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ALIMENTOS
Empresas tentam reduzir teor de açúcar e sal de produtos e apelam a substâncias que enganam papilas gustativas
Indústria prepara novos aromatizantes
MELANIE WARNER
DO "NEW YORK TIMES"
Várias grandes empresas de alimentos e bebidas estão examinando um novo ingrediente na
disputa pela preferência dos consumidores atentos à saúde: uma
substância química que engana as
papilas gustativas, fazendo-as
sentir o sabor de açúcar ou sal,
mesmo quando eles não estão lá.
A Kraft Food, a Nestlé, a Coca-Cola e a Campbell Soup estão trabalhando em colaboração com
uma empresa de biotecnologia
chamada Senomyx, que desenvolveu várias substâncias químicas, a maioria das quais não possui sabor, mas, em lugar disso, ativam ou bloqueiam receptores na
boca responsáveis pelo sabor.
Com o acréscimo de um dos
aromatizantes da Senomyx a seus
produtos, os fabricantes podem,
por exemplo, reduzir em entre
um terço e metade o teor de açúcar numa bolacha ou de sal numa
lata de sopa, conservando o sabor
doce ou salgado original.
Hoje, por exemplo, uma lata de
sopa de frango caseira Campbell's, segundo a empresa, tem
mais de 2.300 miligramas de sódio. Esse teor provavelmente seria
reduzido para pouco mais de
1.500 miligramas com o acréscimo da substância química (o governo recomenda que o consumo
diário de sódio não exceda os
2.400 miligramas).
Diferentemente dos edulcorantes artificiais, os compostos químicos da Senomyx não serão listados separadamente nos rótulos
de ingredientes. Em lugar disso,
serão agrupados numa categoria
ampla, a dos "aromatizantes artificiais", já encontrada nos rótulos
da maioria dos alimentos.
"Estamos ajudando as empresas a enxugar seus rótulos", disse
o executivo-chefe da Senomyx,
Kent Snyder.
Sediada em San Diego, a empresa utiliza muitas das mesmas técnicas de pesquisa aplicadas por
empresas de biotecnologia na
criação de drogas novas. Executivos dizem que um receptor gustativo ou uma família de receptores
na língua ou na boca são responsáveis por reconhecer cada sabor.
A empresa afirma que, usando a
seqüência do genoma humano, já
identificou centenas desses receptores gustativos. Seus compostos
químicos ativam os receptores de
uma maneira que acentua o sabor
de açúcar ou de sal.
Enquanto os especialistas em
segurança de alimentos aplaudem os esforços para reduzir o
teor de sal, glutamato monossódico e açúcar nos alimentos, eles expressam receios em relação aos
compostos, dizendo que é preciso
realizar mais testes antes que eles
possam ser incluídos em alimentos vendidos aos consumidores.
Mas a Senomyx afirma que seus
novos produtos são seguros porque serão usados apenas em proporções minúsculas.
A Kraft, a Nestlé, a Coca-Cola e a
Campbell Soup já fecharam com a
Senomyx contratos para o direito
de uso exclusivo dos ingredientes
em determinados tipos de alimentos e bebidas, embora as empresas tenham se negado a identificar essas categorias.
Elise Wang, analista da Smith
Barney, disse que a Kraft pretende
utilizar o aromatizante doce da
Senomyx para reduzir em um terço o teor de açúcar de bebidas em
pó como Kool-Aid.
Um porta-voz da Kraft se negou
a dar informações específicas sobre a relação da empresa com a
Senomyx, mas disse que a Kraft
está comprometida com a idéia
de reduzir os níveis de sal e açúcar
de muitos de seus produtos. A
Nestlé e a Coca-Cola também se
negaram a comentar.
O produto da Senomyx que
realça o sabor salgado possui o
potencial de ser uma dádiva para
a indústria alimentar. Há anos,
cientistas de empresas procuram
em vão maneiras de reduzir os níveis de sódio presentes em alimentos processados sem fazê-los
perder seu sabor.
O Centro de Ciência no Interesse Público, de Washington, quer
fazer com que a FDA (Food and
Drug Administration, agência
norte-americana que fiscaliza alimentos e remédios) preste mais
atenção aos níveis de sódio contidos em alimentos embalados.
Snyder disse que os intensificadores de sal da Senomyx ainda estão em fase de desenvolvimento e
levarão pelo menos dois anos para aparecer em alimentos. O produto mais avançado da empresa,
disse ele, é um substituto do glutamato monossódico que, no mês
passado, conseguiu a aprovação
de segurança da Associação de
Fabricantes de Aromatizantes e
Extratos. Ele prevê que alimentos
contendo o produto apareçam
nos supermercados no primeiro
semestre do próximo ano.
Substituto
Embora médicos e consumidores já reconheçam os riscos do
consumo excessivo de sal e açúcar, o glutamato monossódico
não é tão largamente visto como
aditivo alimentar potencialmente
perigoso. Usado como intensificador de sabor, ele é encontrado
em batatas fritas aromatizadas,
molhos, sopas em pó e produtos à
base de carne.
Mark Zoller, cientista-chefe da
Senomyx, disse que o produto
que vai substituir o glutamato
monossódico poderá ser usado
também no lugar de outros produtos comumente usados para
realçar o sabor de alimentos, como proteína vegetal hidrolisada e
extrato de fermento autolisado.
Como os compostos aromatizantes da Senomyx serão usados
em proporções pequenas (menos
de uma parte por milhão), a empresa poderá passar ao largo do
prolongado processo de aprovação da FDA necessário para levar
aditivos alimentícios ao mercado.
Para conseguir o status de "geralmente reconhecido como seguro"
(simbolizado pela sigla Gras) da
Associação de Fabricantes de
Aromatizantes e Extratos, a Senomyx levou menos de 18 meses,
incluindo um estudo de segurança conduzido com ratos, que levou três meses.
Michael Jacobson, diretor-executivo do Centro de Ciência no
Interesse Público, confirmou a capacidade dos produtos da Senomyx de reduzir o teor de sal,
açúcar e glutamato monossódico
de alimentos, mas aconselhou
que não seja autorizado o ingresso de um novo composto químico
nos alimentos sem que tenha sido
submetido a testes rigorosos.
"Um estudo de apenas três meses
é totalmente inadequado", disse.
Segundo informações registradas na SEC (Securites and Exchange Commission, equivalente
americana da CVM), Kraft Foods,
Nestlé, Coca-Cola e Campbell
Soup, juntas, já pagaram à Senomyx US$ 30 milhões para financiar a pesquisa e o desenvolvimento dos produtos. Quando os
aromatizantes forem incorporados a alimentos, a Senomyx disse
que cobrará royalties de 1% a 4%
sobre as vendas dos produtos.
Embora a empresa ainda vá levar vários anos para começar a
apresentar lucros, o preço de suas
ações quase dobrou desde que ela
abriu seu capital, em junho passado. No último ano fiscal, a Senomyx perdeu US$ 19,7 milhões,
ante uma receita de pesquisas de
US$ 8,3 milhões.
Elise Wang, da Smith Barney,
fez uma projeção segundo a qual
os royalties das vendas de produtos alimentícios chegarão a US$
50 milhões em 2008.
Tradução de Clara Allain
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