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BOAS NOTAS
Menos endividadas, companhias brasileiras nunca estiveram tão bem posicionadas, dizem agências de classificação de risco
Empresas atingem sua melhor avaliação
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
As empresas brasileiras nunca
foram tão bem avaliadas. Pelo
menos não as que se sujeitam ao
crivo das agências de classificação
de risco. No último trimestre, elas
passaram por uma onda de melhora nas notas atribuídas aos
seus papéis, resultado previsível
dado o crescimento das receitas, a
elevação dos lucros e a redução no
endividamento.
É difícil traçar um histórico das
notas do conjunto de empresas
avaliadas. O universo das companhias que estão dispostas a pagar
para passar pelo escrutínio das
agências cresceu. Não há histórico
para uma boa parte delas. Mas,
observa Ricardo Carvalho, diretor
de corporates da Fitch Ratings,
"dadas as condições que temos
hoje, talvez seja o melhor momento das empresas".
Carvalho agregou o resultado
de 50 empresas avaliadas pela
agência. Os resultados: o Ebitda
(sigla em inglês para lucros antes
de juros, impostos, depreciação e
amortização) do grupo cresceu de
forma sustentada desde 2000.
Chegou, em junho de 2005, a
R$ 136 bilhões anualizados. A relação entre o caixa das empresas e
a dívida de curto prazo, que era de
0,67 em 2002, chegou, neste ano, a
1,29. Traduzindo: o caixa é mais
do que suficiente para pagar as dívidas de curto prazo.
Caiu a relação entre a dívida e o
Ebitda, ao mesmo tempo em que
o pagamento de juros ficou relativamente menor.
"As empresas têm a mais forte
posição de caixa dos últimos cinco anos", afirma Carvalho.
Condições robustas
As empresas, diz o analista, têm
"condições de liquidez mais robustas", ou seja, mais dinheiro sobrando para enfrentar dificuldades. "Algo que é importante em
um país sujeito à volatilidade",
ressalta o diretor da Fitch. A dívida em dólares diminuiu, o que
torna as empresas ainda menos
vulneráveis às oscilações do câmbio, completa.
Aloisio Campelo, coordenador
de pesquisas econômicas da FGV
(Fundação Getulio Vargas), lembra que a melhora não está restrita ao universo de empresas analisadas pela agência. Pesquisa da
instituição com análise do balanço de 195 empresas brasileiras
também detecta redução do endividamento e do pagamento de juros e aumento da rentabilidade e
da receita das companhias.
A receita, medida pela mediana
da amostra de empresas, aumentou 10,9% do primeiro semestre
do ano passado para o deste ano.
A rentabilidade subiu de 10% para 12%. O pagamento de juros
caiu de R$ 16 bilhões para R$ 10
bilhões no mesmo período. "As
empresas estão com mais recursos próprios", diz Campelo.
"As empresas estão mais integradas ao mercado internacional.
A economia está mais estável.
Dentro desse cenário, o retorno
do investimento é razoável, ele
melhora, e os "ratings" também
têm que melhorar", diz Ingo Plöger, gerente de investimentos da
Apex (Agência de Promoção de
Exportações e Investimentos).
Por um lado, os resultados das
empresas melhoraram. Por outro,
sobra dinheiro no mercado de
crédito internacional. O resultado
só poderia ser uma melhora generalizada nas condições de financiamento. E, também, da avaliação de risco das companhias.
Logo após anunciar melhora da
nota atribuída aos papéis do governo brasileiro, a Moody's elevou, na semana passada, as notas
da CSN e da Votorantim Overseas
Trading, subsidiária do Grupo
Votorantim. A perspectiva para a
Vale do Rio Doce foi alterada de
"estável" para "positiva".
A Fitch, uma semana antes, divulgara uma lista com mais de
uma dúzia de empresas cujos papéis emitidos em moeda estrangeira passavam a ter perspectiva
positiva ou nota elevada. Pouco
antes, a Standard & Poor's anunciava que os papéis da Vale passavam a ser classificados como "títulos com grau de investimento".
Mas a qualidade do crédito, seja
para empresas ou países, melhorou em todo o mundo emergente,
relata a S&P. No trimestre passado, 2% das instituições analisadas
pela empresa sofreram rebaixamentos, a menor taxa desde o segundo trimestre de 1996. O número de elevações supera o de redução nas notas há nove trimestres.
"As perspectivas no curto prazo
para a qualidade de crédito ainda
são positivas, com mais emissores
do mercado emergente com viés
positivo do que negativo, ao contrário do que ocorre no mundo
desenvolvido", observa Diane
Vazza, da S&P.
Especulação
Quase metade das 28 elevações
do mundo emergente ocorreu no
universo de empresas e países que
a S&P chama de "segmento especulativo". Segmento, aliás, do
qual fazem parte o Brasil e a maior
parte das empresas brasileiras. Na
América Latina, Brasil e México
respondem por metade dos emissores analisados pela agência. Foi
justamente o avanço na qualidade
de crédito nos dois países que levou à melhora na região. O Brasil,
revela o relatório, é o país com o
maior número de emissores da
região que podem se beneficiar de
elevações do "rating".
Em relatório da semana passada, a Moody's mostrou que a melhora foi generalizada no terceiro
trimestre deste ano. O número de
elevações anunciadas pela agência no período foi 62% maior do
que o de rebaixamentos. A taxa é
maior do que a registrada no segundo trimestre, de 52%. A região
em que ocorreram relativamente
mais melhoras de notas foi justamente a América Latina, onde as
elevações superam em seis vezes o
número de quedas no rating.
A previsão da Moody's, no entanto, é que o ritmo de melhora
deve diminuir a partir dos próximos trimestres. "De maneira geral, há mais revisões de rebaixamento ou de perspectiva negativa
do que de elevação ou perspectiva
positiva", diz Praveen Varma, vice-presidente da agência, em relatório divulgado há duas semanas.
Mas, boa notícia para o Brasil e
para os demais países emergentes, há diferenças grandes entre as
regiões. A América Latina é a região em que, diz a Moody's, o número de empresas ou países que
podem ter sua nota melhorada é
maior do que o dos que podem
ser rebaixados.
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