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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
"Swap" pode ajudar bancos, mas não a Argentina
GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
O s mercados financeiros
novamente respiraram
aliviados, na semana passada,
com o anúncio de que avança a
negociação da troca de dívida
Argentina (na prática, um alongamento de prazos). Não é a primeira vez que isso ocorre. Observando os detalhes do noticiário, no entanto, é difícil entender
a origem desse otimismo.
Primeiro porque ainda faltam
muitos detalhes do que efetivamente irá ocorrer. Segundo porque não está claro o que, afinal, o
país ganha com essa operação.
Aliás, é bom lembrar que engenharias desse tipo ocorrem há
muitos anos na América Latina,
sem que as condições estruturais das economias da região tenham melhorado. Ao contrário.
Parece legítimo suspeitar de
que esses momentos de alívio
refletem muito mais a animação
das instituições financeiras com
a definição de novas oportunidades de ganho do que propriamente com o encaminhamento
de uma solução para o país.
Acontece que a imprensa e, marotamente, os governos da região tentam sempre converter
essas oportunidades em sinais
de confiança no país.
Um mercado aliviado não é sinônimo de confiança num país.
Essa é a distinção que deveria ficar mais clara, porém se perde
no noticiário.
Afinal, o senso comum sugere
que, se um país que depende de
créditos externos passa a contar
com um clima de mais animação e confiança nos mercados,
então esse país está entrando
numa situação melhor.
O senso comum mais uma vez
está errado. Uma das lições que
já deveriam ter ficado claras ao
longo desses anos de Planos
Brady é que a pior coisa para os
mercados secundários de dívidas de "emergentes" é a falta de
liquidez. A imagem é antiga,
mas continua válida: um circuito financeiro especulativo é como aquela brincadeira infantil
da roda de cadeiras. Ninguém
realmente leva a sério o fato de
que, por definição, não há cadeiras para todos sentarem. Mas o
pânico é imediato quando a música é interrompida.
Em outras palavras: pior que
um mercado financeiro em alta
ou em baixa é um mercado sem
liquidez, sem movimento. Altas
e baixas pouco expressivas também são desinteressantes: quanto maior a intensidade das oscilações, para cima ou para baixo,
maiores os possíveis ganhos
com as apostas.
Para um financista, a prioridade é fazer a roda girar, dar liquidez, mesmo que, para chegar a
esse resultado, seja preciso inventar as mais improváveis ficções, assinar os mais inviáveis
compromissos de ajuste fiscal
ou sacrificar, sempre em nome
do crescimento futuro, o emprego e a renda no presente.
Além da liquidez em si, obviamente entra no jogo a oportunidade de fazer dinheiro estruturando a operação financeira
propriamente dita. Os casos de
recauchutagem de ativos financeiros estão, aliás, entre os preferidos no ambiente especulativo.
Em especial na Argentina.
O que ocorreu com o país ao
longo desses maravilhosos anos
de "swaps" com ativos privados,
de blindagens financeiras e estabilização da moeda? Entre 91 e
99, a dívida externa cresceu
118%. A relação entre dívida e
PIB passou de 33% a 43%.
A troca de dívida que está sendo proposta pela Argentina tem
sido vista como um esquema
para ganhar tempo. A julgar pelos episódios anteriores de recauchutagem financeira no país
e em outros mercados emergentes, é bem provável que esse
tempo seja antes de mais nada o
lapso necessário para que os
bancos envolvidos não percam a
chance de sentar nas poucas cadeiras que ainda restam antes
que a música acabe de vez.
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