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VINICIUS TORRES FREIRE
Quem quer dinheiro?
Expectativas de inflação continuam a piorar; governo pagava ontem 15% ao ano a quem financia a sua dívida
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O GOVERNO tomava ontem dinheiro emprestado a pouco
mais de 15% ao ano num dos
seus papéis -trata-se da Letras do
Tesouro Nacional (LTN) com vencimento em julho de 2010, título da
dívida pública prefixado. Descontada a taxa de inflação esperada pelo
mercado para os próximos 12 meses,
o papel renderia uns 9,7% no primeiro ano. Ou ainda mais, caso a inflação caia daí em diante. Faz um
ano, o governo pagava cerca de
10,5% no mesmo papel que venceria
dali a dois anos, com taxa real esperada de pouco menos de 7%.
Não se trata das taxas para as
quais o mercado olha a fim de fazer
seus negócios e definir os pisos dos
juros da "praça" -por falar neles, a
taxa de juros do contrato futuro de
janeiro de 2010 (o DI) estava ontem
em horrorosos 14,92% ao ano. Mas
os juros dos títulos do governo são,
óbvio, um reflexo do ânimo da praça
e o preço que o governo paga para tomar dinheiro novo. São ainda um sinal de como se deterioram cada vez
mais as expectativas de inflação no
país. O "mercado", quem financia a
dívida do governo, pede juros mais
altos e um "extra" maior pela incerteza a respeito da inflação.
Enfim, e o que interessa aqui, os
números dão o que pensar para o investidor comum um pouco mais
agressivo, que pende entre Bolsa e
renda fixa nas suas aplicações de
curto prazo. Dá ainda mais o que
pensar para o investidor que aplica
diretamente na dívida pública, via
Tesouro Direto, em vez de recorrer
ao serviço dos bancos (isto é, em vez
de aplicar em fundos e deixar uma
fatia dos juros mais a taxa de administração para os bancos).
No curto prazo, o governo voltou a
dar muito dinheiro. Seria preciso esperar que a Bolsa fosse ao patamar
de 77 mil pontos daqui a um ano para "compensar" o rendimento dos
títulos do Tesouro, num cálculo rudimentar, com a diferença de que o
papel do governo não corcoveia feito
a Bolsa. Enfim, o título do governo
tem rentabilidade alta, risco quase
zero e variação nenhuma (se a aplicação é mantida até o vencimento).
Sim, o Ibovespa já foi a 73.500
pontos neste ano. Tem analista de
mercado que ainda aposta em Ibovespa a 80 mil pontos em dezembro.
Pode ser, pode ser até melhor, pode
não ser. Um cidadão mais conservador e que procura motivos mais
"fundamentais" para a direção do
mercado (o que no curto prazo também por vezes dá errado, ressalte-se), colocaria a ponta das barbas de
molho. A tendência dos juros é de alta no Brasil e no mundo. Juros planetários em alta podem (atenção:
PODEM) conter o ânimo dos preços
das commodities, como petróleo e
ferro, isto é, Petrobras e Vale, as puxadoras do samba-enredo e do valor
da Bolsa brasileira.
Este texto NÃO É recomendação
de investimento. É apenas uma
breve notícia e um lembrete de que
as taxas de juros estão de volta a
um nível pavoroso.
vinit@uol.com.br
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