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DIPLOMACIA
Preocupação é com licenciamento compulsório em emergência
Lei de Patentes pode gerar novo conflito com os EUA
MARCIO AITH
de Washington
O secretário de Comércio dos
EUA, William Daley, irá pedir ao
governo brasileiro que derrube
um decreto sobre patentes de 6 de
outubro passado, elaborado pelo
ministro da Saúde, José Serra, que
desagradou à indústria farmacêutica norte-americana e pode
transformar-se no mais novo
contencioso comercial entre os
dois países.
Daley, que partiria ontem à noite para uma viagem oficial de uma
semana à América do Sul, afirmou numa palestra a estudantes
que irá levantar, em conversas
com autoridades brasileiras,
"preocupações sérias com relação
a algumas provisões da legislação
(brasileira) sobre patentes".
O vice-assistente de Daley, Bernard Carreau, explicou à Folha
que essas provisões estão em um
decreto, que, ao regulamentar um
artigo da Lei de Patentes, autorizou o licenciamento obrigatório
de produtos em casos de "emergência nacional ou de interesse
público".
Segundo apurou a Folha, a indústria farmacêutica dos EUA teme que o decreto dê ao Ministério
da Saúde o poder de considerar
preços abusivos de remédios como um caso de "interesse público", que justificaria a obtenção
forçada das patentes para a produção emergencial de remédios.
Em sua viagem ao Brasil, Daley
estará acompanhado do presidente mundial da gigante farmacêutica Merck, Raymond Gilmartin, e do vice-presidente da Pfizer
para a América Latina, Ian Read.
Outros executivos de 16 companhias o acompanharão, entre eles
o presidente da AOL (America
Online) para a América Latina,
Charles Herington, cinco executivos de companhias energéticas e
o vice-presidente da BellSouth.
Licenciamento compulsório
consiste no poder de governos
obrigarem, em situações excepcionais, que companhias titulares
de patentes forneçam segredos
industriais ao poder público (ou a
outras empresas) por prazos temporários.
O princípio geral do licenciamento compulsório já constava
da Lei de Patentes, de 96, e faz parte dos acordos internacionais sobre o assunto. Ele visa garantir o
fornecimento ao mercado de produtos essenciais em casos extremos, nos quais as companhias
donas das patentes não conseguem suprir o mercado, não fabriquem o produto ou se neguem
a licenciá-lo.
Preocupação
Os EUA estão especialmente
preocupados com o artigo do decreto que obriga os titulares das
patentes a "transmitir as informações necessárias e suficientes à
efetiva reprodução do objeto protegido, à supervisão de montagem e os demais aspectos técnicos
e comerciais aplicáveis ao caso em
espécie".
Aço
Daley rebateu críticas de que os
EUA estariam sendo protecionistas ao impor tarifas antidumping
às exportações de aço brasileiras.
"Não há outro país tão aberto
quanto o nosso", disse ele, mencionando o fato de que os EUA
têm hoje o maior déficit comercial de sua história.
O secretário defendeu ainda a
legalidade da legislação norte-americana que permite a punição
de exportações de um determinado país mesmo quando o volume
exportado por ele é irrelevante
dentro do mercado dos EUA.
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