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OPINIÃO ECONÔMICA
Nosso bem, nosso mal
GESNER OLIVEIRA
O conjunto de medidas de
desoneração dos investimentos para o setor produtivo, a
chamada "MP do bem", é uma
boa notícia. No entanto constitui
apenas um paliativo que não resolve o excesso de carga de impostos, o elevado custo do capital e a
falta de estabilidade de regras para investimento. Esse é o nosso
mal.
A "MP do bem" contém cinco
medidas. A primeira cria o regime especial para aquisição de
bens de capital por empresas exportadoras (Recap), mediante o
qual se suspende a cobrança dos
tributos federais PIS e Cofins na
compra de bens de capital para as
empresas que exportam 80% do
valor das vendas anuais.
A segunda medida cria regime
especial para plataformas de exportação de serviços de tecnologia
(Repes), no qual as empresas exportadoras de serviços de tecnologia ficam isentas de PIS e Confins
por cinco anos na aquisição de
serviços e ativos imobilizados.
Transcorrido o prazo, a suspensão dos tributos poderá ter sua
alíquota zerada.
A terceira medida prorroga em
um ano o prazo para utilizar o
crédito relativo à CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) à razão de 25% sobre a depreciação. A quarta medida facilita
a concessão de incentivos fiscais
para as empresas que realizam
pesquisas em inovação tecnológica. Por fim, o chamado Programa
PC Conectado concede isenção
por quatro anos de PIS e Cofins
para a compra de microcomputadores de até R$ 2.500.
A "MP do bem" contém, assim,
bondades pontuais. É bem-vinda
em um momento que se deseja estimular a inversão produtiva, especialmente em capacidade exportadora. Mas é insuficiente. O
incentivo ao investimento não
pode depender apenas de uma coleção de regimes especiais.
Sistemas tributários onerosos e
complicados como o do Brasil
tendem a gerar círculo vicioso
perverso. O excesso de carga tributária impõe a criação de exceções. Essas últimas exigem mais
recursos de fiscalização e vêm
acompanhadas de critérios de seleção discutíveis, como os do Programa PC Conectado. Isso cria
distorções e pressões para a extensão dos benefícios a outros segmentos, impondo maior necessidade de recursos e, conseqüentemente, maior apetite arrecadador e assim por diante.
Portanto será necessário caminhar para um sistema tributário
mais simples com menos regimes
especiais, menos impostos e com
uma carga menos onerosa que recaia sobre uma base ampliada de
contribuintes. É claro que isso
não pode ser feito do dia para a
noite. Mas a direção de racionalização e simplificação tem de ser
apontada desde já. Infelizmente,
não se vislumbra tal mudança.
Por sua vez, a decisão do Copom de elevar pela nona vez a taxa básica de juros (de 19,5% para
19,75%) foi uma má notícia. Havia bons motivos para interromper a imprudente alta da taxa de
juros. A atividade econômica já
mostra sinais de arrefecimento;
as expectativas para o crescimento do PIB em 2005 caíram em relação à ultima reunião do Copom
(de 3,67% para 3,50%); verificou-se apreciação do câmbio; arrefeceram as pressões de preços de
commodities e de petróleo; e melhoraram as projeções de médio
prazo para a inflação.
Além das dificuldades conjunturais, não há sinais de que as regras para o investimento de longo
prazo serão mais favoráveis ou
pelo menos estáveis. A agenda de
reforma regulatória está praticamente parada no Congresso.
A Bolívia ofereceu exemplo didático nesta semana acerca da
importância de estabilidade de
regras. Mudanças desfavoráveis
na lei boliviana de hidrocarbonetos obrigarão a Petrobras a rever
para baixo seus investimentos
naquele país. Nem sempre levam-se em conta efeitos desse tipo
quando o governo federal ou governos estaduais brasileiros alteram regras arbitrariamente. Pimenta nos olhos dos outros é refresco.
Em contraste com a MP 232, a
"MP do mal", a "MP do bem"
veio para estimular os investimentos e as exportações. Os objetivos são louváveis. Mas ainda há
muitos obstáculos a serem vencidos. Sem que haja uma estratégia
articulada para aumentar de forma consistente a formação de capital no país.
Gesner Oliveira, 48, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia
(Berkeley), professor da FGV-EAESP, presidente do Instituto Tendências de Direito e Economia e ex-presidente do Cade.
Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail - gesner@fgvsp.br
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