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Acordo com FMI engessa R$ 17 bi em investimentos
ALEX RIBEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O acordo com o FMI (Fundo
Monetário Internacional) impediu que as estatais federais realizassem R$ 17,6 bilhões em investimentos desde outubro de 1998,
quando o Brasil pediu socorro financeiro ao organismo.
O número ilustra como o acordo engessou os investimentos das
estatais, colaborando para que o
país entrasse na crise energética.
O Brasil pegou dinheiro com o
FMI (um pacote de US$ 41,5 bilhões), num momento em que
passava por uma "crise de confiança". Para se habilitar ao empréstimo, acertou uma série de
metas econômicas com o Fundo.
O acordo, que acaba neste ano,
obriga o governo a economizar
recursos de seu Orçamento para
pagar juros da dívida pública -o
que chama-se superávit primário.
Em dois anos e meio, o governo
central economizou R$ 75,249 bilhões para cumprir as metas fiscais. O sacrifício das estatais corresponde a 23% desse valor.
No ano passado, os investimentos realizados pelo grupo Eletrobrás se resumiram a R$ 2,975 bilhões. Neste ano, o Orçamento
das estatais prevê aplicação de recursos da mesma magnitude.
Atualmente, há basicamente
duas estatais importantes do governo federal: a Petrobras e a Eletrobrás. Ambas atuam no setor de
energia elétrica e, não fosse os limites fiscais, poderiam ter investido mais para evitar o racionamento -embora petróleo seja o
foco da Petrobras, a estatal atua
na construção de termelétricas.
A maior parte do esforço fiscal
das estatais vem sendo empreendido pela Petrobras. Se o governo
tivesse decidido dar prioridade
aos investimentos em energia elétrica, o superávit primário da Petrobras poderia ter sido usado para compensar gastos da Eletrobrás. Porém ocorreu o contrário.
Ao esforço fiscal da Petrobras,
somou-se a economia da Eletrobrás. A meta de superávit primário da estatal de energia elétrica
foi fixada em R$ 800 milhões em
2000 e em 2001.
Agora, com a crise energética, o
governo admite reduzir parte do
esforço fiscal exigido da Eletrobrás, para realizar investimentos
emergenciais que possam aumentar a oferta de eletricidade.
Essa operação não é tão simples.
Para dar maior fôlego à Eletrobrás, o governo federal terá de
aprofundar o aperto fiscal em outras áreas. Caso contrário, há risco
de descumprir a meta com o FMI.
Ou seja: a cada centavo que as
estatais gastarem a mais, o governo terá de cortar um centavo de
programas de outros ministérios.
Nos últimos anos, ocorreu o
contrário. O caixa das estatais foi
usado para evitar aumentos de
impostos ou o corte de gastos.
Para ilustrar, é possível fazer o
seguinte cálculo: se as estatais não
tivessem renunciado a seus investimentos, cada um dos 13 milhões
declarantes do Imposto de Renda
de 2001 teria de pagar R$ 1.307,69
a mais nos últimos 30 meses.
Não existiriam restrições aos investimentos das estatais, se as privatizações do setor elétrico tivessem seguido o ritmo fixado no
acordo com o FMI. Desde 1998, o
programa prevê a venda de Furnas, Eletronorte e Chesf.
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