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SALTO NO ESCURO
Brasil e EUA vivem o mesmo conflito
Divergência de interesses e disputas internas semelhantes barram solução rápida para crise de energia nos dois países
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
As crises energéticas na Califórnia e no Brasil foram detonadas
por motivos diferentes. No entanto interesses e disputas semelhantes impedem uma solução rápida
para o problema nos dois mercados. E, como pano de fundo, existe o forte interesse privado de elevar tarifas cobradas de consumidores, em meio a processos de
desregulamentação inacabados.
Na Califórnia, o fornecimento
de energia não acompanhou a demanda na última década porque
leis ambientais e controles de preços afugentaram as geradoras de
energia e estrangularam os balanços das distribuidoras.
Diferentemente do que muitos
pensam, o Estado mais rico dos
EUA não passou por um processo
radical de desregulamentação em
1996, quando uma nova lei reorganizou o setor, separando as atividades de geração e distribuição.
"Houve uma desregulamentação pela metade", disse à Folha
Lynne Kiesling, diretora de Política Econômica do "Reason Public
Policy Institute", entidade que especializou-se em energia e montou um grupo de estudo para
identificar os motivos da crise
energética na Califórnia.
Os geradores de energia puderam vender sua produção em
qualquer lugar do país, pelo preço
que desejassem. Já os distribuidores, foram obrigados a fornecer
eletricidade aos consumidores
por preços limitados.
Lynne sustenta que o modelo da
Califórnia fracassou ao tentar
unir aspectos típicos de uma economia centralizada -sendo o
controle de preços seu elemento
central- com elementos liberais,
como a permissão para que as geradoras possam exportar sua produção a outros Estados caso as
distribuidoras comecem a pedir
preços excessivamente baixos.
Nos últimos meses, um forte
lobby empresarial fez com que o
governo elevasse as tarifas e (aí
sim) desregulamentasse de vez o
setor energético no Estado.
Esse mesmo lobby começa a
atuar no Brasil. O objetivo é o
mesmo: elevar tarifas cobradas
dos consumidores.
Da mesma maneira que na Califórnia, o problema no Brasil não é
novo e o próprio presidente FHC
reconhece que houve uma "derrapada" na previsão do uso dos
reservatórios de água.
Questionado sobre as semelhanças entre as crises no Brasil e
na Califórnia, um empresário
americano do setor disse que não
tinha idéia, mas que, com certeza,
um aumento de tarifas solucionaria os dois casos. Ele se referiu ao
fato de que, no Brasil, como na
Califórnia, as empresas de distribuição (no caso brasileiro, recém-privatizadas) têm sido impedidas
por leis de elevar o preço cobrado
dos consumidores.
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