São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 1997.

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TEORIA ECONÔMICA
Economista James Montier afirma que ``tigres'' têm pouco de original para ensinar aos brasileiros
Sucesso do `milagre' asiático está na gestão

ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local

A Ásia tem muito pouco de original a ensinar ao Brasil e aos países latino-americanos sobre crescimento, a não ser repetir os mesmos e surrados conceitos oferecidos pelos modelos econômicos neo-clássicos.
Em outras palavras, as economias que querem alcançar as altas taxas de crescimento obtidas pelos países do sudeste asiático devem procurar apoio nos fundamentos da teoria econômica: aumentar as taxas de poupança e de investimento.
A opinião é do economista inglês James Montier, que após anos de estudo das economias dos ``tigres asiáticos'', se dedica agora a estudar a economia dos países latino-americanos no departamento de pesquisas do grupo financeiro Dresdner Kleinwort Benson, de Londres.
Na esteira do economista norte-americano Paul Krugman, Montier tem causado arrepios nos mercados com artigos e palestras que visam a derrubar dois mitos sobre o chamado ``milagre econômico'' dos tigres asiáticos.
Em primeiro lugar, diz que ``não houve milagre algum'', porque o bem-sucedido desempenho econômico dos países asiáticos poderia ter sido previsto por qualquer economista familiarizado com os modelos clássicos de crescimento econômico.
Em segundo, qualifica como ``uma falácia'' o mito segundo o qual o sucesso de crescimento dos países asiáticos é baseado nas exportações.

Educação
Montier, que virá ao Brasil no mês que vem para reuniões no Ministério da Fazenda e Banco Central, diz que o ministro Pedro Malan (Fazenda) e os demais formuladores da política econômica no Brasil e América Latina não devem se admirar com o ``desempenho miraculoso'' da Ásia.
Para ele, o foco da política econômica deve ser o aumento do emprego de forma quantitativa (reduzindo o setor informal) e qualitativa (investindo em educação). Ao lado disso, devem adotar diretrizes para encorajar tanto a poupança quanto o investimento.
Montier diz que, para alcançar as taxas asiáticas de crescimento, o Brasil precisa estimular a poupança do setor privado e reduzir a ``despoupança'' do setor público (o déficit fiscal).

Exportação
Montier discorda da crença generalizada segundo a qual o modelo asiático é também um milagre de exportação.
``Isso não é verdade. O sucesso das exportações da Ásia é baseado num surto de investimento'', afirma o economista.
Para ele, a Coréia e Taiwan são bons exemplos disso. São países que levaram a cabo mudanças fundamentais, passando de uma situação de economias muito fechadas para muito abertas.
``Com isso, atraíram grande volume de capital estrangeiro, que lá fez plataformas de exportação, provocando primeiro um surto de importações de máquinas e equipamentos e, depois, um surto de exportações'', disse.
Segundo Montier, aí está a lição para o Brasil, que nada tem a ver com milagres, mas com gestão econômica.

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