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Crise do gás natural faz subir preço do produto em botijão
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O efeito "Evo Morales" chegou ao bolso do consumidor
brasileiro. É que a crise do gás
natural detonada pela nacionalização dos ativos da Petrobras
e outras petroleiras na Bolívia
fez crescer o consumo de GLP
(Gás Liqüefeito de Petróleo) no
Brasil e conseqüentemente elevou o preço do produto nas revendas. O botijão de 13 kg do
gás de cozinha subiu 1,26% em
maio, segundo o IPCA (Índice
de Preços ao Consumidor Amplo), do IBGE.
Em abril, o gás de botijão já
havia subido 0,67%. De janeiro
a maio, acumula alta de 4,06%,
maior do que a variação de todo
o ano de 2005 (0,25%). O IPC-DI, da FGV, também apontou a
disparada dos preços do gás de
cozinha -aumento de 0,92%
em maio e de 3,71% no ano.
Segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo), o consumo
do gás de cozinha cresceu de
5% a 8% de abril para maio, dependendo da região do país. Para o superintendente de Abastecimento da agência, Roberto
Ardenghy, a crise da Bolívia fez
subir a demanda, embora o gás
natural não seja insumo para a
fabricação do GLP, produzido
exclusivamente em refinaria a
partir do petróleo.
A corrida pelo gás de cozinha,
provocada pelo temor do desabastecimento, afetou tanto indústrias como consumidores
residenciais. De acordo com
Ardenghy, houve "um efeito
psicológico da crise que atingiu
a dona-de-casa", que ficou com
receio de ficar sem gás por causa de uma eventual crise de
abastecimento de gás natural e
passou a estocar o produto
(apesar de nada ter a ver com o
gás boliviano). A maior parte do
acréscimo do consumo, entretanto, teve origem na indústria,
que optou por fazer estoques
preventivos de GLP.
É que muitos ramos precisam da chamada "queima contínua" de combustível para
produzir (como o de cerâmica),
diz Ardenghy, e optaram por
comprar GLP já que não podem
substituir o gás natural por lenha nem por óleo combustível.
Ardenghy disse, no entanto,
que o aumento do consumo de
gás de cozinha, embora tenha
sido atípico, não teve impacto
significativo nos preços, a julgar pelos dados coletados pela
própria ANP.
Pelos dados da agência, o preço médio do botijão de gás de
cozinha de 13 kg passou de R$
31,92 na primeira semana de
maio para R$ 32,25 na última
semana do mês passado -alta
de 1,03%.
O aumento acumulado no
ano apontado pela FGV, dizem
especialistas, ou é resultado de
ganho de margem ou de elevação de tributos, já que a Petrobras não reajusta o GLP na refinaria desde 2002.
A FGV argumenta que o
maior consumo culminou em
reajustes de preço: "As informações que tivemos é que o receio causado pela crise da Bolívia levou os consumidores a estocarem botijões, o que fez subir a demanda e resultou no aumento de preço", disse André
Braz, economista da FGV, responsável pela coleta do IGP-DI.
Sérgio Bandeira de Mello,
presidente do Sindigás (Sindicato Nacional das Empresas
Distribuidoras de GLP), afirmou que, de fato, houve um aumento de consumo por causa
da crise do gás natural, fruto da
desinformação do consumidor,
que não foi informado sobre a
procedência do gás de cozinha
(que não tem relação com o gás
natural). Tal ampliação do
mercado de GLP, expressiva
para um único mês, não teve
impacto nos preços do botijão,
segundo o executivo.
O Sindigás acredita que a expansão do consumo foi de 10%
a 15%, de acordo com a região e
a destinação do produto.
Além da crise da Bolívia, o clima mais frio do que o habitual
em maio em muitas regiões do
país também fez crescer o consumo de GLP, utilizado em
aquecimento, dizem tanto Ardenghy, da ANP, como Bandeira de Mello, do Sindigás.
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