São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 2005

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EXPLOSIVO

Com dívidas de mais de R$ 120 mi e parte das atividades paralisada, Imbel deve entrar em programa de socorro do governo

Estatal do setor bélico vive sua maior crise

FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

Sufocada pela falta de investimento e por uma dívida que já ultrapassa R$ 120 milhões, a Imbel (Indústria de Material Bélico do Brasil), estatal ligada ao Ministério da Defesa, passa pelo momento mais crítico desde a sua criação, em 1975, pelo então presidente Ernesto Geisel (1974-1979). O prejuízo registrado pela Imbel, somados os últimos cinco anos, chega a R$ 171,1 milhões.
Entre os meses de maio e junho deste ano, os funcionários de quatro das cinco unidades da Imbel -Piquete (SP), Juiz de Fora (MG), Rio de Janeiro e Magé (ambas no Rio)- realizaram uma greve que durou 25 dias, a maior da história da empresa.
Os motivos da paralisação: atraso no pagamento de salários e de benefícios como cesta básica e vale-transporte, além do corte no plano de saúde -que ainda não foi restabelecido.
Com o pagamento dos atrasados no início do mês passado, as quatro unidades em greve voltaram a operar, juntamente com a de Itajubá (MG), única que não aderiu à paralisação.
Entretanto, em pelo menos duas cidades -Piquete e Magé- parte dos funcionários ainda não decidiu retornar ao trabalho, ou está atuando por meio período, porque faltam matérias-primas para produzir e até alimentação para os operários.
"Não há matéria-prima e também não há encomendas. Por isso, metade dos funcionários de Piquete ainda está em casa", disse o vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas de Lorena, Piquete e Região, José Roberto Chagas.
A unidade da empresa produz foguetes e explosivos, como pólvora e dinamite. "Este é o pior momento da Imbel. Ninguém tem certeza do que vai acontecer."

Crise local
Com cerca de 15 mil habitantes, Piquete (205 km a nordeste de São Paulo), localizada na região do Vale do Paraíba, tem na Imbel a sua principal empregadora. A unidade local chegou a ter 4.500 funcionários, mas atualmente emprega apenas 500. O atraso no pagamento dos salários gerou uma crise no comércio local e também é motivo de preocupação em toda a cidade.
A Imbel, aliás, paga um dos mais baixos salários dentro do setor no país. O piso salarial nas cinco fábricas é o mínimo (R$ 300), e a grande maioria dos empregados (86%) recebe até R$ 400 por mês. O salário médio dos trabalhadores em Piquete é de R$ 324, segundo o sindicato.
"O ministro da Defesa e vice-presidente da República, José Alencar, disse, em reunião no dia 2 de junho, em Brasília, que a situação da Imbel é de falência. Só não fechou ainda porque é uma empresa do governo", declarou a presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas de Barbacena e Região (que representa os funcionários da Imbel de Juiz de Fora), Marilu Gabriel Lima dos Santos.

Futuro
Está em curso nos ministérios da Defesa e do Exército um estudo para definir o futuro da Imbel. A Folha apurou que o governo considera a possibilidade de investir na empresa e saneá-la, dentro, inclusive, da nova Política Nacional de Indústria de Defesa, projeto que, desde o início do ano, tramita no ministério e que prevê incentivos e financiamento para o setor. Por outro lado, o corte de funcionários e até mesmo o fechamento das unidades também são estudados.
Fundada em 1975, durante o regime militar, a Imbel agregou todas as fábricas de material bélico do governo. Hoje são cinco unidades, que têm entre os seus principais produtos, na área de explosivos, a nitroglicerina, o TNT e a pólvora. A empresa também fabrica munições calibre 90 e 105.
No setor de armamentos, produz os fuzis 556 e 762, usados pelos exércitos do Brasil e de outros países da América Latina, além da pistola .45, utilizada pelo FBI, a polícia federal dos Estados Unidos. A empresa produz ainda materiais de comunicação, como sistemas de rádio, antenas e telefones de campanha.

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