São Paulo, domingo, 20 de maio de 2001

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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS

"Swap" pode ajudar bancos, mas não a Argentina

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O s mercados financeiros novamente respiraram aliviados, na semana passada, com o anúncio de que avança a negociação da troca de dívida Argentina (na prática, um alongamento de prazos). Não é a primeira vez que isso ocorre. Observando os detalhes do noticiário, no entanto, é difícil entender a origem desse otimismo.
Primeiro porque ainda faltam muitos detalhes do que efetivamente irá ocorrer. Segundo porque não está claro o que, afinal, o país ganha com essa operação. Aliás, é bom lembrar que engenharias desse tipo ocorrem há muitos anos na América Latina, sem que as condições estruturais das economias da região tenham melhorado. Ao contrário.
Parece legítimo suspeitar de que esses momentos de alívio refletem muito mais a animação das instituições financeiras com a definição de novas oportunidades de ganho do que propriamente com o encaminhamento de uma solução para o país. Acontece que a imprensa e, marotamente, os governos da região tentam sempre converter essas oportunidades em sinais de confiança no país.
Um mercado aliviado não é sinônimo de confiança num país. Essa é a distinção que deveria ficar mais clara, porém se perde no noticiário.
Afinal, o senso comum sugere que, se um país que depende de créditos externos passa a contar com um clima de mais animação e confiança nos mercados, então esse país está entrando numa situação melhor.
O senso comum mais uma vez está errado. Uma das lições que já deveriam ter ficado claras ao longo desses anos de Planos Brady é que a pior coisa para os mercados secundários de dívidas de "emergentes" é a falta de liquidez. A imagem é antiga, mas continua válida: um circuito financeiro especulativo é como aquela brincadeira infantil da roda de cadeiras. Ninguém realmente leva a sério o fato de que, por definição, não há cadeiras para todos sentarem. Mas o pânico é imediato quando a música é interrompida.
Em outras palavras: pior que um mercado financeiro em alta ou em baixa é um mercado sem liquidez, sem movimento. Altas e baixas pouco expressivas também são desinteressantes: quanto maior a intensidade das oscilações, para cima ou para baixo, maiores os possíveis ganhos com as apostas.
Para um financista, a prioridade é fazer a roda girar, dar liquidez, mesmo que, para chegar a esse resultado, seja preciso inventar as mais improváveis ficções, assinar os mais inviáveis compromissos de ajuste fiscal ou sacrificar, sempre em nome do crescimento futuro, o emprego e a renda no presente.
Além da liquidez em si, obviamente entra no jogo a oportunidade de fazer dinheiro estruturando a operação financeira propriamente dita. Os casos de recauchutagem de ativos financeiros estão, aliás, entre os preferidos no ambiente especulativo. Em especial na Argentina.
O que ocorreu com o país ao longo desses maravilhosos anos de "swaps" com ativos privados, de blindagens financeiras e estabilização da moeda? Entre 91 e 99, a dívida externa cresceu 118%. A relação entre dívida e PIB passou de 33% a 43%.
A troca de dívida que está sendo proposta pela Argentina tem sido vista como um esquema para ganhar tempo. A julgar pelos episódios anteriores de recauchutagem financeira no país e em outros mercados emergentes, é bem provável que esse tempo seja antes de mais nada o lapso necessário para que os bancos envolvidos não percam a chance de sentar nas poucas cadeiras que ainda restam antes que a música acabe de vez.


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