São Paulo, segunda-feira, 08 de janeiro de 2001

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POUSO DA ÁGUIA
Após se desvalorizar quase 30% ante o dólar, moeda européia inicia 2001 com perspectiva de elevação
Crise nos EUA abre espaço para euro subir

JOSÉLIA AGUIAR
DE LONDRES

O euro começou o ano com a maior cotação ante o dólar em seis meses e a adesão do 12� país, a Grécia. E, se é consenso que o crescimento da economia mundial vai perder o fôlego nos próximos meses, os EUA sentirão um baque muito mais estrondoso que a eurozona.
Por esses fatores, a maioria dos analistas repetiu no decorrer da última semana que 2001 marcará o renascimento do euro (a moeda única européia), que acaba de completar dois anos.
Bons presságios estão sendo previstos para uma moeda que só fará parte da vida dos cidadãos comuns a partir do ano que vem, quando começa a circular de fato -até agora, o euro é o que se chama de "escritural".
A previsão do mercado é que logo o euro recuperará a paridade com o dólar. "Será uma grande surpresa se isso não ocorrer", disse à Folha Charles Goodhart, professor de economia da London School of Economics, especialista em mercado financeiro, taxas de câmbio e bancos centrais. "O que acontecerá depois da paridade continua bastante nebuloso", acrescenta.

Juros
Tudo vai depender, segundo Goodhart, de como reagirá o mercado depois do súbito corte nos juros anunciado na semana passada pelo Fed (Federal Reserve), o banco central norte-americano, em uma tentativa de evitar uma queda ainda maior do ritmo de expansão do país.
Abruptamente, o Fed baixou os juros básicos da economia de 6,5% para 6% ao ano.
Em outubro, quando a moeda única despencava, Goodhart dizia que a época era propícia para investir em euros, pois estava seguramente subvalorizado e se recuperaria mais cedo ou mais tarde. Se havia razões para temer uma crise, afirmava, elas estavam nos EUA, não na Europa.

Ano ruim
O ano passado certamente não foi bom para o euro. A moeda européia chegou a recuar um terço de seu valor ante a norte-americana e foi rejeitada pelos dinamarqueses por meio de um referendo.
No auge da crise, no final de setembro, o Banco Central Europeu, responsável pela política monetária dos 11 países da União Européia que haviam adotado o euro, fez uma intervenção em defesa da moeda com a ajuda dos BCs dos EUA, do Japão e de outros membros do G-7, grupo que reúne os países mais industrializados do mundo.
A investida surtiu efeito apenas no curtíssimo prazo. Logo a moeda européia começou a cair de novo e alcançou o recorde de queda de US$ 0,8230 -quando surgiu, em 1� de janeiro de 99, o euro era mais forte que o dólar e valia US$ 1,17. Uma desvalorização acumulada de 29,65% entre os dois extremos.
Depois do veto da Dinamarca, pesquisas de opinião revelaram que havia crescido a rejeição à moeda única em países da União Européia que ainda não haviam aderido, como o Reino Unido e a Suécia.
Mas os sinais de desaquecimento dos EUA (queda na produção industrial, PIB recuando quase pela metade e aumento do desemprego, entre outros indicadores) começaram a ajudar a moeda única, que já recuperou 15% de seu valor nos últimos três meses.
"A moeda única deve alcançar a paridade com o dólar até junho", prevê Neil Parker, economista do Royal Bank of Scotland.

Inflação
Nem tudo está resolvido, porém. Analistas reconhecem que o euro se beneficia muito mais dos tropeços da economia dos EUA do que dos feitos econômicos da eurozona. "O crescimento da Europa tenderá a cair este ano, o desemprego deve parar de recuar, e a inflação continuará a ser uma ameaça", avalia Goodhart, da LSE.
Para ele, a maior dificuldade do BCE será decidir se reduz ou não os juros -se diminuir, pode comprometer a estabilidade dos preços; se deixar como estão, ou mesmo aumentá-los, pode dificultar o crescimento da economia. Na semana passada, resolveu não mexer na taxa.
"Se o euro subir acima da paridade, podemos ter um corte nos juros. Mas, se continuar em torno de US$ 0,90, é possível que tenhamos um aumento nas taxas", afirmou Norbert Walter, economista-chefe do Deutsche Bank.
Audrey Childe-Freeman, economista do CIBC World Markets em Londres, afirma que as perspectivas para a eurozona são mais favoráveis se comparadas com as dos EUA, e a moeda única se beneficiará disso. "O euro será a moeda de melhor desempenho neste novo ano", diz.


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