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POUSO DA ÁGUIA
Após se desvalorizar quase 30% ante o dólar, moeda européia inicia 2001 com perspectiva de elevação
Crise nos EUA abre espaço para euro subir
JOSÉLIA AGUIAR
DE LONDRES
O euro começou o ano com a
maior cotação ante o dólar em
seis meses e a adesão do 12� país, a
Grécia. E, se é consenso que o
crescimento da economia mundial vai perder o fôlego nos próximos meses, os EUA sentirão um
baque muito mais estrondoso que
a eurozona.
Por esses fatores, a maioria dos
analistas repetiu no decorrer da
última semana que 2001 marcará
o renascimento do euro (a moeda
única européia), que acaba de
completar dois anos.
Bons presságios estão sendo
previstos para uma moeda que só
fará parte da vida dos cidadãos
comuns a partir do ano que vem,
quando começa a circular de fato
-até agora, o euro é o que se chama de "escritural".
A previsão do mercado é que logo o euro recuperará a paridade
com o dólar. "Será uma grande
surpresa se isso não ocorrer", disse à Folha Charles Goodhart, professor de economia da London
School of Economics, especialista
em mercado financeiro, taxas de
câmbio e bancos centrais. "O que
acontecerá depois da paridade
continua bastante nebuloso",
acrescenta.
Juros
Tudo vai depender, segundo
Goodhart, de como reagirá o mercado depois do súbito corte nos
juros anunciado na semana passada pelo Fed (Federal Reserve), o
banco central norte-americano,
em uma tentativa de evitar uma
queda ainda maior do ritmo de
expansão do país.
Abruptamente, o Fed baixou os
juros básicos da economia de
6,5% para 6% ao ano.
Em outubro, quando a moeda
única despencava, Goodhart dizia
que a época era propícia para investir em euros, pois estava seguramente subvalorizado e se recuperaria mais cedo ou mais tarde.
Se havia razões para temer uma
crise, afirmava, elas estavam nos
EUA, não na Europa.
Ano ruim
O ano passado certamente não
foi bom para o euro. A moeda européia chegou a recuar um terço
de seu valor ante a norte-americana e foi rejeitada pelos dinamarqueses por meio de um referendo.
No auge da crise, no final de setembro, o Banco Central Europeu, responsável pela política monetária dos 11 países da União Européia que haviam adotado o euro, fez uma intervenção em defesa
da moeda com a ajuda dos BCs
dos EUA, do Japão e de outros
membros do G-7, grupo que reúne os países mais industrializados
do mundo.
A investida surtiu efeito apenas
no curtíssimo prazo. Logo a moeda européia começou a cair de novo e alcançou o recorde de queda
de US$ 0,8230 -quando surgiu,
em 1� de janeiro de 99, o euro era
mais forte que o dólar e valia US$
1,17. Uma desvalorização acumulada de 29,65% entre os dois extremos.
Depois do veto da Dinamarca,
pesquisas de opinião revelaram
que havia crescido a rejeição à
moeda única em países da União
Européia que ainda não haviam
aderido, como o Reino Unido e a
Suécia.
Mas os sinais de desaquecimento dos EUA (queda na produção
industrial, PIB recuando quase
pela metade e aumento do desemprego, entre outros indicadores) começaram a ajudar a moeda
única, que já recuperou 15% de
seu valor nos últimos três meses.
"A moeda única deve alcançar a
paridade com o dólar até junho",
prevê Neil Parker, economista do
Royal Bank of Scotland.
Inflação
Nem tudo está resolvido, porém. Analistas reconhecem que o
euro se beneficia muito mais dos
tropeços da economia dos EUA
do que dos feitos econômicos da
eurozona. "O crescimento da Europa tenderá a cair este ano, o desemprego deve parar de recuar, e
a inflação continuará a ser uma
ameaça", avalia Goodhart, da
LSE.
Para ele, a maior dificuldade do
BCE será decidir se reduz ou não
os juros -se diminuir, pode
comprometer a estabilidade dos
preços; se deixar como estão, ou
mesmo aumentá-los, pode dificultar o crescimento da economia. Na semana passada, resolveu
não mexer na taxa.
"Se o euro subir acima da paridade, podemos ter um corte nos
juros. Mas, se continuar em torno
de US$ 0,90, é possível que tenhamos um aumento nas taxas", afirmou Norbert Walter, economista-chefe do Deutsche Bank.
Audrey Childe-Freeman, economista do CIBC World Markets
em Londres, afirma que as perspectivas para a eurozona são mais
favoráveis se comparadas com as
dos EUA, e a moeda única se beneficiará disso. "O euro será a
moeda de melhor desempenho
neste novo ano", diz.
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