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MERCADO DE CAPITAIS
Pequenos investidores formam grupos para aplicar em ações; retorno tende a ser alto no longo prazo
Bovespa incentiva clubes de investimentos
GEORGIA CARAPETKOV
DA REPORTAGEM LOCAL
Montar um clube de investimentos para aplicar em ações ainda é uma novidade no Brasil. Mas
as campanhas de popularização
do mercado de capitais em conjunto com estudos que demonstram que as ações têm sido a melhor fonte de aplicação financeira
no longo prazo devem contribuir
para mudar esse cenário.
"Não sabíamos como as coisas
funcionavam. Batemos um pouco
a cabeça no começo, mas sempre
acreditamos na idéia e hoje temos
uma carteira diversificada e com
empresas sólidas", diz Rosegleyde
de Souza Rocha, 58, aposentada,
sócia de um clube formado em
1998 por supervisoras de ensino e
que atualmente congrega 30 pessoas, com apenas dois homens.
Recentemente a Bolsa de Valores de São Paulo criou o programa
"Bovespa Vai ao Clube", para levar informações, por meio de palestras e folhetos explicativos, para agremiações e instituições e incentivar a criação dos clubes de
investimentos.
Estima-se que somente 4% da
população brasileira participa de
alguma forma do mercado acionário, contra aproximadamente
50% nos Estados Unidos.
A pouca informação é apontada
como um dos motivos da baixa
popularização. Os riscos e as histórias que circulam sobre especuladores e pessoas que perderam
tudo na Bolsa também fazem com
que algumas pessoas desconsiderem esse tipo de investimento.
Os investidores precisam saber
que sempre há risco envolvido
nesse tipo de aplicação. Clubes de
investimentos dos EUA, na maioria de aposentados, perderam fortunas recentemente com o colapso de grandes empresas, como a
companhia de energia Enron.
Nos clubes, além de compartilhar conhecimento, as pessoas
juntam seus recursos e podem
compor uma carteira com vários
tipos de ações.
Segundo Mauro Halfeld, professor de finanças da Universidade Federal do Paraná, essa diversificação é essencial para conseguir lucrar no mercado e diminuir os riscos.
Diversão e aprendizado
Além da perspectiva de ganhar
dinheiro, as pessoas que formam
os clubes procuram se integrar e
aprender sobre o mercado. "Depois da aposentadoria, queríamos
continuar a nos encontrar e ter o
que conversar além de educação",
diz Rosegleyde.
Para a decoradora e restauradora Angela Maria Ferreira de Barros Gomes, 46, que formou um
clube com 18 tenistas, ser sócia de
uma grande empresa é um dos
atrativos.
"Gastamos muitas vezes dinheiro à toa. É uma chance de fazer
uma poupança e também de dar
exemplo para os nossos filhos de
que se deve gastar menos e poupar mais. Estamos animadíssimas", afirma.
A crença nas empresas e na melhora da economia é apontada pelos participantes de clubes como
um dos diferenciais na hora de investir em ações.
"Investimos em empresas que
acreditamos que irão crescer e gerar empregos. Como queríamos
aprender, procuramos um gestor
que deixasse a gente interferir diretamente nas aplicações", diz
Rosegleyde.
Aversão ao risco
Os especialistas dizem que os
participantes devem ter cuidado,
pois a volatilidade do mercado
acionário pode gerar grandes perdas, principalmente no curto prazo. "A pessoa não pode ter dívidas
e deve ter uma reserva aplicada
em renda fixa. Senão pode precisar dos recursos para uma emergência ou ficar desesperada em
um momento de baixa e acabar
perdendo dinheiro", afirma o
professor Halfeld.
O ideal é compor uma carteira
com diversos setores da economia e ter um horizonte de investimento de pelo menos cinco anos.
Entretanto, segundo Halfeld, no
longo prazo é difícil o investidor
ganhar menos do que em outras
aplicações disponíveis.
Retorno atraente
Um estudo conduzido pelo professor mostra que quem investiu
o equivalente a R$ 1 em 1968 nas
ações que compõem o Ibovespa
hoje tem R$ 23,51, já descontada a
inflação. Quem investiu o mesmo
valor em imóveis, tem hoje R$
8,72 e em poupança R$ 3,87.
Mesmo assim, quem observa
que o Ibovespa acumula neste
ano uma perda de 22% pode ficar
assustado. "Claro que ninguém
sabe se a Bolsa vai cair mais. Mas
como já caiu muito, esse pode ser
o momento certo para começar",
diz Halfeld.
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