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FINANCIAL TIMES
Quanto maiores os desastres, mais raros
Economistas discutem que tipo de previsão é possível fazer sem errar
SAMUEL BRITTAN
DO "FINANCIAL TIMES"
Winston Churchill disse que um
jovem político precisa ter "a capacidade para prever o que vai acontecer amanhã, na próxima semana, no próximo mês e no próximo
ano. E depois ter a capacidade para explicar por que não aconteceu". Só a última parte é possível.
Dez anos atrás, observadores
bem informados teriam concordado com o seguinte: a inflação é
endêmica nas economias ocidentais; o Partido Trabalhista britânico é inelegível; o pleno emprego
nunca mais será alcançado; os
EUA são uma economia esclerosada, mas o Japão tem o segredo
do crescimento. Essa lista foi tirada de um estudo de Bob Tyrrell,
recém-publicado pelo Centro de
Estudos Políticos: "Things Can
Only Get... Different" (As coisas
só podem ficar... diferentes). Infelizmente, os cenários de Tyrrell
para os próximos anos não parecem muito convincentes.
A questão interessante é por
que é tão difícil fazer previsões
-e o que podemos afirmar mesmo sem ter uma bola de cristal. Os
problemas da previsão se originam na complexidade dos fenômenos. Friedrich Hayek foi virtualmente proscrito por outros
economistas por duvidar da possibilidade de se descobrir regularidades simples e quantitativas
entre variáveis econômicas -o
que os economistas tentaram fazer no último meio século.
O que falta então descobrir? Para Hayek, os economistas, assim
como os biólogos, se preocupam
com regras e padrões. Um estudante da evolução pode dizer algo
sobre as condições em que as espécies evoluem, mas não pode
prever quais serão ou quando
ocorrerão. Graças aos avanços da
física matemática é possível dizer
mais sobre esses padrões na natureza e na sociedade. Um guia fascinante é o livro "Equity" (Equidade), de Mark Buchanan.
Já ouvimos algumas teorias sobre o caos e as catástrofes. Buchanan discute um terceiro "c": a
complexidade. Ele usa a analogia
de um monte de areia. Se for suficientemente íngreme, alguns
grãos a mais podem causar um
distúrbio; mas sem conhecer a
posição de cada grão é impossível
dizer onde ou quando ocorrerá. O
monte de areia, no entanto, está
num "estado crítico" -isto é,
vulnerável a distúrbios- que ele
acredita ser típico da vida social.
Considere um único grão caindo sobre o monte e desencadeando uma série de distúrbios. As autoridades deveriam ser capazes de
retirar um pouco de areia, para
reduzir a vulnerabilidade do
monte? Infelizmente, não. Para
prever o desastre, as autoridades
"precisariam ter um conhecimento quase perfeito da posição dos
grãos de todo o monte, juntamente com um poder de computação
ilimitado para desvendar as consequências da queda de um grão".
Assim, não há como dizer antecipadamente quais grãos deveriam
ser removidos e para onde.
Não obstante, existe um padrão
da "lei de poder" que pode ser
aplicado a terremotos e fenômenos semelhantes. Ela diz que a frequência dos distúrbios é inversamente proporcional a seu tamanho. Quanto maiores, mais raros.
A lei de poder mais simples é a
lei do quadrado invertido. O terremoto B, com o dobro da força
do terremoto A, tem quatro vezes
menos probabilidade de acontecer. Para cada cidade dos Estados
Unidos como Atlanta, com uma
população de 4 milhões, existem
quatro cidades com a metade dessa população -por exemplo,
Cincinnati. E para cada Cincinnati também existem quatro cidades
com a metade dessa população.
Um exemplo diferente está relacionado à riqueza. Descubra
quantas pessoas nos EUA têm
uma fortuna líquida de US$ 1 bilhão e saberá que quatro vezes esse número de pessoas têm um valor líquido de US$ 500 milhões, e
assim por diante. A lei do quadrado invertido não é a única lei de
poder. As guerras foram estudadas em relação às mortes envolvidas. Cada vez que se duplica o número de mortes, as guerras se tornam -não quatro vezes, mas
2,62 vezes- menos prováveis.
Não existem leis deterministas
da história relativas às causas da
guerra: somente as leis de poder
que sugerem que as grandes guerras são, felizmente, menos frequentes que as pequenas. Guerras
e revoluções "não ocorrem em ciclos simples e não avisam sua chegada por telegrama", da mesma
forma que os terremotos. Mesmo
a magnitude da próxima alteração da Bolsa é imprevisível. As
grandes quebras dos mercados
são eventos ordinários, mas raros.
Buchanan tem a modéstia de
admitir que a pesquisa está apenas começando. Existem vários
problemas de medição e a necessidade de maior reflexão sobre
por que essas leis são aplicáveis.
Existem áreas que não estão em
estado crítico, nas quais se pode
planejar com maior confiança?
Existem pelo menos duas na macroeconomia. Existe a previsão
em prazo muito curto, digamos 6
a 12 meses, quando o estatístico
pode dizer alguma coisa com base
nas variações típicas entre eventos já ocorridos, como os aumentos no preço do petróleo ou as explosões salariais.
Também há tendências para
cinco anos ou mais. Por exemplo,
as autoridades britânicas descobriram que para quase qualquer
período a tendência de crescimento anual foi de 2,25%. Mesmo
essa tendência é apenas uma possibilidade. É provável que ocorram distúrbios raros que provoquem décadas de crescimento
acima ou abaixo da tendência, cujos motivos serão explicados depois do evento.
O estudo da complexidade está
na infância, mas pelo menos oferece uma perspectiva de se aplicar
métodos científicos aos assuntos
humanos sem pretender ter uma
bola de cristal mágica.
Tradução de Luiz Roberto Mendes
Gonçalves
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