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DEPOIS DO "MENSALÃO"
Privatização do IRB abre caminho para maior oferta e variedade de produtos no mercado brasileiro
Abertura deve reduzir o preço dos seguros
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
A abertura do mercado de seguros deverá reduzir os preços e aumentar a oferta e a variedade de
produtos no mercado brasileiro,
especialmente os consumidos pelas famílias.
Para preparar o mercado para
os novos tempos, o IRB (Instituto
de Resseguros do Brasil) vai ampliar as operações de resseguro no
ramo vida, que engloba os seguros de vida, de acidentes pessoais
e de previdência complementar.
As operações de resseguro dessa
carteira movimentaram apenas
R$ 97,2 milhões no ano passado.
Esse valor equivale a 3,4% da receita total de resseguros em 2004.
O resseguro é o seguro das companhias seguradoras. Quando assumem contratos muito altos
-usinas nucleares ou de plataformas de petróleo, por exemplo-, as seguradoras transferem
a maior parte do risco para o IRB,
que o redistribui no exterior.
"Estamos montando um plano
estratégico para ampliar a nossa
capacidade de oferecer resseguro
na área de vida", diz Marcos Lisboa, presidente do IRB.
Essa é a atual prioridade de Lisboa depois de quase cinco meses
em que se dedicou a verdadeira
faxina na instituição. Ele foi colocado à frente do instituto pelo ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), depois que o IRB foi atingido por investigações sobre favorecimento a corretoras e denúncia de que Roberto Jefferson exigia uma mesada de R$ 400 mil do
então presidente do órgão, Lídio
Duarte, apadrinhado do PTB.
Quebrar monopólio
Desde que assumiu, Lisboa passou a preparar a empresa e o mercado para a abertura do setor prevista no projeto de lei complementar, em tramitação no Congresso Nacional, que deverá quebrar o monopólio do IRB na área
de resseguros. "O ramo vida é
uma das grandes áreas de atuação
das resseguradoras internacionais, mas no IRB ele é incipiente."
Na Swiss Re, principal resseguradora da Suíça, por exemplo, essa carteira representou 40% da receita total de resseguros em 2004.
Segundo Lisboa, "desenvolver a
tecnologia de ressegurar produtos de previdência é importante
para que esse sistema possa se expandir ainda mais".
Com o resseguro, as seguradoras transferirão parte dos riscos
dessas apólices para o mercado
internacional, o que lhes dará
possibilidade de, com o mesmo
capital, ampliar suas carteiras.
Lisboa prevê grande crescimento desse ramo nos próximos anos
por conta disso, e também a redução de preços com a massificação
do produto. "Um dos resultados
será precificar melhor os riscos.
Riscos elevados, preços maiores;
riscos menores, preços menores."
Mudanças aplaudidas
Na linha de se antecipar à nova
legislação e preparar o mercado
para a abertura, Lisboa já adotou
várias medidas que vêm sendo
aplaudidas pelas corretoras e resseguradoras que operam no país.
"O processo de aprovação da lei
complementar que vai abrir o
mercado está parado por causa
das CPIs. Mas graças à atuação da
nova direção do IRB o mercado já
está semi-aberto", diz Roberto
Rocha Azevedo, presidente da
Mexbrit, corretora internacional
de resseguros.
Ele destaca a nova política de
colocação de riscos no exterior
adotada pelo IRB que, pela primeira vez, permite que as corretoras e mesmo os clientes delas façam cotações de preços de resseguros diretamente no exterior.
Com essa medida, já houve redução de até 30%, em alguns casos, nas taxas para as empresas
que renovaram seus resseguros
recentemente, segundo Lisboa.
"Antes era o IRB que escolhia a
resseguradora e o corretor. Agora, a área de colocação de risco do
IRB tem de consultar o cliente para ver se ele está de acordo com a
indicação", diz Lisboa.
Recuperar credibilidade
Outra medida aplaudida pelo
mercado segurador foi a iniciativa
do instituto de divulgar as taxas e
os custos embutidos nos resseguros feitos pela instituição.
"O IRB e o mercado de resseguros brasileiro estão recuperando a
credibilidade que haviam perdido", observa Américo Lopes, presidente da Willis Corretora de
Resseguros.
A Willis lidera o consórcio de
três "brokers" que, na última
quinta-feira, ganhou a licitação
para a renovação do contrato de
"Property" (propriedades) do
IRB. Esse é um contrato de resseguro que existe há 16 anos, é renovado anualmente e engloba todos
os seguros de propriedade feitos
no país. É uma espécie de grande
guarda-chuva, onde se abrigam
os seguros feitos por empresas
para proteger suas instalações e
cujos riscos são redistribuídos no
mercado internacional pelo IRB.
É um dos maiores contratos do
gênero no mundo, com capacidade para ressegurar até US$ 240
milhões.
Para dar maior transparência ao
processo de escolha dos "brokers" que vão colocar esse contrato lá fora, houve uma licitação em
que 14 corretoras fizeram propostas e receberam pontuações de
acordo com diversos indicadores
e seu histórico de relação com o
IRB, explica Lisboa.
A maior surpresa, entretanto,
foi a presença no consórcio vencedor da Cooper Gay, uma das
corretoras citadas no relatório da
sindicância interna do próprio
IRB como suspeita de práticas irregulares.
"As corretoras citadas no relatório estão sob investigação dos ministérios públicos Federal e do Estado do Rio, que devem tomar as
medidas legais cabíveis", diz Lisboa. Na sua opinião, o IRB não
poderia vetar a participação dessas empresas na licitação, sob pena de "antecipar uma decisão do
Judiciário e fazer um prejulgamento que poderia expor a empresa a uma ação judicial".
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