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EXPLOSIVO
Com dívidas de mais de R$ 120 mi e parte das atividades paralisada, Imbel deve entrar em programa de socorro do governo
Estatal do setor bélico vive sua maior crise
FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
Sufocada pela falta de investimento e por uma dívida que já ultrapassa R$ 120 milhões, a Imbel
(Indústria de Material Bélico do
Brasil), estatal ligada ao Ministério da Defesa, passa pelo momento mais crítico desde a sua criação,
em 1975, pelo então presidente
Ernesto Geisel (1974-1979). O prejuízo registrado pela Imbel, somados os últimos cinco anos, chega a
R$ 171,1 milhões.
Entre os meses de maio e junho
deste ano, os funcionários de quatro das cinco unidades da Imbel
-Piquete (SP), Juiz de Fora
(MG), Rio de Janeiro e Magé (ambas no Rio)- realizaram uma
greve que durou 25 dias, a maior
da história da empresa.
Os motivos da paralisação: atraso no pagamento de salários e de
benefícios como cesta básica e vale-transporte, além do corte no
plano de saúde -que ainda não
foi restabelecido.
Com o pagamento dos atrasados no início do mês passado, as
quatro unidades em greve voltaram a operar, juntamente com a
de Itajubá (MG), única que não
aderiu à paralisação.
Entretanto, em pelo menos
duas cidades -Piquete e Magé-
parte dos funcionários ainda não
decidiu retornar ao trabalho, ou
está atuando por meio período,
porque faltam matérias-primas
para produzir e até alimentação
para os operários.
"Não há matéria-prima e também não há encomendas. Por isso, metade dos funcionários de
Piquete ainda está em casa", disse
o vice-presidente do Sindicato
dos Trabalhadores nas Indústrias
Químicas de Lorena, Piquete e
Região, José Roberto Chagas.
A unidade da empresa produz
foguetes e explosivos, como pólvora e dinamite. "Este é o pior
momento da Imbel. Ninguém
tem certeza do que vai acontecer."
Crise local
Com cerca de 15 mil habitantes,
Piquete (205 km a nordeste de São
Paulo), localizada na região do
Vale do Paraíba, tem na Imbel a
sua principal empregadora. A
unidade local chegou a ter 4.500
funcionários, mas atualmente
emprega apenas 500. O atraso no
pagamento dos salários gerou
uma crise no comércio local e
também é motivo de preocupação em toda a cidade.
A Imbel, aliás, paga um dos
mais baixos salários dentro do setor no país. O piso salarial nas cinco fábricas é o mínimo (R$ 300), e
a grande maioria dos empregados
(86%) recebe até R$ 400 por mês.
O salário médio dos trabalhadores em Piquete é de R$ 324, segundo o sindicato.
"O ministro da Defesa e vice-presidente da República, José
Alencar, disse, em reunião no dia
2 de junho, em Brasília, que a situação da Imbel é de falência. Só
não fechou ainda porque é uma
empresa do governo", declarou a
presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas de Barbacena e Região (que
representa os funcionários da Imbel de Juiz de Fora), Marilu Gabriel Lima dos Santos.
Futuro
Está em curso nos ministérios
da Defesa e do Exército um estudo para definir o futuro da Imbel.
A Folha apurou que o governo
considera a possibilidade de investir na empresa e saneá-la, dentro, inclusive, da nova Política Nacional de Indústria de Defesa,
projeto que, desde o início do ano,
tramita no ministério e que prevê
incentivos e financiamento para o
setor. Por outro lado, o corte de
funcionários e até mesmo o fechamento das unidades também são
estudados.
Fundada em 1975, durante o regime militar, a Imbel agregou todas as fábricas de material bélico
do governo. Hoje são cinco unidades, que têm entre os seus principais produtos, na área de explosivos, a nitroglicerina, o TNT e a
pólvora. A empresa também fabrica munições calibre 90 e 105.
No setor de armamentos, produz os fuzis 556 e 762, usados pelos exércitos do Brasil e de outros
países da América Latina, além da
pistola .45, utilizada pelo FBI, a
polícia federal dos Estados Unidos. A empresa produz ainda materiais de comunicação, como sistemas de rádio, antenas e telefones de campanha.
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