ 400
milhões para atender a essa nova
regra.
Créditos tributários
Quando um banco faz uma reserva para cobrir eventuais perdas futuras como essas, ele gera
um crédito tributário. Ou seja, ele
ganha o direito de abater impostos no futuro. Em suas contas, o
analista do Santander considerou
essa possibilidade.
No cenário otimista, em que o
rombo do Banespa seria de R$
2,755 bilhões, ao usar o crédito tributário, o buraco é reduzido a R$
1,939 bilhão. No cenário pessimista, o rombo de R$ 5,755 bilhões
cai para R$ 3,919 bilhões com o
abatimento do imposto.
(VANESSA ADACHI)
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