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BOAS NOTAS
Perspectiva do investidor para o mercado também pesa no valor dos papéis
Preço de ações de empresas do
país não segue alta dos lucros
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar de todas as melhoras no
que o mercado chama de "fundamentos" das empresas -endividamento, receitas, lucratividade-, os preços das ações não
acompanharam a alta dos lucros.
A relação entre preço e lucro
dos papéis incluídos no Ibovespa
não aumentou. Pelo contrário,
desde 2000, mostra estudo da
Economática, a tendência dessa
relação é de queda.
"A relação preço/lucro no mercado brasileiro não está acima dos
níveis históricos. Aliás, na prática,
está nos níveis mais baixos já registrados", diz Fernando Exel,
presidente da Economática.
O índice que relaciona preço e
lucro é obtido pela divisão da cotação das ações das empresas pelo
lucro registrado nos 12 meses anteriores. No caso do mercado brasileiro, ele chegou a 20 no primeiro semestre de 2000. Neste mês,
estava em 10.
A queda não é exatamente uma
má notícia, nota Exel. Ela pode
simplesmente significar que, depois de uma temporada de bons
resultados, os investidores não esperam por mais aumentos de lucros e, portanto, não estão dispostos a pagar mais pelos papéis.
"Mas também significa que o preço das ações não está esticado. O
índice Ibovespa pode estar próximo a níveis recordes, mas o valor
das ações, não", explica o presidente da Economática.
Os "fundamentos" contam, diz
Luis Fernando Lopes, do Banco
Pátria, mas não são o único fator
que influi na formação dos preços
das ações. Nas últimas semanas,
segundo ele, mudou também o
sentimento dos investidores. De
um cenário extremamente positivo, as avaliações passaram a ser
neutras. Não é exatamente um cenário ruim, diz, tampouco contribui para alimentar altas no mercado acionário.
"Houve uma migração do otimismo para a neutralidade. A
aversão ao risco do investidor estrangeiro começou a mudar, falta
apetite pelos papéis", completa o
economista do Banco Pátria.
Também é verdade que os papéis brasileiros estão mais caros.
Outro levantamento da Economática mostra que o poder de
compra do dólar no mercado nacional está, hoje, em níveis próximos aos observados no período
imediatamente anterior à desvalorização cambial de 1999. Ou seja, um dólar compra hoje, no Brasil, praticamente a mesma cesta
de bens ou ativos que comprava
naquele período.
Uma amostra do quanto o câmbio influi no preços dos ativos: o
Ibovespa (principal índice da Bolsa paulista) subiu 11,37% desde o
início do ano até sexta-feira. Já em
dólares, a valorização chega a
31,7%. Como o valor da moeda
dos EUA caiu, um investidor que
entrou no começo do ano e saiu
agora obteve mais dólares ao vender suas ações em reais.
Apesar de toda a valorização do
real e, portanto, do encarecimento dos papéis brasileiros, o saldo
de investimento estrangeiro na
Bolsa continua positivo no ano.
Nas últimas semanas, a tendência
era de venda, mas não houve um
movimento generalizado de saída
de estrangeiros. Na semana passada, relatam alguns operadores
consultados pela Folha, houve até
certa calmaria, com os estrangeiros deixando de vender.
Preocupação internacional
Por enquanto, o que parece estar influenciando mais as ações
não é o desempenho das empresas brasileiras, mas as preocupações em torno do mercado internacional. Os investidores sabem
que a alta liquidez no mercado
global, em geral, e do emergente,
em particular, é inédita e não deve
se prolongar indefinidamente.
Cedo ou tarde, juros mais altos
nos Estados Unidos e uma maior
aversão ao risco deverão ter impactos mais ou menos negativos
no Brasil e, fatalmente, levar a
ajuste nos preços, seja das ações
ou do dólar.
"Os estrangeiros compraram a
idéia de que o país ficou estável e
que, por isso, o câmbio não vai oscilar. Mas nós, que temos "experiência de Brasil", sabemos que
não é bem assim", conclui Lopes.
(MARCELO BILLI)
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