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ARTIGO
Desvalorizar traria problemas
PAUL KRUGMAN
As informações sobre o relatório do Tesouro que condena a política cambial chinesa
provavelmente causaram estranheza entre os leitores. A questão
também confunde os economistas profissionais. Mas permita-me
tentar explicar o que ocorre.
Ao longo dos últimos anos, a
China vem agindo como facilitadora tanto da irresponsabilidade
fiscal dos EUA quanto de mania
especulativa no mercado da habitação. Agora, o governo norte-americano enfim começa a admitir que há um problema -mas
que ele é da China, não nosso.
Não há sinal de que alguém no
governo esteja vendo que a economia americana se tornou dependente de empréstimos a juros
baixos da China e de outros governos, e é provável que tenha
problemas quando eles não estiverem disponíveis.
A China vem recebendo enorme corrente de dinheiro, tanto
devido ao seu superávit comercial
quanto ao investimento de companhias ocidentais e japonesas.
Esse influxo se corrigiria automaticamente: tanto o superávit comercial chinês quanto o investimento estrangeiro forçariam alta
do yuan, tornando as exportações
do país menos competitivas.
Mas o governo chinês, que não
quer permitir que isso ocorra,
manteve baixa a cotação do yuan
com transações que devolvem para fora do país o dinheiro que entra, pela compra de enorme volume de ativos em dólares. E os
EUA se tornaram dependentes
disso. Compras de dólares pela
China e por outros governos isolaram a economia americana dos
efeitos dos déficits orçamentários
que o país vem acumulando. O dinheiro que vem do exterior manteve baixas as taxas de juros americanas a despeito da enorme captação que o governo tem feito para cobrir seu déficit.
As baixas taxas de juros, em resumo, se tornaram cruciais para o
boom da habitação nos EUA.
Assim, por que o governo dos
EUA está reclamando? O relatório
do Tesouro nada diz sobre a maneira que a política cambial chinesa afeta os EUA -tudo o que
oferece, sobre o aspecto interno
do problema, são lisonjas às decisões do governo. O estudo se concentra nas desvantagens da política chinesa para os chineses. E desde quando isso é uma preocupação importante para os EUA?
Na realidade, é evidente que o
governo não se preocupa nada
com a economia da China. Está se
queixando do yuan devido a pressões políticas dos industriais norte-americanos, incomodados
com os superávits comerciais chineses. Assim, é tudo política. E esse é o problema: quando as decisões estratégicas são tomadas por
motivos só políticos, ninguém
pondera a fundo quanto às conseqüências reais que elas terão.
Eis o que eu acredito que se dará
quando e se a China alterar sua
política cambial: as taxas de juros
americanas subirão; a bolha no
mercado de habitação explodirá;
o emprego na construção civil e o
consumo cairão; a queda nos preços dos imóveis residenciais pode
gerar uma onda de falências.
Não estou dizendo que deveríamos tentar manter as coisas como
estão. Afinal, um dia a China vai
deixar de comprar dólares sem
que ninguém o peça. Além disso,
em longo prazo, acabar com a dependência das compras de dólar
por estrangeiros dará economia
mais saudável. Alta no yuan e nas
demais moedas asiáticas tornará
mais competitivo o setor industrial da economia americana, no
qual mais de 3 milhões de empregos foram perdidos desde 2000.
Mas os efeitos negativos de mudança na política cambial chinesa
seriam provavelmente imediatos,
enquanto os positivos podem demorar anos para aparecer. E, até
onde posso afirmar, ninguém em
posição de influência nos EUA está pensando como deveríamos lidar com conseqüências de a China deixar o yuan subir.
Paul Krugman, economista, é colunista
do "New York Times" e professor na Universidade Princeton (EUA). Este artigo
foi publicado originalmente no "New
York Times".
Tradução de Paulo Migliacci
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