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SALTO NO ESCURO
Moradores da zona rural de Furnas vivem sem luz
30% dos habitantes da região, no sudoeste de Minas, não têm acesso à energia
ELIANE SILVA
DA AGÊNCIA FOLHA EM DELFINÓPOLIS E GUAPÉ (MG)
Savina Maria de Jesus, Iva Maria
de Souza, Antonio Costa Marques
e Claudio dos Reis Barbosa vivem
no escuro apesar de morar na região de uma das maiores usinas
hidrelétricas do país, no sudoeste
de Minas Gerais. Eles estão entre
os 30% de habitantes da zona rural na área da hidrelétrica de Furnas que não têm acesso à energia
elétrica. Dos quatro, apenas o trabalhador braçal Barbosa, 28, já tinha ouvido falar na possibilidade
de racionamento de energia. Ele
resume o pensamento dos companheiros sobre o corte: "Para
mim, não faz diferença porque eu
não tenho mesmo".
Barbosa mora na mesma casa
desde que nasceu. A mãe e as quatro irmãs se mudaram para a cidade de São João Batista do Glória, onde têm energia e outras comodidades. "Fiquei porque gosto
mais da roça e já estou acostumado com essa vida." Ele diz que à
noite carrega a lamparina por onde vai. "É até bom porque a fumaça espanta os pernilongos."
Savina, 74, solteira, analfabeta e
aposentada, também nunca morou em uma casa com energia elétrica. Ela nasceu e vive em um sítio no Barreiro, bairro de Guapé.
Há 20 anos, ela mora sozinha na
casa de três cômodos construída
em mutirão por seus vizinhos para substituir a velha residência
que estava desabando. Suas companhias são um cachorro, algumas galinhas e vacas.
Há dois anos, a maioria dos sítios vizinhos de Savina instalou
luz elétrica. "Dá para ver o poste
daqui (distância de cerca de 300
m), mas não fui atrás disso. Não
fez falta ainda." Ela conta que usa
uma lamparina à noite e conserva
a carne frita na gordura de vaca.
Diz ainda que conhece geladeira e
televisão, mas está acostumada a
viver sem "esses luxos". Questionada se tem medo da solidão ou
da escuridão, responde: "Não.
Aqui é sempre muito tranquilo".
O trabalhador rural Marques,
43, solteiro, também viveu toda
sua vida em locais sem energia,
mas gostaria de mudar isso. Ele
mora com um irmão num sítio na
mata dos Marques, em Delfinópolis. Quando chove, só é possível
chegar ao local a cavalo. "Ganho
salário mínimo e não dá para pagar a ligação", afirma. Ele estima
que gastaria cerca de R$ 2.000 para ligar sua casa à rede de energia.
Geladeira e ferro elétrico. Esses
são os itens que a dona-de-casa
Ida, 52, afirma sentir mais falta
em sua casa própria de quatro cômodos na zona rural de Delfinópolis. Ela se mudou para o sítio há
quatro anos com o marido e afilha
mais nova. Eles plantam arroz e
milho para a subsistência.
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José Rogério Lara (PMDB), prefeito de Guapé, diz que a média de
30% de propriedades rurais sem
luz no seu município é semelhante ao índice das outras cidades da
região. Ele preside a Alago, associação que reúne os 34 municípios em torno de Furnas que cederam área para a formação do
reservatório. Lara afirma, no entanto, que o percentual de energia
da zona rural vem subindo ano a
ano e que os investimentos em
eletrificação rural não vão parar
mesmo com a possibilidade de racionamento. Na zona urbana,
100% das casas têm luz elétrica.
O prefeito de Delfinópolis, Fernando José Pinto (PMDB), estima
que de 20% a 30% das propriedades rurais do município estão sem
luz. Ele diz que nos próximos meses mais 30 sítios do município receberão energia.
Segundo a assessoria de imprensa da Cemig (Companhia
Energética de Minas Gerais), o
governo de Minas lançou em 1999
o projeto Lumiar, com o objetivo
de eletrificar 185 mil propriedades
rurais. Cerca de 85 mil foram
atendidas até agora.
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