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Arrecadação no 1� bimestre tem maior queda desde 96
Recolhimento de tributos federais no período ficou 9% menor que em 2008
Desonerações e crise afetam resultado, mas Receita Federal diz que situação está sob controle; analista prevê piora no quadro
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A crise econômica levou à
maior queda de arrecadação federal brasileira no primeiro bimestre desde 1996. O recolhimento de tributos no período
foi 9,11% menor que no mesmo
período do ano passado, já descontada a inflação. Nos últimos
13 anos, em apenas dois a receita com tributos federais foi pior
que a do ano anterior.
Em fevereiro, o governo arrecadou R$ 45,1 bilhões, queda de
11,53% se comparado com fevereiro de 2008, também já descontado o aumento dos preços.
Apesar do desempenho cada
vez pior da arrecadação, o que
levou o governo a anunciar corte de gastos e redução do superávit primário, a mensagem da
Receita Federal é que a situação está sob controle.
O órgão diz que 80% da queda real na arrecadação é fruto
de decisões judiciais e administrativas tomadas pela própria
Receita, como as desonerações
e as compensações -quando
uma empresa paga impostos a
mais, ela desconta o valor excedente do próximo pagamento.
Como a Receita precisa autorizar as compensações, isso está
sendo acelerado.
O fim da CPMF também influenciou na queda bimestral,
já que em janeiro de 2008 ainda
houve R$ 1 bilhão de arrecadação com o imposto do cheque.
"No passado, quando havia
crise e queda na arrecadação, o
governo aumentava alíquotas.
Mas este governo adotou uma
política anticíclica, com desoneração de impostos", disse o
coordenador-geral de estudos,
previsão e análise da Receita,
Marcelo Lettieri.
O especialista em contas públicas da Unicamp Francisco
Lopreato acredita que a arrecadação neste ano será negativa
em comparação com o ano passado, quando a receita com tributos foi a mais alta da história.
"O governo tem mesmo que
fazer desonerações fiscais para
atenuar a crise. Mas, independentemente disso, o determinante fundamental da arrecadação vai ser a crise, que está se
aprofundando. Não há luz no
fim do túnel", disse Lopreato.
Pelos cálculos da Receita, as
desonerações concedidas no final do ano passado na tentativa
de atenuar os efeitos da crise,
como a redução do IPI sobre
automóveis, vão representar
R$ 18 bilhões a menos de impostos. Isso sem considerar novas reduções de alíquotas.
Lettieri, da Receita, aponta
que a indústria é a maior responsável pela queda de arrecadação de impostos. Ele lembrou que, até agora, essa foi a
área mais afetada pela crise.
Entre os dez setores que tiveram maior queda no pagamento de tributos, oito estão ligados
ao setor industrial e dois, ao financeiro.
A queda no recolhimento de
Imposto de Renda das empresas e da CSLL (tributos que incidem diretamente sobre o lucro) foi de 14,23% no primeiro
bimestre deste ano, para R$
23,1 bilhões.
Esse resultado foi influenciado pela piora nos balanços das
empresas no último trimestre
do ano passado, quando o PIB
caiu 3,6% em relação ao trimestre anterior.
O recolhimento de IRPF
(Imposto de Renda da Pessoa
Física), que passou a ter duas
novas alíquotas neste ano, caiu
mais do que o das empresas, em
18,56%, para R$ 1,18 bilhão no
bimestre.
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