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LIÇÕES CONTEMPORÂNEAS
Força e fraquezas do dólar
LUIZ GONZAGA BELLUZZO
Na segunda metade da década de 90, os EUA, mesmo
com um déficit em conta corrente
em ampliação, foram capazes de
se beneficiar de uma forte revalorização de sua moeda (depois de
uma queda pronunciada em
1995). A economia cresceu a taxas
elevadas, e as expectativas otimistas impulsionavam os preços dos
ativos. Em razão da sua capacidade de atrair recursos externos
para os mercados de "securities",
os americanos puderam se dar ao
luxo de sustentar uma política
monetária expansionista, apesar
da acelerada ampliação do déficit
em conta corrente.
Nesse mesmo período, as sucessivas crises das moedas e dos mercados financeiros na periferia incitaram a demanda por títulos do
governo norte-americano, considerados de maior qualidade. O
fluxo de capitais e os bons resultados fiscais da era de "alto crescimento" permitiram a manutenção das taxas de juros de longo
prazo em níveis confortáveis.
Desde o início dos anos 80, a política do dólar forte permitiu à
economia americana retomar o
crescimento sem pressões inflacionárias, com elevação dos salários
reais e expansão da demanda nominal acima da renda corrente.
Os EUA conseguem, simultaneamente, obter transferências de liquidez, de renda real e de capitais
do resto do mundo. À elevação do
déficit comercial corresponde
uma tentativa de obtenção de saldos comerciais crescentes dos demais países industrializados.
O ciclo dos anos 90 e a rápida
recuperação da minirrecessão de
2001 comprovaram a eficácia e o
poder dessa forma de integração
financeira e produtiva: a abertura das contas de capital do resto
do mundo propiciou à economia
dos EUA a oportunidade de sustentar uma formidável expansão
do crédito ao consumo. A alavancagem das famílias e a exuberância do mercado imobiliário são a
contrapartida do portentoso afluxo de capitais, mobilizado a partir das posições superavitárias em
conta corrente e das reservas acumuladas na Ásia.
Mas, apesar do crescimento rápido do fluxo de demanda "oficial", gerada pelos bancos centrais, mais de 70% do "estoque"
de títulos do Tesouro americano
estão abrigados nos portfólios privados, particularmente nos administrados pelos grandes investidores institucionais. Sendo assim, as avaliações diárias e quase
instantâneas feitas nos mercados
secundários a respeito dos preços
desses ativos são decisivas para
determinar os movimentos das
taxas de câmbio e de juros. As antecipações quanto às perspectivas
de inflação, por exemplo, podem
provocar mudanças nos preços
dos ativos, afetar as taxas de câmbio e as relações entre taxas de juros nas diferentes moedas.
Os relatórios do FMI e do Banco
Mundial, publicados na última
semana, apostam que o aumento
dos déficits gêmeos vai empurrar
o dólar para níveis ainda mais
baixos. Essa desvalorização, dizem, caso ocorra de forma rápida,
deverá acelerar a saída dos ativos
denominados na moeda americana, o que, por sua vez, vai acentuar a queda do dólar. As taxas
de juros de longo prazo vão começar a subir, exigindo do Fed a elevação das taxas curtas. Neste momento, não é seguro afirmar nem
que estejamos diante de uma tendência firme nem que, como de
outras vezes, a moeda americana
vá recuperar a sua força.
Luiz Gonzaga Belluzzo, 61, é professor
titular de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Foi chefe
da Secretaria Especial de Assuntos Econômicos do Ministério da Fazenda (governo Sarney) e secretário de Ciência e
Tecnologia do Estado de São Paulo (governo Quércia).
E-mail - BelluzzoP@aol.com
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