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RETOMADA
Fim do processo de renovação tecnológica beneficia trabalho na indústria
Para analistas, emprego superou crise
CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise mais grave do emprego
na indústria brasileira, constatada
nos anos 90, é página virada, na
análise de economistas e empresários. A tendência é as fábricas
voltarem a admitir -o que já se
nota nos indicadores de emprego- para poder dar conta do
crescimento econômico, mesmo
que esse não seja tão expressivo.
Para um grupo de economistas
e empresários, o emprego vai
crescer na indústria porque alguns setores já completaram boa
parte do processo de renovação
tecnológica e de enxugamento da
mão-de-obra, provocado sobretudo pela abertura da economia
brasileira, nos anos 90.
Para outro grupo, ainda é temerário afirmar que a modernização
das fábricas, que, na prática, significou a troca de trabalhadores
por equipamentos, chegou perto
do limite. Mas concordam que a
reestruturação foi tão intensa nos
anos 90 que qualquer crescimento econômico, a partir de agora,
deve resultar em contratações.
"Tudo leva a crer que qualquer
crescimento econômico que resultar em aumento de produção
deve elevar proporcionalmente
também o emprego. Muitos setores -papel e celulose, petroquímico e siderúrgico- já completaram a fase mais intensa de modernização tecnológica", diz David Kupfer, do Grupo de Indústria
e Competitividade do Instituto de
Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Apesar de esses setores não serem os que mais empregam -em
2003, respondiam por cerca de
7,3% da indústria de transformação e por 1,3% do mercado formal
de trabalho-, é positivo, na análise de especialistas, que tenham
"encerrado" a troca maciça de homens por máquinas.
O processo de substituição de
mão-de-obra é perene na história
do Brasil, na análise de Fábio de
Silveira, da MS Consult. "Mas,
sem dúvida, se os juros pararem
de subir, como se prevê, a produção e o pessoal ocupado têm tudo
para crescer daqui para a frente,
mesmo a taxas modestas", diz.
Exemplo é o que ocorre no setor
metalúrgico -especialmente na
indústria automobilística. Após
cortar 1,5 milhão de empregos em
17 anos (1985 a 2002), o setor voltou a crescer e a empregar.
Nos últimos dois anos, as metalúrgicas contrataram 200 mil trabalhadores, segundo pesquisa do
Dieese e da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT.
"Vivemos o pior dos mundos
por um longo período, em que tivemos recessão e um processo de
reestruturação das empresas em
larga escala. Hoje, a história é outra. A produção atingiu um patamar em que fabricar mais significa criar mais vagas", diz José Lopez Feijóo, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Que as fábricas estão mais enxutas, ninguém duvida, assim como ninguém duvida de que o emprego industrial, que voltou a
crescer, sobretudo no ano passado, deva também se expandir neste ano."Isso é reflexo do crescimento econômico. As grandes indústrias estão mais modernas que
no passado. Mas, para as empresas de médio e pequeno porte, o
processo de atualização tecnológica está ainda no pré-primário",
afirma Claudio Vaz, presidente
do Ciesp (Centro das Indústrias
do Estado de São Paulo).
Há mais de uma década, parte
dos empresários e dos economistas diz que, mesmo com crescimento econômico, o emprego
não voltaria a crescer tão rapidamente. A tese era que, com ou
sem expansão do país, o emprego
industrial seguiria em queda livre
por alguns anos, pelo menos.
"O emprego em 2004 negou a
tese que foi propalada durante
anos no país: a de que a indústria
brasileira tinha perdido totalmente a sua capacidade de criar empregos com carteira assinada",
diz o economista Claudio Dedecca, professor da Unicamp.
De 95 a 99, enquanto o PIB cresceu 1,7% ao ano, em média, o emprego industrial caiu 0,78% ao
ano. De 2000 a 2003, a situação se
inverteu: enquanto o PIB cresceu
1,96%, em média, por ano, o emprego cresceu 6,75% ao ano. "Essa
situação deve se manter daqui para a frente", diz Marcio Pochmann, economista da Unicamp.
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