São Paulo, sábado, 10 de junho de 2006

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Crise do gás natural faz subir preço do produto em botijão

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O efeito "Evo Morales" chegou ao bolso do consumidor brasileiro. É que a crise do gás natural detonada pela nacionalização dos ativos da Petrobras e outras petroleiras na Bolívia fez crescer o consumo de GLP (Gás Liqüefeito de Petróleo) no Brasil e conseqüentemente elevou o preço do produto nas revendas. O botijão de 13 kg do gás de cozinha subiu 1,26% em maio, segundo o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), do IBGE.
Em abril, o gás de botijão já havia subido 0,67%. De janeiro a maio, acumula alta de 4,06%, maior do que a variação de todo o ano de 2005 (0,25%). O IPC-DI, da FGV, também apontou a disparada dos preços do gás de cozinha -aumento de 0,92% em maio e de 3,71% no ano.
Segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo), o consumo do gás de cozinha cresceu de 5% a 8% de abril para maio, dependendo da região do país. Para o superintendente de Abastecimento da agência, Roberto Ardenghy, a crise da Bolívia fez subir a demanda, embora o gás natural não seja insumo para a fabricação do GLP, produzido exclusivamente em refinaria a partir do petróleo.
A corrida pelo gás de cozinha, provocada pelo temor do desabastecimento, afetou tanto indústrias como consumidores residenciais. De acordo com Ardenghy, houve "um efeito psicológico da crise que atingiu a dona-de-casa", que ficou com receio de ficar sem gás por causa de uma eventual crise de abastecimento de gás natural e passou a estocar o produto (apesar de nada ter a ver com o gás boliviano). A maior parte do acréscimo do consumo, entretanto, teve origem na indústria, que optou por fazer estoques preventivos de GLP.
É que muitos ramos precisam da chamada "queima contínua" de combustível para produzir (como o de cerâmica), diz Ardenghy, e optaram por comprar GLP já que não podem substituir o gás natural por lenha nem por óleo combustível.
Ardenghy disse, no entanto, que o aumento do consumo de gás de cozinha, embora tenha sido atípico, não teve impacto significativo nos preços, a julgar pelos dados coletados pela própria ANP.
Pelos dados da agência, o preço médio do botijão de gás de cozinha de 13 kg passou de R$ 31,92 na primeira semana de maio para R$ 32,25 na última semana do mês passado -alta de 1,03%.
O aumento acumulado no ano apontado pela FGV, dizem especialistas, ou é resultado de ganho de margem ou de elevação de tributos, já que a Petrobras não reajusta o GLP na refinaria desde 2002.
A FGV argumenta que o maior consumo culminou em reajustes de preço: "As informações que tivemos é que o receio causado pela crise da Bolívia levou os consumidores a estocarem botijões, o que fez subir a demanda e resultou no aumento de preço", disse André Braz, economista da FGV, responsável pela coleta do IGP-DI.
Sérgio Bandeira de Mello, presidente do Sindigás (Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de GLP), afirmou que, de fato, houve um aumento de consumo por causa da crise do gás natural, fruto da desinformação do consumidor, que não foi informado sobre a procedência do gás de cozinha (que não tem relação com o gás natural). Tal ampliação do mercado de GLP, expressiva para um único mês, não teve impacto nos preços do botijão, segundo o executivo.
O Sindigás acredita que a expansão do consumo foi de 10% a 15%, de acordo com a região e a destinação do produto.
Além da crise da Bolívia, o clima mais frio do que o habitual em maio em muitas regiões do país também fez crescer o consumo de GLP, utilizado em aquecimento, dizem tanto Ardenghy, da ANP, como Bandeira de Mello, do Sindigás.


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