São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2005

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BOAS NOTAS

Perspectiva do investidor para o mercado também pesa no valor dos papéis

Preço de ações de empresas do país não segue alta dos lucros

DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de todas as melhoras no que o mercado chama de "fundamentos" das empresas -endividamento, receitas, lucratividade-, os preços das ações não acompanharam a alta dos lucros.
A relação entre preço e lucro dos papéis incluídos no Ibovespa não aumentou. Pelo contrário, desde 2000, mostra estudo da Economática, a tendência dessa relação é de queda.
"A relação preço/lucro no mercado brasileiro não está acima dos níveis históricos. Aliás, na prática, está nos níveis mais baixos já registrados", diz Fernando Exel, presidente da Economática.
O índice que relaciona preço e lucro é obtido pela divisão da cotação das ações das empresas pelo lucro registrado nos 12 meses anteriores. No caso do mercado brasileiro, ele chegou a 20 no primeiro semestre de 2000. Neste mês, estava em 10.
A queda não é exatamente uma má notícia, nota Exel. Ela pode simplesmente significar que, depois de uma temporada de bons resultados, os investidores não esperam por mais aumentos de lucros e, portanto, não estão dispostos a pagar mais pelos papéis. "Mas também significa que o preço das ações não está esticado. O índice Ibovespa pode estar próximo a níveis recordes, mas o valor das ações, não", explica o presidente da Economática.
Os "fundamentos" contam, diz Luis Fernando Lopes, do Banco Pátria, mas não são o único fator que influi na formação dos preços das ações. Nas últimas semanas, segundo ele, mudou também o sentimento dos investidores. De um cenário extremamente positivo, as avaliações passaram a ser neutras. Não é exatamente um cenário ruim, diz, tampouco contribui para alimentar altas no mercado acionário.
"Houve uma migração do otimismo para a neutralidade. A aversão ao risco do investidor estrangeiro começou a mudar, falta apetite pelos papéis", completa o economista do Banco Pátria.
Também é verdade que os papéis brasileiros estão mais caros. Outro levantamento da Economática mostra que o poder de compra do dólar no mercado nacional está, hoje, em níveis próximos aos observados no período imediatamente anterior à desvalorização cambial de 1999. Ou seja, um dólar compra hoje, no Brasil, praticamente a mesma cesta de bens ou ativos que comprava naquele período.
Uma amostra do quanto o câmbio influi no preços dos ativos: o Ibovespa (principal índice da Bolsa paulista) subiu 11,37% desde o início do ano até sexta-feira. Já em dólares, a valorização chega a 31,7%. Como o valor da moeda dos EUA caiu, um investidor que entrou no começo do ano e saiu agora obteve mais dólares ao vender suas ações em reais.
Apesar de toda a valorização do real e, portanto, do encarecimento dos papéis brasileiros, o saldo de investimento estrangeiro na Bolsa continua positivo no ano. Nas últimas semanas, a tendência era de venda, mas não houve um movimento generalizado de saída de estrangeiros. Na semana passada, relatam alguns operadores consultados pela Folha, houve até certa calmaria, com os estrangeiros deixando de vender.

Preocupação internacional
Por enquanto, o que parece estar influenciando mais as ações não é o desempenho das empresas brasileiras, mas as preocupações em torno do mercado internacional. Os investidores sabem que a alta liquidez no mercado global, em geral, e do emergente, em particular, é inédita e não deve se prolongar indefinidamente. Cedo ou tarde, juros mais altos nos Estados Unidos e uma maior aversão ao risco deverão ter impactos mais ou menos negativos no Brasil e, fatalmente, levar a ajuste nos preços, seja das ações ou do dólar.
"Os estrangeiros compraram a idéia de que o país ficou estável e que, por isso, o câmbio não vai oscilar. Mas nós, que temos "experiência de Brasil", sabemos que não é bem assim", conclui Lopes.
(MARCELO BILLI)


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