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PRIVATIZAÇÃO
Presidente rechaça lobby nacionalista e manda bancada abortar lei que favorece banco nacional
Estrangeiro disputa Banespa, diz FHC
Carlos Eduardo/Folha Imagem
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O presidente Fernando Henrique Cardoso durante reunião da Câmara de Política Econômica, na 4� |
ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília
KENNEDY ALENCAR
da Reportagem Local
O presidente Fernando Henrique Cardoso disse anteontem à
noite, com todas as letras, que não
cederá às pressões para alterar o
decreto que permite a venda de
até 100% do Banespa a bancos estrangeiros.
"Nada muda", afirmou FHC
durante conversa informal com
três jornalistas, depois do jantar
de homenagem ao presidente do
Paraguai, Luiz Gonzalez Macchi,
no Itamaraty.
"Mesmo com as pressões, presidente?", indagou um jornalista.
"Mesmo com pressões", respondeu, virando-se para Macchi para
brincar e desviar o assunto.
FHC vai desconsiderar o pedido
de políticos aliados para restringir
a participação do capital externo
no leilão de privatização.
A decisão foi tomada na quarta-feira de manhã, no Palácio da Alvorada, em reunião com ministros e o presidente do Banco Central, Armínio Fraga.
Mais tarde, no Palácio do Planalto, o ministro Aloysio Nunes
(Secretaria Geral) e Pedro Parente
(Casa Civil) transmitiram a posição presidencial aos líderes do governo Arnaldo Madeira (Câmara), Arthur Virgílio (Congresso) e
José Roberto Arruda (Senado).
Madeira recebeu orientação para inviabilizar a tramitação de um
projeto destinado a favorecer grupos nacionais interessados no Banespa. Falou com líderes de partidos, que asseguraram serem nulas as chances de a Câmara aprovar tal medida.
FHC fez uma avaliação política
e econômica da onda nacionalista, que, nos jornais de quarta-feira, fora engrossada pelo governador Mário Covas (PSDB-SP) e pelo presidente do Senado, Antonio
Carlos Magalhães (PFL-BA). Michel Temer (PMDB-SP), presidente da Câmara, e outros aliados
já haviam se manifestado.
O presidente julga ser puro jogo
de cena a pressão de seus aliados
para restringir a entrada de concorrentes estrangeiros. Como os
bancos nacionais são grandes
contribuintes nas campanhas
eleitorais, pega bem aparecer como defensor do setor.
A base de apoio do governo é a
mesma que aprovou no Congresso a abertura da economia, o fim
da diferença entre empresa nacional e estrangeira e o projeto de
privatização de FHC. No Planalto,
um auxiliar do presidente brinca
que os aliados não estão posando
""para inglês ver", mas para ""banqueiro tupiniquim ver".
Até o presidente joga esse jogo.
Um ministro diz que, apesar de
não mudar as regras, FHC gostaria que um banco nacional comprasse o Banespa.
Na manhã de quarta-feira, na
reunião semanal da Câmara de
Política Econômica (FHC participa dela uma vez por mês), o presidente pediu uma avaliação sobre
o pleito nacionalista. Participaram do encontro Pedro Malan
(Fazenda), Pedro Parente (Casa
Civil), Alcides Tápias (Desenvolvimento) e Armínio Fraga (Banco
Central), entre outros auxiliares.
Fraga, que preside o Banco Central, encarregado do processo de
privatização do Banespa, julgou
inválidos os argumentos pró-nacionalização. O principal deles:
um banco nacional teria mais dificuldade de especular contra a
política econômica e de tirar dinheiro do país no caso de uma crise global.
Malan e Parente apoiaram Fraga. Após a reunião, um auxiliar de
FHC comentou que dois bancos
nacionais, o Itaú e o Safra, tiveram
ganhos significativos ao apostar
na desvalorização do real, em janeiro de 99. Ambos estão inscritos na disputa pelo Banespa, com
o Bradesco e o Unibanco. Os outros postulantes são estrangeiros:
HSBC, Citibank, BankBoston,
Santander e Bilbao Vizcaya.
O presidente ratificou a posição
do governo a fim de eliminar todas as possibilidades de favorecer
bancos nacionais. No Congresso,
parlamentares do PPB ao PT, sobretudo de São Paulo, defendem
que o leilão do Banespa seja restrito a bancos nacionais.
FHC avaliou que, no momento
em que o governo precisa fazer
caixa para cumprir o ajuste fiscal
acordado com o FMI (Fundo Monetário Internacional), não faz
sentido restringir a concorrência
pelo Banespa -o que diminuiria
seu preço. Julgou ainda que uma
inflexão nacionalista agora seria
um péssimo sinal para os investidores estrangeiros, que aplicaram
diretamente US$ 31 bilhões no
Brasil no ano passado.
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