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Indústria puxa recorde de demissões no país
Mercado de trabalho fecha o dobro de vagas em dezembro e tem o pior resultado em dez anos; cortes afetam todos os setores
Na construção civil, saldo
negativo mais que triplicou;
maior empregador do país,
Estado de SP cortou 44% das
vagas com carteira assinada
JULIANNA SOFIA
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Tragado por uma onda de demissões inédita na indústria
brasileira, o mercado de trabalho formal encolheu em dezembro e registrou seu pior desempenho nos últimos dez
anos. No mês passado, foram
fechadas em todo o país
654.946 vagas com carteira assinada. Apesar de a redução ter
afetado todos os setores, o
maior estrago ocorreu na indústria de transformação, que
perdeu 273.240 vagas.
O fechamento de empregos
no setor foi quase o dobro do
mesmo mês de 2007 e acendeu
a luz vermelha no governo, que
considera a indústria o "principal foco" dos abalos provocados pela crise mundial. O subsetor de produção de alimentos
e bebidas foi o mais atingido
pelas demissões e eliminou em
apenas um mês 109.696 vagas.
Na avaliação do Ministério
do Trabalho, os segmentos de
suco de laranja e sucroalcooleiro aparecem entre os maiores
perdedores. Por serem exportadores, foram fortemente sacudidos pela queda na demanda mundial por produtos. O
mesmo ocorreu com os segmentos de calçados, borracha e
couro e moveleiro, que fecharam o ano de 2008 com saldo
negativo de empregos.
"Os estoques da indústria estavam muito elevados, e o número de empregos gerados nos
últimos meses, muito alto. Por
isso, houve uma queda maior
do que em todos os outros setores", afirmou o ministro do
Trabalho, Carlos Lupi, acrescentando que dezembro foi o
pior mês da história para o emprego na indústria.
Os reflexos disso atingiram
diretamente o maior Estado
empregador do país. São Paulo
perdeu em dezembro 285.532
postos de trabalho, o que representa 44% do total de vagas fechadas no mês. A redução no
nível de emprego se deu principalmente no interior do Estado. Todas as regiões do país tiveram saldo negativo no mês.
Os resultados do Caged (Cadastro Geral dos Empregados e
Desempregados) divulgados
ontem por Lupi sepultaram os
planos do ministro de anunciar
para 2008 o melhor resultado
da história do emprego formal.
Ao longo do ano passado, ele
chegou a projetar a geração de 2
milhões de postos em 2008. O
saldo do ano, com o tombo em
dezembro, ficou em 1,452 milhão. "O número de dezembro
não surpreendeu, mas desagradou. Ninguém gosta de aumento do número de demissões."
Em dezembro de 2007, foram fechadas 319.424 vagas.
Considerando a série histórica
do Caged, o pior desempenho
anterior ao de 2008 foi o de dezembro de 2004, com o fechamento de 352.093 mil vagas.
Considerando apenas os 23
dias úteis de dezembro, os 654
mil postos fechados significam
que 28,5 mil vagas foram fechadas a cada 24 horas.
Retração
No setor de serviços, a retração no mercado em dezembro
provocou a perda de 117.128
empregos. Na construção civil,
foram 82.432 -mais que o triplo do saldo negativo de dezembro de 2007.
O número de demissões na
agricultura também foi alto,
mas o ministério explica que o
mercado de trabalho no campo
tradicionalmente encolhe em
dezembro. Em 2007, ficou negativo em 121 mil vagas, enquanto em 2008 o corte chegou
a 134.487 postos.
Já no comércio, embora a
perda de postos tenha ficado
próxima de 15 mil, o número
costuma ser positivo por conta
das festas de fim de ano.
Para Lupi, os setores que
mais preocupam e vão exigir
medidas por parte do governo
são a indústria e a construção
civil. Em reunião com o presidente Lula, o ministro sugeriu
iniciativas, mas não quis antecipar o teor de suas propostas.
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