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Frango sobe e complica negociação
FÁTIMA FERNANDES
LUCIA REGGIANI
da Reportagem Local
As negociações de preços entre
supermercados e seus fornecedores estão mais tensas nos últimos
dias. Desta vez, o maior foco de
desentendimento é a carne de
frango, que subiu 36,4% de setembro até agora no atacado, segundo os produtores.
Para o consumidor, o aumento
do preço do frango soma 7,9%
nos últimos 30 dias terminados
em 15 deste mês, nas contas da Fipe. Mas, no que depender dos
produtores e da indústria avícola,
o brasileiro vai pagar ainda mais
caro pelo frango.
A Seara, do grupo argentino
Bunge, reajustou o preço do frango em 20% para o comércio nos
últimos 30 dias -de R$ 1,25 para
R$ 1,50 o quilo. A necessidade total de reajuste chega a 45%, afirma
Sérgio Roberto Waldrich, vice-presidente.
Os grandes culpados pela alta
são o milho e o farelo de soja,
componentes da ração das aves,
que subiram por conta de produção e estoques baixos, seca e alta
de preços no mercado externo.
A Seara, que pagava R$ 8 pela
saca de 60 kg de milho em julho,
agora desembolsa R$ 14,50, ou
81% mais. O farelo de soja, que
custava R$ 169 por tonelada em
janeiro, já está em R$ 332, com alta de 96%. "Como a ração representa 52% do custo do frango, não
tivemos outra alternativa e elevamos os preços", diz Waldrich.
Por conta dos reajustes, as vendas esfriaram, mas não a ponto de
alterar os preços. "Quem não pagar não vai levar. A indústria precisa repassar os custos para manter a produção", afirma Waldrich.
Nas contas de Clóvis Puperi, diretor-executivo da UBA (União
Brasileira dos Avicultores), o preço do frango vai continuar subindo até atingir de R$ 1,60 a R$ 1,70
no atacado, e de R$ 1,80 a R$ 1,90
no varejo. Isso porque ainda não
foram repassados na íntegra os
aumentos de custos.
"O frango chega ao ponto de
corte no período de 40 a 45 dias. O
que está chegando hoje ao supermercado já começou a ser engordado com ração mais cara", explica Puperi.
O grupo português Sonae, dono
das redes de supermercados Mercadorama, Big e Cândia, diz que
aumentou em 20% o preço do
frango inteiro e em 11% o do frango em cortes. Imediatamente,
percebeu uma queda nas vendas,
ainda não quantificada.
"O que é possível, negociamos",
diz César Boulos, diretor de marketing do grupo Sonae. "Os produtos cujos reajustes não se justificam nós vamos substituir."
No caso do frango, o diretor da
UBA diz que não está havendo
grandes dificuldades para reajustes. "Os supermercados entendem que, se não repassarem os
custos, o produtor não vai repor
os pintinhos", afirma Puperi.
O que ajuda os supermercados
a brecar os reajustes reivindicados pela indústria é a demanda,
ainda menor do que a do ano passado. O faturamento real (descontada a inflação medida pelo
IGP) do setor no país acumula
queda de 2,88% de janeiro a outubro em relação ao mesmo período do ano anterior.
Mesmo com o tradicional aumento das vendas no final de ano,
José Humberto Pires de Araújo,
presidente da Abras (Associação
Brasileira dos Supermercados),
prevê queda de 1,5% no faturamento do setor neste ano comparado a 1998.
Nos supermercados paulistas, a
previsão é fechar o mês com vendas 3% inferiores às de outubro.
"Quem é esperto não vai repassar
preço", diz Omar Assaf, presidente da Apas (Associação Paulista
dos Supermercados).
Por conta da baixa demanda,
outros produtos começam a perder o fôlego de alta. O presidente
da Abras diz que, na área de higiene e limpeza, os pedidos de aumento de preços variam de 3% a
8%. Nos importados, como bacalhau e azeite, o pedido é de 10%.
Na área de sabão em pó, a Gessy
Lever diz que sua tabela de preços
de agosto continua em vigor. Desde o início do ano, a empresa reajustou seus detergentes em 16%,
por conta da alta do dólar e do petróleo. "Não repassamos todos os
custos porque temos muita eficiência produtiva", afirma Antonio Kriegel, diretor da empresa.
A necessidade de reajustes da
indústria é da ordem de 28% a
30%, nos cálculos da Abipla (reúne os fabricantes de produtos de
limpeza).
Até agora, as indústrias repassaram 17% a 18%, segundo Ronald
Rodrigues, presidente da Abipla.
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