|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESQUELETO
Solução encontrada após dez anos de negociação pode naufragar por causa de rombo de R$ 18 bi nas contas do governo
Acordo para Banco Nacional aumenta dívida pública
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Foram necessários dez anos para o Banco Central e a família Magalhães Pinto começarem a falar a
mesma língua nas negociações
para encerrar a liquidação do Nacional, decretada em 1995. Agora
que eles ensaiam um acordo, a solução que poria fim a um dos
maiores escândalos financeiros
do país esbarra no impacto que o
acerto terá na dívida pública.
Mesmo sem o governo ter que
desembolsar um tostão, o fim da
liquidação do Nacional faria a dívida pública crescer cerca de R$ 18
bilhões. Esse valor corresponde
ao estoque de créditos do antigo
FCVS (Fundo de Compensação
das Variações Salariais) -instrumento criado no final da década
de 60 para cobrir resíduos de financiamentos habitacionais-
que estão na massa falida do banco e seriam usados para pagar a
dívida da instituição com o BC.
Os créditos são o principal ativo
do Nacional e servem de garantia
ao empréstimo concedido pelo
BC no âmbito do Proer, o programa de socorro a bancos com dificuldade de caixa. Atualmente, o
estoque de créditos do FCVS do
Nacional é de R$ 20 bilhões.
O problema é que a maior parte,
algo próximo a R$ 18 bilhões, ainda não foi oficialmente contabilizada na dívida pública e consta
como esqueleto, débitos que o governo sabe que existem, mas não
emitiu os títulos correspondentes.
Esses valores, porém, estão registrados na contabilidade do BC.
Segundo a Folha apurou, um
acordo para encerrar a liquidação
do Nacional teria que passar pelo
reconhecimento oficial desses
créditos, o que faria o estoque da
dívida pública subir. Isso deverá
dificultar um desfecho para o caso, já que a Fazenda não admite
gerar um impacto dessa magnitude de uma única vez.
Nos últimos anos, o governo federal vem promovendo um grande esforço para conter gastos e aumentar receitas, como forma de
economizar dinheiro, que é utilizado para reduzir o endividamento público. A incorporação desses
créditos na dívida jogaria por terra boa parte do ajuste fiscal.
É justamente por isso que a contabilização oficial desses créditos
vem sendo feita gradualmente. O
processo para emissão dos títulos
é longo. Normalmente, com o fim
dos contratos originais de financiamento habitacional cobertos
pelo FCVS, todos os bancos que
concederam os empréstimos podem se habilitar na Caixa Econômica Federal para receber o crédito, que equivale ao resíduo remanescente do contrato com o mutuário gerado pela diferença na
correção do valor da prestação e
do saldo devedor.
Esse processo serve para verificar se os empréstimos estão dentro das regras. A lei do FCVS só
permite, por exemplo, a cobertura de um financiamento por mutuário. Segundo o governo, alguns bancos concederam até nove financiamentos para a mesma
pessoa. Nesse caso, a área técnica
da Caixa irá reconhecer o crédito
em só uma dessas operações.
Reconhecida a dívida, o banco
entra na fila para aguardar o Tesouro emitir os CVS, títulos correspondentes ao total devido pelo
FCVS. Esses papéis têm data de
vencimento somente em 2027,
mas a partir deste ano começaram a pagar juros mensais.
Caso sem solução
O problema com os créditos do
FCVS não tinha sido levantado
antes porque o Nacional era considerado pelo governo "um caso
sem solução". Com uma dívida de
cerca de R$ 14 bilhões somente
com o BC e as divergências sérias
com os antigos controladores, o
Nacional era tido como prejuízo
certo para os cofres públicos.
No entanto, nos últimos meses,
a sinalização por parte da família
Magalhães Pinto de que estaria
disposta a aceitar o entendimento
do BC de que a dívida seria atualizada por uma taxa superior à variação da TR (Taxa Referencial),
usada nos casos de falência, possibilitou a retomada das conversas.
A disputa sempre foi porque o
BC entendia que a dívida, por ter
garantias reais, deveria ser corrigida por juros de mercado, até o
limite das garantias. Com isso,
não sobraria nada para a família.
Como, com o passar do tempo, os
créditos do FCVS passaram a ser
atualizados por um valor superior
à TR, a família lutava para ter o direito de pagar a dívida corrigida
pela TR enquanto os créditos se
valorizavam.
Hoje, os Magalhães Pinto já admitem "sair no zero a zero", segundo informou à Folha um dos
envolvidos nas negociações, e isso
teria possibilitado a retomada das
conversas suspensas em 2002.
Mas um desfecho para o caso precisará do aval da Fazenda.
Texto Anterior: Boas notas: Preço de ações de empresas do país não segue alta dos lucros Próximo Texto: Acerto para encerrar liquidação foi arquivado pelo BC em 2002 Índice
|