São Paulo, domingo, 28 de maio de 2000


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PRIVATIZAÇÃO

Estudo encontra esqueletos que torrariam patrimônio do banco e ainda deixariam comprador com dívida de R$ 1,58 bi

Rombo do Banespa pode bater em R$ 5,7 bi


Adriana Zehbrauskas-9.mai.00/Folha Imagem
Venilton Tadini, diretor do Fator, que prepara a venda do Banespa, no data room da instituição


VANESSA ADACHI
DA REPORTAGEM LOCAL

O rombo do Banespa pode ser muito maior do que transpareceu até agora. O buraco total encontrado pelo futuro controlador após sua privatização poderá chegar a R$ 5,755 bilhões.
Isso seria suficiente para consumir todo o patrimônio atual do banco -R$ 4,17 bilhões- e ainda deixar uma conta pendente, a ser paga pelo novo proprietário, de R$ 1,585 bilhão. Ou seja, esse seria o tamanho do patrimônio líquido negativo do banco.
É o que mostra um estudo do Banco Santander Central Hispano distribuído na semana passada a seus clientes.
A Folha obteve uma cópia do relatório, que foi concluído em 19 de maio e, portanto, não utiliza dados do data room -sala com informações estratégicas- do Banespa, que só foi aberto em 22 de maio. O espanhol Santander é um dos nove bancos pré-qualificados para participar do leilão.
Um executivo de outro banco interessado no Banespa, que ainda não havia feito essa conta, concordou com o resultado.
No relatório, o analista Pedro Guimarães, do Santander, calculou o efeito de diversos esqueletos que ainda estão no armário do Banespa, mesmo depois da injeção de R$ 50 bilhões feita em dezembro de 97 para livrar sua carteira de crédito das dívidas podres do Estado de São Paulo. Foi a maior operação de saneamento de um banco já feita no mundo.
O problema que sobrou, e não é pequeno, refere-se a eventuais dívidas trabalhistas e previdenciárias não levadas em conta pelo atual administrador do Banespa, o Banco Central. Outro ponto contra o Banespa é que o BC tornou mais rigorosa a classificação dos empréstimos dos bancos, obrigando-os a fazer maiores reservas de dinheiro para cobrir eventuais micos.
A tese que permeia o estudo, e faz todo o sentido, é que qualquer que seja o comprador do Banespa, ele adotará critérios mais conservadores para as contas do banco. As privatizações anteriores mostraram que sempre que um banco passa das mãos do Estado para um dono privado, critérios mais sólidos são adotados.
Dependendo do grau de conservadorismo adotado pelo novo dono, o rombo no Banespa pode variar de R$ 2,755 bilhões a R$ 5,755 bilhões. O estudo prevê quatro cenários possíveis.
Alguns esqueletos encontrados pelo relatório não são desconhecidos. Mas, pelo menos um deles, é novidade. E trata-se do maior.
O Banespa é o único dos bancos estatais que calcula o valor da reserva do seu fundo de pensão usando uma taxa de desconto de 12%. Para compor hoje uma reserva para o pagamento futuro de aposentadorias, qualquer instituição tem de pegar o valor que vai ser pago lá na frente e trazer a valor presente. Para isso, são descontados os juros que correrão no período. A taxa de juro escolhida para fazer essa conta é chamada taxa de desconto.
Todos os demais bancos estatais, incluindo o Banco do Brasil, já utilizam uma taxa de 6%, considerando esse um número realista para uma economia estável. Quanto menor a taxa de desconto usada, maior o valor da reserva que tem de ser constituída hoje para pagar as aposentadorias.
Na avaliação do Santander, o novo controlador deverá adotar o padrão do mercado e trocar a taxa para 6%. Essa decisão implicará em uma capitalização adicional de R$ 3 bilhões no Banespa, mais de 70% do que o banco vale hoje.
Além desse, o relatório levanta outros cinco problemas potenciais do Banespa.
Nas simulações feitas pelo Santander, a conta a ser paga pelo novo controlador cai bem quando se leva em conta os créditos contra o fisco que o banco poderá gerar ao cobrir esses buracos.
O autor do estudo, o analista Pedro Guimarães, não quis fazer comentários. Ele informou que, desde a abertura do data room, o Santander não está mais produzindo relatórios nem emitindo opiniões sobre o Banespa.


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