São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2005

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Pecuaristas investem em novas técnicas e melhoramento genético

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Na contramão do governo, que contingenciou verbas do programa de sanidade animal, pecuaristas e frigoríficos investiram pesado no melhoramento genético do rebanho e em novas técnicas de processamento da carne.
Pelas contas da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne), os frigoríficos investiram US$ 750 milhões desde 2000 em suas unidades e em tecnologia. A maior parte do dinheiro foi gasta em novos métodos de controle sanitário e novas técnicas de abate de animais, com o objetivo de se enquadrar nas rígidas regras da União Européia e de países do Oriente Médio, dois dos principais destinos da carne brasileira.
O estímulo veio do crescimento das exportações de carnes nos últimos anos, que ganharam impulso com a desvalorização do real de 1999 e só fazem crescer desde então. A Abiec estima que as vendas ao exterior alcancem 2 milhões de toneladas neste ano -isso se a crise da aftosa não se estender por muito tempo. A cada ano, foram aplicados cerca de US$ 150 milhões pelo conjunto dos dez maiores frigoríficos do país.
Já a União segurou recursos para o combate à aftosa. Do orçamento original de R$ 167 milhões da Secretaria de Defesa Agropecuária, a equipe econômica autorizou gastos de R$ 91 milhões neste ano, mas só liberou R$ 30 milhões até a constatação de focos.
O presidente da Abiec, Marcos Vinícius Pratini de Moraes, ex-ministro da Agricultura, porém, evita criticar o contingenciamento: "Não podemos verbalizar muito os problemas porque isso aumenta o grau de desconfiança [dos compradores da carne]".
Não há estatísticas precisas, mas os resultados falam por si: o tempo de abate de um boi caiu de 48 meses em 1996 para de 18 a 24.
Com o menor tempo de abate e a maior produtividade dos frigoríficos, a produção de carne saltou, de acordo com o Anuário da Pecuária Brasileira, de 6,7 milhões de toneladas em 1996 para uma estimativa de 8,3 milhões de toneladas em 2005 -alta de 24%.
Segundo o superintendente de melhoramento genético da ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu), Carlos Henrique Cavallari, houve uma massificação das técnicas de aprimoramento genético nos últimos anos, o que levou à redução dos custos.
Hoje, diz, um fraco de sêmen de boi para corte custa R$ 12 e está acessível a qualquer criador.
Para fazer inseminação artificial, um criador paga um salário mínimo ao veterinário por prenhes. Existem métodos mais avançados que custam mais, como a fertilização em vitro. Há ainda o sêmen "sexado", que permite escolher o sexo do novilho.
Além de ampliar suas plantas de abate, os frigoríficos diversificaram suas atividades. Os dois maiores do país, Friboi e Bertin, passaram a investir em linhas de higiene e limpeza, cujos produtos são feitos a partir do sebo bovino.
O Friboi é dono dos sabonetes Albany e da linha Minuano de detergentes, sabões e outros produtos de limpeza. Já o Bertin tem parceria com a Francis Hydrata e é proprietário das marcas OX, de cosméticos, e da linha de detergentes Brisa.


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