São Paulo, segunda-feira, 16 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MERCADO DE CAPITAIS

Pequenos investidores formam grupos para aplicar em ações; retorno tende a ser alto no longo prazo

Bovespa incentiva clubes de investimentos

GEORGIA CARAPETKOV
DA REPORTAGEM LOCAL

Montar um clube de investimentos para aplicar em ações ainda é uma novidade no Brasil. Mas as campanhas de popularização do mercado de capitais em conjunto com estudos que demonstram que as ações têm sido a melhor fonte de aplicação financeira no longo prazo devem contribuir para mudar esse cenário.
"Não sabíamos como as coisas funcionavam. Batemos um pouco a cabeça no começo, mas sempre acreditamos na idéia e hoje temos uma carteira diversificada e com empresas sólidas", diz Rosegleyde de Souza Rocha, 58, aposentada, sócia de um clube formado em 1998 por supervisoras de ensino e que atualmente congrega 30 pessoas, com apenas dois homens.
Recentemente a Bolsa de Valores de São Paulo criou o programa "Bovespa Vai ao Clube", para levar informações, por meio de palestras e folhetos explicativos, para agremiações e instituições e incentivar a criação dos clubes de investimentos.
Estima-se que somente 4% da população brasileira participa de alguma forma do mercado acionário, contra aproximadamente 50% nos Estados Unidos.
A pouca informação é apontada como um dos motivos da baixa popularização. Os riscos e as histórias que circulam sobre especuladores e pessoas que perderam tudo na Bolsa também fazem com que algumas pessoas desconsiderem esse tipo de investimento.
Os investidores precisam saber que sempre há risco envolvido nesse tipo de aplicação. Clubes de investimentos dos EUA, na maioria de aposentados, perderam fortunas recentemente com o colapso de grandes empresas, como a companhia de energia Enron.
Nos clubes, além de compartilhar conhecimento, as pessoas juntam seus recursos e podem compor uma carteira com vários tipos de ações.
Segundo Mauro Halfeld, professor de finanças da Universidade Federal do Paraná, essa diversificação é essencial para conseguir lucrar no mercado e diminuir os riscos.

Diversão e aprendizado
Além da perspectiva de ganhar dinheiro, as pessoas que formam os clubes procuram se integrar e aprender sobre o mercado. "Depois da aposentadoria, queríamos continuar a nos encontrar e ter o que conversar além de educação", diz Rosegleyde.
Para a decoradora e restauradora Angela Maria Ferreira de Barros Gomes, 46, que formou um clube com 18 tenistas, ser sócia de uma grande empresa é um dos atrativos.
"Gastamos muitas vezes dinheiro à toa. É uma chance de fazer uma poupança e também de dar exemplo para os nossos filhos de que se deve gastar menos e poupar mais. Estamos animadíssimas", afirma.
A crença nas empresas e na melhora da economia é apontada pelos participantes de clubes como um dos diferenciais na hora de investir em ações.
"Investimos em empresas que acreditamos que irão crescer e gerar empregos. Como queríamos aprender, procuramos um gestor que deixasse a gente interferir diretamente nas aplicações", diz Rosegleyde.

Aversão ao risco
Os especialistas dizem que os participantes devem ter cuidado, pois a volatilidade do mercado acionário pode gerar grandes perdas, principalmente no curto prazo. "A pessoa não pode ter dívidas e deve ter uma reserva aplicada em renda fixa. Senão pode precisar dos recursos para uma emergência ou ficar desesperada em um momento de baixa e acabar perdendo dinheiro", afirma o professor Halfeld.
O ideal é compor uma carteira com diversos setores da economia e ter um horizonte de investimento de pelo menos cinco anos. Entretanto, segundo Halfeld, no longo prazo é difícil o investidor ganhar menos do que em outras aplicações disponíveis.

Retorno atraente
Um estudo conduzido pelo professor mostra que quem investiu o equivalente a R$ 1 em 1968 nas ações que compõem o Ibovespa hoje tem R$ 23,51, já descontada a inflação. Quem investiu o mesmo valor em imóveis, tem hoje R$ 8,72 e em poupança R$ 3,87.
Mesmo assim, quem observa que o Ibovespa acumula neste ano uma perda de 22% pode ficar assustado. "Claro que ninguém sabe se a Bolsa vai cair mais. Mas como já caiu muito, esse pode ser o momento certo para começar", diz Halfeld.


Texto Anterior: Vizinho em crise: Argentina recebe nova visita do FMI
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.