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FUNDOS DE PENSÃO
Fundação dos funcionários do BB corre o risco de ter de vender bens para pagar aposentadorias
Previ teme a corrosão do patrimônio
"Temos um fluxo de caixa que permite pagar benefícios com sobra, mas logo não será mais suficiente"
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FELIPE PATURY
da Reportagem Local
A Previ, o poderoso fundo de
pensão dos funcionários do Banco do Brasil, pode deixar de ser o
maior investidor do país em 2005.
Hoje, tem R$ 32 bilhões de patrimônio distribuído nos negócios
mais importantes do país. Em
cinco anos, pode ter de começar a
usar esse dinheiro para pagar
aposentadorias dos associados.
O capitão da mudança é Luiz
Tarquínio Ferro, que passou 18
dos seus 39 anos no banco. No fim
de 1998, foi alçado ao comando da
Previ. Seu antecessor, Jair Bilachi,
deixou o cargo por ter concedido
empréstimos ruinosos à Encol.
Ferro empenhou-se em tirar a
Previ do noticiário, mas perde a
luta. Briga pelo futuro da CSN e
da Vale do Rio Doce, das quais é
sócia. No caso Embraer, a Previ
foi personagem da saída de Werner Brauer do Ministério da Aeronáutica. Tudo isso está nas mãos
de Ferro.
Folha - A Previ continuará sendo o maior investidor do país?
Luiz Tarquínio Ferro - Se se
mantiver apenas como administradora do fundo de pensão do
Banco do Brasil, pode perder a liderança. Os contribuintes vão-se
aposentar e os recursos migrarão
dos investimentos atuais para
aposentadorias e pensões.
Folha - Em quanto tempo isso
pode acontecer?
Ferro - Em quatro ou cinco
anos. Nesse tempo, vamos ter de
mudar a ênfase do fundo. A importância dos
dividendos
crescerá, se
comparada
com as contribuições dos associados. Os
dividendos serão mais importantes para
pagar os benefícios. Nesse
cenário, crescerá a importância relativa dos investimentos que nós já temos.
Folha - Quer dizer que o patrimônio começa a cair em 2005?
Ferro - Depende da valorização
dos nossos investimentos. O que
se pode dizer é que em quatro ou
cinco anos vai-se inverter a conta.
Hoje, temos um fluxo de caixa
que permite pagar benefícios com
sobra. Daqui a pouco, nosso fluxo
de caixa não será mais suficiente.
Folha - Não é possível prever o
que vai acontecer com o patrimônio do fundo?
Ferro - Ainda não temos uma
visão precisa sobre em que momento ele começará a cair. Vai depender do Regime Geral da Previdência, que não está definido. Sabemos que os investimentos e a
arrecadação previdenciária não
serão suficientes para manter o
patrimônio intacto, mas não
quando isso vai acontecer.
Folha - Acabou a era dos investimentos? É um impasse?
Ferro - Há outro cenário. A Previ poderá administrar fundos de
pensão de terceiros, desde que
não concorra com o Banco do
Brasil. Acho que a Previ tem experiência e pode ser uma boa referência para terceiros.
Folha - Sem concorrer, vai vender planos para quem?
Ferro - Prefeituras. O banco pode ser o vendedor, e nós, os administradores. Um município pequeno pode contratar alguém
com experiência para montar um
fundo de pensão. Temos de arrumar uma forma que seja harmônica, mas acho que tem espaço
para as duas instituições.
Folha - A Previ comprou a Celpe (elétrica de Pernambuco) há
um mês. É uma contradição para quem fala em pagar passivo.
Ferro - Não, é estratégia. Já tínhamos a Coelba (BA) e a Cosern
(RN). Vamos saneá-las, juntá-las
numa holding e lançar ações dessa holding em três anos.
Folha - E como vão as negociações do setor siderúrgico?
Ferro - Paradas. Com o Carnaval e a saída do (Andrea) Calabi
(do BNDES), parou um pouquinho. Vamos discutir o assunto,
agora, com o (Francisco) Gros
(presidente do BNDES).
Folha - O senhor está saindo
chamuscado pela reestruturação do setor siderúrgico?
Ferro - Não. O problema é que
são três instituições grandes (Previ, Vicunha e Bradesco), que nem
sempre têm os mesmos interesses. Já estivemos nesse processo
(a disputa pela CSN) em todas as
hipóteses: ficando com os
sócios atuais,
sendo compradores ou saindo do negócio.
A Previ se dispôs, sob condições, a fazer
qualquer coisa
para pôr fim à
situação conflituosa. Isso
não deve demorar, mas não falo
em prazo.
Folha - A Previ quer a parte de
Benjamin Steinbruch na CSN?
Ferro - No ano passado, havia
uma especulação de que o Vicunha seria vendedor. Eu os procurei e disse que a Previ poderia
comprar sua parte. Nunca chegamos a fazer proposta. Só dissemos
que queríamos contribuir com a
reestruturação.
Folha - E aceita vender?
Ferro - Isso depende de alguns
elementos. Primeiro, o que aconteceria com a Casa de Pedra. É
uma mina da CSN que poderia
concorrer com a Vale. Ora, também quero defender o valor de
nossa participação na Vale. Outra
condição é desfazer o cruzamento
acionário entre a Vale e a CSN.
Casa de Pedra, participações cruzadas e preço: uma situação infernal. É ruim para a Vale.
Folha - A disputa pela siderurgia tomou um caráter pessoal
entre o senhor e Steinbruch?
Ferro - Não. Esse seria o pior
dos mundos. Hoje, há uma situação de impasse em que as decisões estratégicas da siderurgia são
tratadas pelo conflito de interesses. Mas isso acontece por causa
de participações cruzadas. A Previ é sócia, por exemplo, da CSN e
da Usiminas, duas empresas que
competem entre si.
Folha - A Previ negociou o
controle da Embraer na associação com os franceses?
Ferro - Não há hipótese de
transferirmos o controle para estrangeiros ou causar problemas
ao Ministério da Defesa. Não temos a intenção de vender a Embraer. Só que, com a associação,
ganhamos tecnologia militar e o
mercado da Ásia. Não adianta ter
só um bom projeto de aviação regional, que é o que tínhamos. É
motivo de muita satisfação, mas
não é o suficiente
Folha - Seu diretor de investimentos, Dercy Alcântara, foi
afastado por causa de uma decisão da venda de ações do Itaú?
Ferro - Quem nomeia ou pede a
volta do diretor é o Banco do Brasil. E em nenhum momento o
banco atribuiu a saída dele ao
problema do Itaú. As ações subiram depois que vendemos, mas a
decisão foi tomada três meses antes. Outra coisa: as ações foram a
leilão. Se o preço era tão bom, por
que outros não compraram?
Folha - As eleições de diretores estão interferindo nos assuntos da Previ?
Ferro - Na condição de condutor do processo, prefiro não me
pronunciar. Além disso, nunca
passei por um processo eleitoral
aqui e acho que a campanha ainda não começou.
Folha - Mas dois diretores da
Previ são candidatos e divergem em público.
Ferro - A referência deve ser ao
Vítor Paulo (diretor de participações) e ao Arlindo Oliveira (diretor de planejamento). Nós temos
diretrizes e políticas de investimento subscritas por todos os diretores. Se um dos diretores está
preocupado com uma decisão do
colegiado, deve devolver o problema à diretoria e apresentar
uma solução.
Folha - O senhor é candidato?
Ferro - (Risos) Não sou elegível.
Sou indicado pelo banco. Enquanto acharem que eu sou necessário para tocar esse negócio
aqui, fico. Eu gosto.
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