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SALTO NO ESCURO
Corte dependerá de exportação e emprego
Fábricas exportadoras e empregadoras sofrerão cortes de energia menores do que as de menor expressão
RICARDO GRINBAUM
DAVID FRIEDLANDER
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo federal quer economizar energia desligando fábricas
que gastam muita eletricidade e
empregam pouco. A idéia é tirar
da tomada algumas indústrias
que se encaixam nesse figurino e
com isso liberar energia para outros consumidores.
Na sexta-feira o governo anunciou que a indústria terá de baixar
de 15% a 25% o seu consumo de
energia, em relação ao ano passado. Só não explicou ainda qual será a cota de sacrifício de cada um.
A tendência do momento é pegar mais leve com as indústrias
que empregam e exportam muito, como os setores têxtil, automobilístico e siderúrgico. As tesouradas de 25%, a princípio, estão apontadas para áreas com
menor peso econômico no país,
como fabricantes de lingotes de
alumínio primário.
"Essa é uma possibilidade que
pode ser interessante para o governo e para as empresas", diz
Mauro Arce, secretário de Energia de São Paulo.
Ele confirmou, por exemplo, as
negociações com a multinacional
Alcan, que tem cinco plantas no
Brasil, sendo duas de fabricação
de lingotes de alumínio primário.
Emprego
"Um dos grandes entraves ainda é como garantir o emprego dos
funcionários das fábricas", diz.
"Essa é uma tarefa que o governo
federal deve tentar resolver."
Para as multinacionais, continua o secretário, suspender a produção no Brasil não significa um
caminho sem volta.
"Uma multinacional pode realocar temporariamente a produção em outro país. Depois, ela voltaria ao Brasil porque, em tempos
normais, nenhum outro lugar do
mundo oferece energia tão barata."
Procurada pela reportagem da
Folha, a Alcan diz que não cogita
fechamento de fábrica e que não
quer se pronunciar sobre o assunto. A Alcan produz lingotes de
alumínio primário em Ouro Preto
(MG) e Aratu (BA).
Os próprios fabricantes podem
ter interesse em desligar os motores, já que foram autorizados pelo
governo a vender a energia que
economizarem no mercado livre.
A cotação nesse mercado está
em R$ 460 o MWh, de cinco a dez
vezes maior do que o preço dos
contratos que são regulados pelo
governo. Para o mês de junho, a
cotação já está definida em R$ 680
o MWh.
"A empresa pode ganhar mais
dinheiro vendendo energia elétrica do que seu próprio produto",
afirma o secretário de Energia de
São Paulo.
Distorções
Na semana passada, representantes de vários grupos empresariais foram a Brasília pedir permissão para vender energia no
mercado livre. Fizeram força,
também, para convencer as autoridades de que valia a pena deixá-los administrar suas cotas em vez
de impor o apagão -como acabou ocorrendo.
"Melhor perder uma mão do
que a cabeça", afirma Paulo Ludmer, diretor-executivo da Abrace
(Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia
Elétrica).
Ludmer achou melhor o sistema de cotas do que o apagão, mas
criticou vários pontos do programa de racionamento.
O governo, diz Ludmer, criou
distorções no mercado ao estabelecer cotas diferenciadas de 15% a
25% dependendo da indústria.
"Isso joga um setor contra o outro
e desorganiza o mercado", diz ele.
Uma indústria de insumos que
gasta muita energia poderia ter
cotas mais baixas do que a empresa que usa esses mesmos insumos
para fabricar o produto final.
"É uma injustiça e acaba favorecendo a substituição da matéria-prima brasileira por insumo importado", diz o diretor-executivo
da Abrace.
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