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Impostos e crescimento
ANNA BERNASEK
A reforma fiscal, assim como um segundo casamento,
é o triunfo da esperança sobre a
experiência. Os EUA acabam de
passar pelos cortes fiscais mais
abrangentes desde a década de 80,
mas quase ninguém está satisfeito. O presidente Bush afirma que
precisamos de impostos ainda
mais baixos para prosperar. Alan
Greenspan (presidente do Fed)
sugere uma mudança radical para
um imposto sobre consumo. E o
Partido Republicano visa todo o
sistema fiscal.
No centro desse sentimento antiimpostos está a seguinte crença:
os impostos são ruins para a economia. E quem discordaria?
Há um problema. Apesar da
idéia generalizada de que os impostos prejudicam a economia,
ninguém conseguiu sustentar isso. Não que os impostos não tenham efeito. São parte importante do sistema econômico e influenciam quem ganha e quem
perde em uma sociedade competitiva. Mas há evidências de que os
índices de impostos são um fator
importante para determinar a
prosperidade econômica do país.
Teoricamente, a questão parece
muito simples. Segundo os princípios econômicos básicos, um
imposto pode ter um efeito negativo sobre o comportamento, ao
reduzir o incentivo para fazer
qualquer coisa que seja taxada.
Depois há as evidências. Nos últimos 30 anos, economistas realizaram centenas de estudos para
determinar se os impostos prejudicam a economia. Até agora eles
apresentaram pouco para condenar os impostos. Depois de rever a
literatura sobre o assunto em
1993, dois economistas, William
Easterly, da Universidade de Nova York, e Sergio Rebelo, da
Northswestern, concluíram em
um trabalho conjunto que "a evidência de que os índices de impostos influem no crescimento é
perturbadoramente frágil".
Um importante especialista em
impostos de hoje, Joel B. Slemrod,
da Universidade de Michigan,
concordaria. Ele nota que, no século 20, o crescimento da carga
fiscal nos EUA e em outros países
desenvolvidos acompanhou o aumento da prosperidade.
Isso não pretende sugerir que os
altos índices de impostos levam
ao crescimento. Nenhum economista defenderá essa tese, embora
muitos possam dizer que algumas
coisas financiadas por impostos,
como educação, pesquisa, saúde e
projetos de infra-estrutura, podem contribuir para o crescimento. Mas isso coloca em questão
por que, se os impostos são tão
ruins para o crescimento, seu efeito não se mostra de modo mais
proeminente.
Uma área importante da atividade econômica que parece reagir
bastante aos índices de impostos
são os investimentos empresariais. Parte dessa reação pode ter
mais a ver com as mudanças no
ritmo das decisões do que em mudanças no nível de investimentos
em longo prazo.
No caso da poupança individual
e do trabalho, os economistas estão mais perto de um consenso.
Depois de estudo dos cortes fiscais no governo Reagan, a maioria
dos economistas concorda que os
impostos não influem muito em
quanto os americanos trabalham.
Vale a pena lembrar disso quando considerar propostas como
um imposto único ou um imposto sobre consumo. Com tanta
energia concentrada em reduzir
os índices, é importante ter em
mente que os impostos não são a
antítese da prosperidade.
Mas a reforma baseada na idéia
de que os impostos são ruins para
a economia é isso: uma idéia não
sustentada por fortes evidências.
E os custos de ignorar a experiência em favor da esperança podem
ser altos: déficits crescentes, infra-estrutura decadente, investimento inadequado em educação pública e pesquisa.
Por isso, na próxima vez que algum defensor da reforma fiscal
prometer grandes benefícios econômicos, há motivos para duvidar. Assim como um segundo casamento, um novo sistema fiscal
não pode operar milagres.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Este artigo foi publicado originalmente
no "New York Times"
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