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MERCADO DE TRABALHO
Número de matriculados recua 14% entre 1991 e 2003, enquanto procura por administração quase triplica
Estudantes fogem de cursos de economia
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Pouco mais de 60 mil jovens estudavam economia em 2003. Em
tempos de explosão de vagas do
ensino superior, o curso de ciências econômicas comeu poeira.
Entre 1991 e o ano retrasado, o número de alunos matriculados caiu
14%. No mesmo período, o número de estudantes de administração, por exemplo, quase triplicou, alcançando a marca de mais
de meio milhão de universitários.
Levantamento do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), autarquia vinculada ao Ministério da Educação, mostra que os
cursos que, de uma forma ou de
outra, podem "concorrer" com o
de economia pela preferência dos
vestibulandos se deram bem melhor nos últimos anos. Cresceram
os números de matriculados em
administração, direito, contabilidade e engenharia.
A década de 90 e o início dos
anos 2000 foram definitivamente
dos cursos de administração, pelo
menos se o termômetro é o número de pessoas estudando a disciplina. Foram, em 2003, 565 mil
matrículas. Volume que coloca o
curso no primeiro lugar no ranking nacional da preferência dos
universitários.
No mesmo ano, os que estavam
sentados nos bancos de economia
chegavam a pouco mais de 10%
do total de estudantes de administração. O desinteresse se explica. Por um lado, parte dos jovens
diz acreditar que estudar economia os levará a uma estrada cujo
único fim é o mercado financeiro
-a um banco ou, talvez, à Bolsa.
Por outro, há quem associe a profissão a planos econômicos mirabolantes e fracassos recorrentes,
algo não tão "pé no chão" quanto
eles gostariam. Uma boa parte
corre para os cursos de administração, em que esperam encontrar uma formação mais abrangente do que a dos economistas.
"Os estudantes avaliam que o
curso de administração é mais
amplo, com uma formação que
abrirá portas para buscar vaga em
várias áreas", diz Silvio Bock, da
Nasce Orientação Vocacional.
"Intromissões"
Correta ou não, essa percepção
tem mantido os jovens longe dos
bancos dos cursos de economia.
Curioso é que o desinteresse no
Brasil ocorre justamente quando
os economistas, a princípio, têm
visto seu campo de trabalho aumentar. É pelo menos essa a conclusão inevitável de quem dá uma
olhada rápida no tipo de pesquisa
em que eles têm se envolvido.
Mais do que o mundo do dinheiro e da Bolsa, hoje há economistas se "intrometendo" em várias áreas. Entre os mais recentes
trabalhos disponíveis no site do
NBER (sigla em inglês para Serviço Nacional de Pesquisa Econômica e importante centro americano), há pesquisas sobre como
os pais decidem em que escola colocar os filhos, ou sobre possíveis
explicações para a taxa de suicídio
entre jovens, ou ainda uma avaliação sobre o quanto os trabalhadores são ouvidos nas empresas. Há
economistas atuando em saúde,
trânsito, educação, legislação.
É claro que eles se intrometem
com o que sabem, como economistas, e estão sempre a postos
para avaliar o quanto cada escolha irá custar em uma situação específica. A administração municipal deve colocar um pedágio nos
acessos ao centro da cidade para
reduzir o trânsito? Com muita estatística, econometria e acesso aos
dados sobre tráfego e sobre o
comportamento dos motoristas,
os economistas podem ajudar a
prever quais seriam as mudanças,
se elas valeriam a pena, quais seriam os prós e contras da medida.
"O economista recebe uma formação ampla. Formação que permite com que ele lide com processos de escolha, quando existem
restrições de recursos. Essa é uma
situação que ocorre em todas as
áreas", afirma Heron do Carmo,
economista e presidente do Corecon-SP (Conselho Regional de
Economia de São Paulo).
Ele não arrisca uma única resposta sobre a origem do desinteresse dos jovens. Anos de crises,
com inflação nas alturas e descontrole macroeconômico, diz Heron, podem ter criado a impressão de que a profissão está intimamente ligada ao mundo do dinheiro, das contas e das planilhas
financeiras. Esse pode ser o mundo dos economistas, como muitos outros, diz Heron. Para tentar
derrubar os mitos ou desentendimentos, o Corecon lançou até
uma campanha publicitária (leia
texto nesta página) no início deste
ano, com cartazes pelo metrô de
São Paulo, tentando mostrar que
o trabalho dos economistas ultrapassa a Bolsa de Valores.
A economia brasileira anda
mais em ordem do que no passado, lembra Heron. O que, porém,
não significa, na avaliação dele,
que está mais fácil lidar com ela.
"Hoje, a economia é mais aberta.
Estamos mais conectados com o
mundo. E, justamente por isso,
ter um economista para ajudar a
planejar, a prever, a entender os
cenários nacional e internacional
é cada vez mais necessário", diz o
economista do Corecon.
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