São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2000


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PRIVATIZAÇÃO
Presidente rechaça lobby nacionalista e manda bancada abortar lei que favorece banco nacional
Estrangeiro disputa Banespa, diz FHC

Carlos Eduardo/Folha Imagem
O presidente Fernando Henrique Cardoso durante reunião da Câmara de Política Econômica, na 4�


ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília

KENNEDY ALENCAR
da Reportagem Local

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse anteontem à noite, com todas as letras, que não cederá às pressões para alterar o decreto que permite a venda de até 100% do Banespa a bancos estrangeiros.
"Nada muda", afirmou FHC durante conversa informal com três jornalistas, depois do jantar de homenagem ao presidente do Paraguai, Luiz Gonzalez Macchi, no Itamaraty.
"Mesmo com as pressões, presidente?", indagou um jornalista. "Mesmo com pressões", respondeu, virando-se para Macchi para brincar e desviar o assunto.
FHC vai desconsiderar o pedido de políticos aliados para restringir a participação do capital externo no leilão de privatização.
A decisão foi tomada na quarta-feira de manhã, no Palácio da Alvorada, em reunião com ministros e o presidente do Banco Central, Armínio Fraga.
Mais tarde, no Palácio do Planalto, o ministro Aloysio Nunes (Secretaria Geral) e Pedro Parente (Casa Civil) transmitiram a posição presidencial aos líderes do governo Arnaldo Madeira (Câmara), Arthur Virgílio (Congresso) e José Roberto Arruda (Senado).
Madeira recebeu orientação para inviabilizar a tramitação de um projeto destinado a favorecer grupos nacionais interessados no Banespa. Falou com líderes de partidos, que asseguraram serem nulas as chances de a Câmara aprovar tal medida.
FHC fez uma avaliação política e econômica da onda nacionalista, que, nos jornais de quarta-feira, fora engrossada pelo governador Mário Covas (PSDB-SP) e pelo presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). Michel Temer (PMDB-SP), presidente da Câmara, e outros aliados já haviam se manifestado.
O presidente julga ser puro jogo de cena a pressão de seus aliados para restringir a entrada de concorrentes estrangeiros. Como os bancos nacionais são grandes contribuintes nas campanhas eleitorais, pega bem aparecer como defensor do setor.
A base de apoio do governo é a mesma que aprovou no Congresso a abertura da economia, o fim da diferença entre empresa nacional e estrangeira e o projeto de privatização de FHC. No Planalto, um auxiliar do presidente brinca que os aliados não estão posando ""para inglês ver", mas para ""banqueiro tupiniquim ver".
Até o presidente joga esse jogo. Um ministro diz que, apesar de não mudar as regras, FHC gostaria que um banco nacional comprasse o Banespa.
Na manhã de quarta-feira, na reunião semanal da Câmara de Política Econômica (FHC participa dela uma vez por mês), o presidente pediu uma avaliação sobre o pleito nacionalista. Participaram do encontro Pedro Malan (Fazenda), Pedro Parente (Casa Civil), Alcides Tápias (Desenvolvimento) e Armínio Fraga (Banco Central), entre outros auxiliares.
Fraga, que preside o Banco Central, encarregado do processo de privatização do Banespa, julgou inválidos os argumentos pró-nacionalização. O principal deles: um banco nacional teria mais dificuldade de especular contra a política econômica e de tirar dinheiro do país no caso de uma crise global.
Malan e Parente apoiaram Fraga. Após a reunião, um auxiliar de FHC comentou que dois bancos nacionais, o Itaú e o Safra, tiveram ganhos significativos ao apostar na desvalorização do real, em janeiro de 99. Ambos estão inscritos na disputa pelo Banespa, com o Bradesco e o Unibanco. Os outros postulantes são estrangeiros: HSBC, Citibank, BankBoston, Santander e Bilbao Vizcaya.
O presidente ratificou a posição do governo a fim de eliminar todas as possibilidades de favorecer bancos nacionais. No Congresso, parlamentares do PPB ao PT, sobretudo de São Paulo, defendem que o leilão do Banespa seja restrito a bancos nacionais.
FHC avaliou que, no momento em que o governo precisa fazer caixa para cumprir o ajuste fiscal acordado com o FMI (Fundo Monetário Internacional), não faz sentido restringir a concorrência pelo Banespa -o que diminuiria seu preço. Julgou ainda que uma inflexão nacionalista agora seria um péssimo sinal para os investidores estrangeiros, que aplicaram diretamente US$ 31 bilhões no Brasil no ano passado.


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