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Rendimento cai no início da safra de cana
Mesmo com moagem maior, início de temporada apresenta produção total menor de açúcar e álcool, aponta Unica
Chuva prejudica a maturação dos canaviais para a colheita;
previsões apontam mais nebulosidade para
os próximos meses
GITÂNIO FORTES
DA REDAÇÃO
Chuvas além da conta vêm
prejudicando o rendimento da
lavoura neste início de safra no
centro-sul do país. Levantamento da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) divulgado ontem mostra que,
embora o volume de matéria-prima moída na região tenha
crescido 5,19%, a quantidade de
produtos obtidos obtidos por
tonelada de cana processada
(conhecida pela sigla ATR) recuou 6,02%. Resumo da ópera:
a produção total de açúcar e álcool baixou 1,15%.
O levantamento da Unica
comparou o desempenho no
centro-sul do início da colheita,
em abril, até 1� de junho, em relação a igual período do ano
passado. A produção de açúcar
caiu 10,77%, para 3,273 milhões de toneladas. A de álcool,
somando anidro e hidratado,
cresceu 6,15%, para 3,217 bilhões de litros, o que reforça "o
perfil alcooleiro", provocado
pela demanda por veículos flex.
Em abril, a Unica anunciou
previsão de que o centro-sul
produza 24,3 bilhões de litros
de álcool em 2008/9, mais 19%
ante 2007/8. De açúcar, devem
ser 28,6 milhões de toneladas,
9% mais.
Com 84 novas usinas desde
2005, a nova oferta no setor desequilibrou o mercado, diz Antonio de Pádua Rodrigues, diretor-técnico da Unica. A preferência pelo álcool se deve à possibilidade de "fazer caixa em
curto prazo", afirma -algo essencial a empresas com capital
de giro restrito.
As previsões para os próximos meses são de mais chuvas
e nebulosidade na comparação
com a safra passada, o que prejudica a maturação dos canaviais e conseqüentemente leva
a rendimento menor. Apesar
dos boletins meteorológicos, o
mercado avalia ser cedo para
cravar produtividade mais baixa para toda a safra.
Momento de pressão
A oferta de início de safra
pressiona os preços. Ismael Perina Júnior, presidente da Orplana (Organização de Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil), diz "até entender" as cotações do açúcar,
mercado com "armazéns abarrotados". A saca de 50 kg está
em R$ 26 em São Paulo. "Mas,
para o álcool, não há perspectiva de muita sobra no final da safra. Há, sim, excesso de oferta
neste momento."
Perina atribui as cotações retraídas para o álcool à "pressão
forte dos distribuidores de
combustíveis, que atuam no
mercado de forma concentrada". Segundo a assessoria de comunicação do Sindicom (Sindicato Nacional das Empresas
Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes), cada
empresa tem sua estratégia comercial. Por isso, a entidade
não se pronuncia especificamente sobre preços.
Para o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia
Aplicada), na semana passada,
o preço médio à vista do álcool
hidratado combustível pago às
usinas ficou em R$ 0,6390 o litro. As cotações de açúcar e álcool desembocam em um preço
de R$ 31 a tonelada para o produtor de cana, contra custo estimado em R$ 50.
Para Julio Maria Martins
Borges, diretor-executivo da
consultoria JOB, a gasolina
funciona como estoque de segurança do mercado de álcool.
"Se o preço supera 70% do da
gasolina, o consumo migra."
Para o andamento da safra, a
analista Renata Marconato, da
MB Agro, destaca a evolução favorável do consumo, que tende
a deixar o mercado mais ajustado. A Unica relata que as vendas mensais ao mercado brasileiro superam 1,5 bilhão de litros, quando se soma o álcool
hidratado ao anidro.
Marcos Escobar, consultor
de gerenciamento de risco da
FCStone, aponta para a expectativa de que o Brasil exporte
até 5 bilhões de litros ao ano
-60% desse volume para os
EUA, como complemento à estratégia norte-americana para
o álcool de milho.
Manoel Bertone, secretário
de Produção e Agroenergia do
Ministério da Agricultura, concorda que os preços não remuneram, a exemplo do que ocorreu no ano passado. "É um
comportamento de cotações típico de uma área em expansão." Segundo ele, a cadeia produtiva dispõe de uma câmara
setorial de âmbito nacional que
pode ser um fórum para "uma
discussão estrutural do setor".
Apontado por Bertone como
essencial para que o setor avance em planejamento financeiro, o mercado futuro do álcool
ainda "não pegou", diz Arnaldo
Correa, da assessoria Archer
Consulting. O produto ainda
não é considerado uma commodity. Há divergências sobre
qualidade e tributação. O ideal
é que mais países produzam álcool, até para mais transparência nos preços internacionais.
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