São Paulo, domingo, 10 de abril de 2005

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RETOMADA

Fim do processo de renovação tecnológica beneficia trabalho na indústria

Para analistas, emprego superou crise

CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise mais grave do emprego na indústria brasileira, constatada nos anos 90, é página virada, na análise de economistas e empresários. A tendência é as fábricas voltarem a admitir -o que já se nota nos indicadores de emprego- para poder dar conta do crescimento econômico, mesmo que esse não seja tão expressivo.
Para um grupo de economistas e empresários, o emprego vai crescer na indústria porque alguns setores já completaram boa parte do processo de renovação tecnológica e de enxugamento da mão-de-obra, provocado sobretudo pela abertura da economia brasileira, nos anos 90.
Para outro grupo, ainda é temerário afirmar que a modernização das fábricas, que, na prática, significou a troca de trabalhadores por equipamentos, chegou perto do limite. Mas concordam que a reestruturação foi tão intensa nos anos 90 que qualquer crescimento econômico, a partir de agora, deve resultar em contratações.
"Tudo leva a crer que qualquer crescimento econômico que resultar em aumento de produção deve elevar proporcionalmente também o emprego. Muitos setores -papel e celulose, petroquímico e siderúrgico- já completaram a fase mais intensa de modernização tecnológica", diz David Kupfer, do Grupo de Indústria e Competitividade do Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Apesar de esses setores não serem os que mais empregam -em 2003, respondiam por cerca de 7,3% da indústria de transformação e por 1,3% do mercado formal de trabalho-, é positivo, na análise de especialistas, que tenham "encerrado" a troca maciça de homens por máquinas.
O processo de substituição de mão-de-obra é perene na história do Brasil, na análise de Fábio de Silveira, da MS Consult. "Mas, sem dúvida, se os juros pararem de subir, como se prevê, a produção e o pessoal ocupado têm tudo para crescer daqui para a frente, mesmo a taxas modestas", diz.
Exemplo é o que ocorre no setor metalúrgico -especialmente na indústria automobilística. Após cortar 1,5 milhão de empregos em 17 anos (1985 a 2002), o setor voltou a crescer e a empregar.
Nos últimos dois anos, as metalúrgicas contrataram 200 mil trabalhadores, segundo pesquisa do Dieese e da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT.
"Vivemos o pior dos mundos por um longo período, em que tivemos recessão e um processo de reestruturação das empresas em larga escala. Hoje, a história é outra. A produção atingiu um patamar em que fabricar mais significa criar mais vagas", diz José Lopez Feijóo, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Que as fábricas estão mais enxutas, ninguém duvida, assim como ninguém duvida de que o emprego industrial, que voltou a crescer, sobretudo no ano passado, deva também se expandir neste ano."Isso é reflexo do crescimento econômico. As grandes indústrias estão mais modernas que no passado. Mas, para as empresas de médio e pequeno porte, o processo de atualização tecnológica está ainda no pré-primário", afirma Claudio Vaz, presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo).
Há mais de uma década, parte dos empresários e dos economistas diz que, mesmo com crescimento econômico, o emprego não voltaria a crescer tão rapidamente. A tese era que, com ou sem expansão do país, o emprego industrial seguiria em queda livre por alguns anos, pelo menos.
"O emprego em 2004 negou a tese que foi propalada durante anos no país: a de que a indústria brasileira tinha perdido totalmente a sua capacidade de criar empregos com carteira assinada", diz o economista Claudio Dedecca, professor da Unicamp.
De 95 a 99, enquanto o PIB cresceu 1,7% ao ano, em média, o emprego industrial caiu 0,78% ao ano. De 2000 a 2003, a situação se inverteu: enquanto o PIB cresceu 1,96%, em média, por ano, o emprego cresceu 6,75% ao ano. "Essa situação deve se manter daqui para a frente", diz Marcio Pochmann, economista da Unicamp.

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