São Paulo, domingo, 20 de maio de 2001

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SALTO NO ESCURO

Corte dependerá de exportação e emprego

Fábricas exportadoras e empregadoras sofrerão cortes de energia menores do que as de menor expressão

RICARDO GRINBAUM
DAVID FRIEDLANDER
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo federal quer economizar energia desligando fábricas que gastam muita eletricidade e empregam pouco. A idéia é tirar da tomada algumas indústrias que se encaixam nesse figurino e com isso liberar energia para outros consumidores.
Na sexta-feira o governo anunciou que a indústria terá de baixar de 15% a 25% o seu consumo de energia, em relação ao ano passado. Só não explicou ainda qual será a cota de sacrifício de cada um.
A tendência do momento é pegar mais leve com as indústrias que empregam e exportam muito, como os setores têxtil, automobilístico e siderúrgico. As tesouradas de 25%, a princípio, estão apontadas para áreas com menor peso econômico no país, como fabricantes de lingotes de alumínio primário.
"Essa é uma possibilidade que pode ser interessante para o governo e para as empresas", diz Mauro Arce, secretário de Energia de São Paulo.
Ele confirmou, por exemplo, as negociações com a multinacional Alcan, que tem cinco plantas no Brasil, sendo duas de fabricação de lingotes de alumínio primário.

Emprego
"Um dos grandes entraves ainda é como garantir o emprego dos funcionários das fábricas", diz. "Essa é uma tarefa que o governo federal deve tentar resolver."
Para as multinacionais, continua o secretário, suspender a produção no Brasil não significa um caminho sem volta.
"Uma multinacional pode realocar temporariamente a produção em outro país. Depois, ela voltaria ao Brasil porque, em tempos normais, nenhum outro lugar do mundo oferece energia tão barata."
Procurada pela reportagem da Folha, a Alcan diz que não cogita fechamento de fábrica e que não quer se pronunciar sobre o assunto. A Alcan produz lingotes de alumínio primário em Ouro Preto (MG) e Aratu (BA).
Os próprios fabricantes podem ter interesse em desligar os motores, já que foram autorizados pelo governo a vender a energia que economizarem no mercado livre.
A cotação nesse mercado está em R$ 460 o MWh, de cinco a dez vezes maior do que o preço dos contratos que são regulados pelo governo. Para o mês de junho, a cotação já está definida em R$ 680 o MWh.
"A empresa pode ganhar mais dinheiro vendendo energia elétrica do que seu próprio produto", afirma o secretário de Energia de São Paulo.

Distorções
Na semana passada, representantes de vários grupos empresariais foram a Brasília pedir permissão para vender energia no mercado livre. Fizeram força, também, para convencer as autoridades de que valia a pena deixá-los administrar suas cotas em vez de impor o apagão -como acabou ocorrendo.
"Melhor perder uma mão do que a cabeça", afirma Paulo Ludmer, diretor-executivo da Abrace (Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia Elétrica).
Ludmer achou melhor o sistema de cotas do que o apagão, mas criticou vários pontos do programa de racionamento.
O governo, diz Ludmer, criou distorções no mercado ao estabelecer cotas diferenciadas de 15% a 25% dependendo da indústria. "Isso joga um setor contra o outro e desorganiza o mercado", diz ele.
Uma indústria de insumos que gasta muita energia poderia ter cotas mais baixas do que a empresa que usa esses mesmos insumos para fabricar o produto final.
"É uma injustiça e acaba favorecendo a substituição da matéria-prima brasileira por insumo importado", diz o diretor-executivo da Abrace.


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