São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 2005

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EM PRESTAÇÕES

Comprometimento do salário com empréstimos não pára de crescer; expansão do crédito deve perder força, diz especialista

Brasileiro está mais endividado, revela estudo

Lalo de Almeida - 25.nov.03/Folha Imagem
Funcionário de financeira faz divulgação de linha de crédito em São Paulo com notas fictícias de real


SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM TOTAL

O nível de endividamento do brasileiro não pára de crescer desde o ano passado, apesar da escalada dos juros. Estudo da MS Consult mostra que, em maio, o saldo das operações de crédito à pessoa física correspondeu a 65% da massa de salários (multiplicada por 12 meses). O índice deu um salto desde julho do ano passado, quando estava em 52%.
O indicador, segundo Jorge Simino, diretor da MS Consult, é uma forma de estimar o nível de endividamento das pessoas, diante da ausência de pesquisas nacionais sobre o tema. Esse percentual vem em ascensão desde 1996, quando o volume de crédito equivalia a 25% da massa salarial. Do início de 2000 a meados de 2001, o indicador saltou de 30% para 50%, oscilando entre 45% e 50% até o final de 2002. De janeiro de 2003 a maio deste ano, o índice cresceu de 45% para 65%.
O indicador é calculado dividindo-se o volume total de operações de crédito para pessoas físicas (dados do Banco Central) pela massa salarial nominal mensal (IBGE) multiplicada por 12 meses. O pressuposto é que, ao tomar crédito, a pessoa conta com a manutenção da renda nominal pelo prazo de um ano. No varejo, o prazo médio dos financiamentos está em 14 meses.
Dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, feita pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo, restrita à região metropolitana, mostram que também vem crescendo a parcela da renda comprometida com prestações. Em junho, os endividados tinham 39% da renda comprometida com prestações a pagar.
Em fevereiro do ano passado, quando teve início a pesquisa, esse índice era de 32%. "O dado inclui dívidas com cartão de crédito, cheque especial, empréstimo pessoal -inclusive o crédito consignado- e prestações em geral", diz Antonio Carlos Borges, diretor-executivo da Fecomercio.
O atual nível de comprometimento de renda com dívidas é considerado alto pelos analistas. "As dívidas feitas para consumo não deveriam ultrapassar 20% da renda. Apenas no caso da compra de imóvel, quando a pessoa está substituindo o aluguel pela prestação, admite-se um comprometimento de 30%", observa o consultor financeiro Mauro Halfeld, professor da Universidade Federal do Paraná.

"Saturação"
Segundo Borges, "o problema maior não é ter dívidas, mas deixar de pagá-las". Segundo a pesquisa da Fecomercio, 52% dos endividados estão com contas em atraso. No início da pesquisa, em fevereiro de 2004, 39% tinham pagamentos atrasados -em janeiro deste ano eram 36%. "Isso indica uma saturação do modelo de expansão da demanda sustentada pelo crédito", afirma Borges.
Para ele, o espaço para a expansão do crédito para a pessoa física -que cresceu 40,4% nos 12 meses encerrados em maio- deve se estreitar nos próximos meses. "A renda do trabalhador não consegue crescer no mesmo ritmo do crédito. Isso vai gerar aumento da inadimplência e desaceleração das vendas." Sua projeção é que as vendas no comércio em São Paulo cresçam apenas 3% neste ano.
Os dados da Fecomercio mostram expansão do faturamento de 7,11% de janeiro a maio -último dado disponível- em relação a igual período do ano passado. Mas, se forem excluídas as vendas de veículos e de eletrodomésticos -que puxaram o índice-, o crescimento no período foi de 3%, segundo Borges.

Mercado de trabalho
Para Octávio de Barros, economista-chefe do Bradesco, "ainda há espaço para a expansão do crédito porque o mercado de trabalho está indo surpreendentemente bem". Ele lembra que o emprego e a massa real de salários vêm crescendo -apesar de o rendimento médio real do trabalhador estar com leve queda.
Segundo a Fundação Seade, o total de ocupados cresceu 4,5% nos 12 meses encerrados em abril, e a massa real de salários aumentou 3,76%. "A massa salarial tem alta porque o emprego cresce", afirma Barros. Já o rendimento médio real -que é quanto vai para o bolso de cada trabalhador- caiu 0,24% no período.
Como a renda do trabalhador não está crescendo, a saída é espichar o prazo de pagamento a cada financiamento feito, avalia Miguel Oliveira, vice-presidente da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade).
Nos 12 meses encerrados em maio, o prazo médio dos financiamentos à pessoa física aumentou em 16 dias, mostram dados do Banco Central. Em maio, o prazo médio das operações de crédito chegou a 237 dias (pouco mais de sete meses), seu nível mais alto desde dezembro de 2003.
Nas grandes redes de varejo e nas revendas de automóveis, os prazos vêm sendo maiores que a média captada pelo BC. O prazo máximo para a compra de veículos saltou de 48 meses, em julho de 2003, para 60 meses hoje.
"Nas grandes redes de varejo, o prazo médio dos financiamentos hoje é de 14 meses. Em julho de 2003 era de oito meses", observa Oliveira. "Algumas redes já fazem promoções em que a primeira prestação só vence seis meses após a compra", afirma ele.

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