São Paulo, sexta-feira, 20 de março de 2009

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Deputados taxam bônus da AIG em 90%

Decisão é resposta à revolta contra o pagamento de US$ 165 milhões a executivos da seguradora socorrida pelo governo dos EUA

Medida também afeta pagamentos de gigantes imobiliárias estatizadas, como a Fannie Mae, que planejava dar "superbônus"


DE NOVA YORK

Com uma rapidez nada usual, a Câmara dos Representantes dos EUA aprovou ontem por absoluta maioria lei que permitirá ao governo americano recuperar quase a totalidade dos US$ 165 milhões pagos em bônus a executivos e funcionários da seguradora AIG.
A decisão, aprovada pela ampla margem de 328 votos contra 93, prevê o recolhimento para o fisco de 90% do total dos bônus pagos a executivos que trabalhem em empresas que tenham recebido ajuda estatal. Portanto, não vale apenas para a AIG, embora a empresa tenha provocado a medida. A decisão vale para todos os bônus pagos a partir de dezembro de 2008, o que atinge diretamente a AIG.
A aprovação da medida foi elogiada pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que disse que ela "reflete exatamente o ultraje que vários de nós sentimos em relação aos exagerados bônus que a AIG deu a seus funcionários".
O Senado dos EUA vinha trabalhando em uma decisão no mesmo sentido, mas que prevê recuperação pelo fisco de cerca de 70% dos bônus pagos. Se aprovado algo diferente no Senado, as duas Casas terão de harmonizar as suas decisões.
A AIG foi estatizada pelos EUA no ano passado (ainda na administração George W. Bush), quando um novo presidente, Edward Liddy, foi indicado pelo governo. Ela já recebeu US$ 173 bilhões em dinheiro público, e o Estado detém hoje cerca de 80% da empresa.
Até aqui, a AIG é uma das maiores beneficiárias de recursos estatais nesta crise. Ela se converteu em ícone da revolta dos contribuintes norte-americanos depois de anunciar pagamento de bônus mesmo tendo acumulado prejuízo de aproximadamente US$ 99 bilhões no ano passado -o maior da história corporativa dos EUA.
Como comparação, os bancos Merrill Lynch e Citigroup perderam US$ 27,6 bilhões e US$ 27,7 bilhões, respectivamente, no ano passado.
No caso da medida dos deputados, ela recai sobre executivos que tenham tido ganhos superiores a US$ 250 mil ao ano (R$ 575 mil) em companhias que receberam mais de US$ 5 bilhões de ajuda estatal. É o caso de Citigroup, Bank of America e de quase duas dezenas de outras instituições. Ela também vale para a Fannie Mae e a Freddie Mac, as duas gigantes do financiamento imobiliário estatizadas também em 2008. A primeira, que perdeu US$ 59 bilhões em 2008, planejava pagar bônus de ao menos US$ 1 milhão a quatro executivos.
A autorização para o pagamento de bônus a executivos de empresas socorridas com dinheiro público colocou em situação delicada o secretário do Tesouro, Timothy Geithner.
Na semana passada, o governo Obama concordou em pagar os bônus. Autoridades, inclusive o próprio Geithner, disseram em programas de TV no fim de semana que não havia mais nada a fazer. Diante da revolta geral, o presidente americano recuou, desautorizando as declarações e dizendo que o pagamento de bônus pela AIG era "inaceitável". (FCZ)


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