São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 2005

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FOLHAINVEST

BOLSA

Apesar da má fase da Bovespa, há papéis que chegaram a render 83% a mais que o Certificado de Depósito Interbancário

Ações mais rentáveis superam até o CDI

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar dos juros de quase 20% ao ano e de a Bovespa estar no vermelho, é possível encontrar ações que batem o CDI (Certificado de Depósito Interbancário). Algumas ações subiram mais de 100% neste ano, enquanto o Ibovespa (Índice da Bolsa) acumula no ano queda de 6,77%.
Em relação ao CDI, que é uma taxa privada que os bancos negociam entre si ao trocar reservas, o tombo do Ibovespa é bem maior, de 14,68%. O CDI segue muito de perto a Selic, a taxa de juros de referência do governo. O acumulado do CDI neste ano, até quinta-feira passada, está em 9,32%, e a Selic, no período, está em 9,34%.
A pedido da Folha, a Economática elaborou uma lista com as 20 empresas mais rentáveis, que superaram o CDI, neste ano, até a quinta-feira passada (veja quadro ao lado). Só entraram na relação papéis com boa liquidez (negociados com volume médio diário de R$ 100 mil e que tiveram participação em pelo menos 70% dos pregões da Bovespa).
Embora muitos tenham ganhado dinheiro com essas ações, nada garante a rentabilidade futura desses papéis. Gestores recomendam analisar se as ações ainda têm possibilidade de ganho, com boas perspectivas de resultados.
Há, entretanto, na lista, empresas consideradas sólidas, com boas perspectivas, como Petrobras, Bradesco, Unibanco, AmBev e Petroflex, entre outras.
"É preciso distinguir essas empresas que têm história de resultados de outras que tiveram algum tipo de evento que provocou correção expressiva de preço", diz Jorge Simino, da MS Consulting.
Das 20 ações selecionadas, 4 são da área de energia elétrica. Mas o setor é considerado complicado por alguns analistas. Fundos nacionais e internacionais deixaram de investir no setor por um tempo e agora voltaram a vê-lo "com bons olhos", segundo Valmir Celestino, gestor do Banco Safra (veja texto na pág. B5).
A número um da lista, a Transmissão Paulista ON, acumulou alta de 113,6% no período e expressivos 83% sobre o CDI. Foi impulsionada pelo anúncio de privatização da companhia.
A AES Tietê, também do setor elétrico, é considerada de baixo risco por alguns gestores porque toda a sua geração de energia foi vendida para a Eletropaulo, e a um bom preço. "Por outro lado, não tem muito potencial de crescimento, mas deve pagar bons dividendos", diz Celestino .

Bancos e teles
O segmento que mais se beneficiou, em 2005, com a melhor relação risco/retorno, segundo alguns analistas, foi o de bancos.
O setor foi muito beneficiado pela alta taxa de juros e pelo crescimento do crédito. Sem contar os "spreads", que continuam altos, lembra Celestino.
No caso do Unibanco, houve enxugamento do quadro de funcionários, com corte de custos. Havia a perspectiva de o banco melhorar, o que foi comprovado pelos resultados no primeiro trimestre. O Bradesco também teve bom desempenho. Foi a instituição financeira com o maior crescimento na taxa de crédito. E teve maior retorno em rentabilidade.
Segundo analistas, os resultados desses bancos ainda devem vir bem no terceiro trimestre deste ano. "Mas, se o Banco Central cortar juros mais agressivamente, talvez não consigam a mesma rentabilidade", diz Celestino.
Apesar de o setor de telecomunicações ter apanhado muito na Bolsa no primeiro semestre, a Telemar Tele Norte Leste conseguiu superar o CDI em quase 8%. As ações preferenciais da companhia estão negativas em 5% neste ano. No caso da Tim Sul, "empresa-mãe da Telemar ON", a alta "resulta de especulação brava do que ocorre no mercado de telecomunicações", afirma Simino.

Outros setores
Confira o panorama de algumas empresas de outros setores, na avaliação dos especialistas:
Guararapes: beneficiou-se da taxa de crédito. Dona das lojas Riachuelo, que vende muitos de seus artigos, a companhia ganha na produção, na comercialização e no financiamento de clientes. Tem boas perspectivas de crescimento, de acordo com Celestino.
Dasa: proprietária de laboratórios como o Delboni. Passou a negociar ações em Bolsa no ano passado. "Tem um histórico de crescimento por aquisições. A empresa prometeu entregar aumento de 20% dos negócios que tem, além de agregar mais R$ 100 milhões em novos negócios. Já comprou dois laboratórios em 2005. O mercado acredita que continuará a crescer com aquisições. "Não solta grandes resultados, mas deve crescer, diz Celestino.
AmBev: problemas na Schincariol impulsionaram os papéis da concorrente, pela possibilidade de a companhia crescer em participação no mercado. A demora na chegada do frio no Sudeste também contribuiu para um bom resultado nas vendas. A companhia também tem uma política de recompra de ações.
Petrobras ON: ações subiram também com a alta do barril de petróleo, que nunca esteve tão alto. Mesmo que o repasse para o consumidor não tenha acompanhado a elevação internacional, a empresa beneficiou-se da queda do dólar. Sem contar os sucessivos recordes na produção.
Net: o problema é a dívida. "Está em segmento que pode crescer, mais em banda larga do que em TV por assinatura. Se reestruturar a dívida de forma salutar, é uma empresa que pode crescer em banda larga", afirma Celestino.

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