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OPINIÃO ECONÔMICA
Os juros e o câmbio
JOSÉ ALEXANDRE SCHEINKMAN
Nas últimas semanas, o
Banco Central tem sido um
assíduo comprador de dólares. A
versão oficial é que as intervenções
visam aumentar as reservas internacionais do Brasil e que o BC não
está procurando controlar a taxa
de câmbio.
Não é simples determinar o nível
adequado de reservas internacionais para um país. Na teoria, um
país com regime de câmbio flutuante não necessita reservas, e o
governo e o banco central devem
ficar fora do mercado de câmbio.
Na prática, a teoria é outra. Países
com moeda flutuante mantêm reservas para diminuir a volatilidade do câmbio nos momentos de
crise.
Há muita controvérsia sobre a
efetividade das intervenções, principalmente num momento de crise,
mas a prudência recomenda a manutenção de reservas. Nem a teoria
nem a experiência empírica, no entanto, dão recomendações precisas
sobre o nível de reservas que um
país necessita.
Segundo alguns indicadores, as
reservas atuais do Brasil parecem
mais do que adequadas. No final
de 2004, essas reservas, descontada
a dívida com o FMI, totalizavam
US$ 27,5 bilhões, mas em agosto
deste ano já ultrapassavam US$ 40
bilhões. Hoje, as reservas provavelmente excedem US$ 43 bilhões e
representam mais de 20% da dívida externa e duas vezes e meia a
dívida externa de curto prazo. Por
essa razão, muitos observadores
acreditam que as intervenções do
BC devem-se mais a um objetivo
de diminuir o ritmo da subida do
real do que a uma preocupação
com insuficiência de reservas.
O BC e o governo estariam
apreensivos sobre o futuro das exportações brasileiras. Essa não é
uma inquietação absurda. O Brasil
tem uma história muito curta de
câmbio flutuante, mas, em países
para os quais temos bons dados,
aumentos do câmbio real foram
em geral seguidos, dentro de dois
anos, por uma deterioração na balança comercial.
Mas é preciso considerar também os custos dessas reservas.
Quando um banco central compra
moeda estrangeira usando moeda
local, a base monetária expande.
Numa situação, como a do Brasil,
em que se está utilizando a política
monetária para diminuir a inflação, o BC vende títulos para contrair de novo a base monetária.
Dessa forma, a contrapartida às
reservas é o aumento da dívida.
Com a Selic a 14% em termos reais
e as reservas rendendo provavelmente menos de 2% reais, cada
US$ 1 de reserva custa US$ 0,12 por
ano ao país. O BC age como um cidadão que toma um empréstimo
com cheque especial e guarda o dinheiro em casa. Pode até ser útil
para uma emergência, mas que
não é recomendável que o faça em
grandes montantes. Os US$ 43 bilhões de reservas têm hoje um custo
anual de cerca de US$ 5 bilhões, o
que excede 0,6% do PIB.
O real se beneficia neste momento de condições favoráveis na economia mundial, da melhoria da
balança de pagamentos nos últimos anos e do aumento generalizado de confiança no Brasil. Mas a
sua valorização se explica também
pelo desejo dos investidores internacionais de se aproveitarem de
taxas de juros extraordinárias para os padrões globais de hoje.
A solução para esses problemas
não é criar novas distorções com o
controle do fluxo de capitais, mas
acelerar o processo de queda de taxas de juros. Com taxas mais baixas, diminuiria o influxo de capitais de curto prazo, o que atenuaria a valorização do real. Além disso, o custo de manter reservas cairia. A taxa de câmbio é um motivo
adicional para uma política monetária mais racional.
PS: Esta Folha publicou na
quinta um artigo de um sr. Francini, diretor da Fiesp, em resposta à
minha última coluna. O artigo repete as lamúrias fiespianas, mas
não discute a questão da proteção
efetiva. A única nova informação é
que a Fiesp defende o que "acredita ser o melhor para o país", o que
só por uma feliz coincidência é
também aquilo que aumenta o lucro dos seus associados.
José Alexandre Scheinkman, 57, professor de economia na Universidade Princeton (EUA), escreve quinzenalmente aos
domingos nesta coluna.
E-mail -
jose.scheinkman@gmail.com
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