São Paulo, Domingo, 21 de Novembro de 1999
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Frango sobe e complica negociação

FÁTIMA FERNANDES
LUCIA REGGIANI

da Reportagem Local As negociações de preços entre supermercados e seus fornecedores estão mais tensas nos últimos dias. Desta vez, o maior foco de desentendimento é a carne de frango, que subiu 36,4% de setembro até agora no atacado, segundo os produtores.
Para o consumidor, o aumento do preço do frango soma 7,9% nos últimos 30 dias terminados em 15 deste mês, nas contas da Fipe. Mas, no que depender dos produtores e da indústria avícola, o brasileiro vai pagar ainda mais caro pelo frango.
A Seara, do grupo argentino Bunge, reajustou o preço do frango em 20% para o comércio nos últimos 30 dias -de R$ 1,25 para R$ 1,50 o quilo. A necessidade total de reajuste chega a 45%, afirma Sérgio Roberto Waldrich, vice-presidente.
Os grandes culpados pela alta são o milho e o farelo de soja, componentes da ração das aves, que subiram por conta de produção e estoques baixos, seca e alta de preços no mercado externo.
A Seara, que pagava R$ 8 pela saca de 60 kg de milho em julho, agora desembolsa R$ 14,50, ou 81% mais. O farelo de soja, que custava R$ 169 por tonelada em janeiro, já está em R$ 332, com alta de 96%. "Como a ração representa 52% do custo do frango, não tivemos outra alternativa e elevamos os preços", diz Waldrich.
Por conta dos reajustes, as vendas esfriaram, mas não a ponto de alterar os preços. "Quem não pagar não vai levar. A indústria precisa repassar os custos para manter a produção", afirma Waldrich.
Nas contas de Clóvis Puperi, diretor-executivo da UBA (União Brasileira dos Avicultores), o preço do frango vai continuar subindo até atingir de R$ 1,60 a R$ 1,70 no atacado, e de R$ 1,80 a R$ 1,90 no varejo. Isso porque ainda não foram repassados na íntegra os aumentos de custos.
"O frango chega ao ponto de corte no período de 40 a 45 dias. O que está chegando hoje ao supermercado já começou a ser engordado com ração mais cara", explica Puperi.
O grupo português Sonae, dono das redes de supermercados Mercadorama, Big e Cândia, diz que aumentou em 20% o preço do frango inteiro e em 11% o do frango em cortes. Imediatamente, percebeu uma queda nas vendas, ainda não quantificada.
"O que é possível, negociamos", diz César Boulos, diretor de marketing do grupo Sonae. "Os produtos cujos reajustes não se justificam nós vamos substituir."
No caso do frango, o diretor da UBA diz que não está havendo grandes dificuldades para reajustes. "Os supermercados entendem que, se não repassarem os custos, o produtor não vai repor os pintinhos", afirma Puperi.
O que ajuda os supermercados a brecar os reajustes reivindicados pela indústria é a demanda, ainda menor do que a do ano passado. O faturamento real (descontada a inflação medida pelo IGP) do setor no país acumula queda de 2,88% de janeiro a outubro em relação ao mesmo período do ano anterior.
Mesmo com o tradicional aumento das vendas no final de ano, José Humberto Pires de Araújo, presidente da Abras (Associação Brasileira dos Supermercados), prevê queda de 1,5% no faturamento do setor neste ano comparado a 1998.
Nos supermercados paulistas, a previsão é fechar o mês com vendas 3% inferiores às de outubro. "Quem é esperto não vai repassar preço", diz Omar Assaf, presidente da Apas (Associação Paulista dos Supermercados).
Por conta da baixa demanda, outros produtos começam a perder o fôlego de alta. O presidente da Abras diz que, na área de higiene e limpeza, os pedidos de aumento de preços variam de 3% a 8%. Nos importados, como bacalhau e azeite, o pedido é de 10%.
Na área de sabão em pó, a Gessy Lever diz que sua tabela de preços de agosto continua em vigor. Desde o início do ano, a empresa reajustou seus detergentes em 16%, por conta da alta do dólar e do petróleo. "Não repassamos todos os custos porque temos muita eficiência produtiva", afirma Antonio Kriegel, diretor da empresa.
A necessidade de reajustes da indústria é da ordem de 28% a 30%, nos cálculos da Abipla (reúne os fabricantes de produtos de limpeza).
Até agora, as indústrias repassaram 17% a 18%, segundo Ronald Rodrigues, presidente da Abipla.


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