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CRISE
Profissionais desempregados irão passar seu primeiro Natal como vendedores de produtos nas ruas
Falta de empregos cria "neocamelôs"
da Reportagem Local
A crise econômica e o aumento
do desemprego criaram uma nova classe de trabalhadores: os
"neocamelôs", aqueles que tinham um emprego fixo ou uma
atividade formal e deverão passar
o primeiro Natal como vendedores de produtos nas ruas.
É o caso de Laerte Fidelis da Silva, 27, ex-eletricista da Eletropaulo, despedido em 1998 após a privatização da empresa.
Ele diz que fez um acordo com a
ex-empresa pelo qual recebeu R$
1.750, mais seis meses de cesta básica e outros benefícios.
Depois disso, Laerte passou cinco meses procurando emprego e,
como não conseguiu, começou a
vender óculos, bonés e tênis nas
ruas de São Paulo.
Como eletricista, ele ganhava
R$ 712 e, há quatro meses como
camelô, sua renda passou a variar
com o movimento de clientes, entre R$ 600 e R$ 800.
Laerte terminou um curso para
eletricista residencial e espera encontrar um novo emprego com
carteira assinada. "Prefiro subir
em poste ou descer em bueiro a
trabalhar na rua."
Dívida alta
Wilson Camargo da Silva, 30, já
foi um bem-sucedido microempresário que revendia sucata industrial. Hoje, vende biscoitos em
frente a uma universidade em São
Paulo.
"De R$ 10 mil por mês, vi meu
salário cair para R$ 1.000 depois
que virei ambulante", diz ele.
A firma de sucata foi à falência
há dois anos, depois que o sócio
começou a desviar material, conta
Wilson.
A vida da família Camargo da
Silva mudou muito desde que
Wilson foi para as ruas trabalhar
como ambulante. A filha mais velha, que cursava inglês e francês,
começou a trabalhar numa ótica.
A mulher está procurando emprego em salões de beleza.
O vendedor de doces chega à
porta da universidade às 10h e
volta para casa às 22h. "Só nos finais de semana fico em casa porque não tenho outro ponto", diz.
Wilson quer voltar a trabalhar
com carteira assinada mas não
consegue arranjar emprego porque tem título protestado em diferentes cartórios da cidade de São
Paulo. "Devo mais de R$ 100 mil e
não tenho como pagar."
Ele fez um curso de instalação
de PABX e está tentando conseguir uma nova colocação. No Ano
Novo, Wilson vai estar vendendo
cerveja na festa da avenida Paulista para reforçar o orçamento familiar.
Casamento
Adilson Saraiva Cavalcanti, 29,
perdeu seu emprego de estoquista
em uma metalúrgica há mais de
um ano.
Ele e a noiva, Deli Regiane, 23,
trabalham há oito meses em um
trailer vendendo pastéis, sucos,
refrigerantes e sanduíches.
A jornada de trabalho continua
praticamente a mesma (das 7h às
17h), mas o salário diminuiu.
Adilson ganhava R$ 480 como estoquista. Agora, ele e a noiva dividem escassos R$ 300.
"Meu irmão é nosso sócio, mas
ele não ganha nada porque nós
precisamos economizar para o
casamento", diz a noiva.
O casamento está marcado para
fevereiro e o casal pretende continuar morando com os pais dela,
já que ainda não tem condições de
alugar ou comprar uma casa.
Adilson está tentando arranjar
um novo emprego. O ex-estoquista parou de estudar na 8� série
do primeiro grau e desde então
não fez outros cursos.
"Tenho procurado emprego todos os dias, mas está muito difícil
porque as empresas exigem conhecimentos que eu não tenho."
Crescimento
Em São Paulo, mais de 1,5 milhão de pessoas trabalhavam nas
ruas em outubro de 1999, segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos), um aumento
de 79,2% desde que a pesquisa começou a ser realizada, em 1985.
Naquele ano, 8,7% dos ocupados da região metropolitana de
São Paulo exerciam algum trabalho nas ruas, segundo a pesquisa
do instituto. Em 1998, esse número subiu para 12,9%.
Segundo o Dieese, o número de
autônomos sem equipamento
próprio (classificação que inclui
camelôs) passou de 1,526 milhão
para 1,550 milhão entre dezembro
de 1998 e outubro de 1999, com
aumento de 1,5%.
Sérgio Mendonça, economista
do Dieese, diz que o grande salto
no aumento do nível de emprego
no setor autônomo ocorreu na
década de 90.
(RSS)
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