São Paulo, segunda-feira, 08 de janeiro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GLOBALIZAÇÃO
Segundo estudo de ex-economista do Bird, país tem pouquíssimas empresas candidatas a internacionalização
Custo do dinheiro barra múlti brasileira

22.dez.00 - France Presse
Plataforma da Petrobras (RJ), empresa que segundo estudo tem potencial de internacionalização


CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

O Brasil tem "pouquíssimas" empresas em situação de participante do mercado global e, consequentemente, candidatas a se transformarem em companhias internacionais ou multinacionais. O custo do dinheiro é o maior obstáculo a uma mudança nesse quadro.
As conclusões são parte de um estudo de Cláudio Frischtak, ex-economista do Banco Mundial, hoje consultor da empresa Worldinvest, em estudo publicado no livro "Brasil 500 Anos - Passado, Presente e Futuro".
O livro reúne os trabalhos apresentados em maio deste ano no 12� Fórum Nacional, coordenado pelo ex-ministro do Planejamento, João Paulo dos Reis Velloso.
Frischtak parte do princípio de que ter empresas internacionais é uma condição importante para que o país se afirme economicamente no cenário mundial.
Segundo ele, "a projeção não-militar de poder" se dá por meio da capacidade de as nações estabelecerem uma marca reconhecível em outros países; e de desenvolverem uma rede de relações comerciais que inclua associações e aquisições de empresas fora das suas fronteiras.
Frischtak cita apenas seis empresas com "centro corporativo no Brasil" entre aquelas no caminho da internacionalização. São elas: Petrobras, Embraer, Sadia, Vale do Rio Doce, Gerdau e Weg (fabricante de motores elétricos).
Frischtak disse à Folha que citou as seis empresas como exemplos, mas que isso não significa que não existam outras em condições de tomar o mesmo caminho que elas estariam tomando.
No setor siderúrgico, para o qual ele prestou consultoria nos últimos anos -foi um dos assessores do processo de descruzamento acionário entre a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) e a Vale do Rio Doce-, o economista disse que, além da Gerdau, a Usiminas e a própria CSN estão também habilitadas a se internacionalizarem.
No setor de alimentos e bebidas, a recém-criada AmBev (fusão da Brahma com a Antarctica) seria outra empresa nacional que estaria dando os passos corretos no caminho da internacionalização.
No artigo, escrito antes da ratificação pelo Cade da criação da AmBev, Frischtak diz que os órgãos de defesa da concorrência não devem criar obstáculos a fusões de empresas nacionais, desde que elas assumam compromissos "críveis e verificáveis" de internacionalização.
A principal determinante para que uma empresa participe do jogo de internacionalização do mercado, segundo o economista, é "o custo de capital", o preço do dinheiro necessário à compra de empresas lá fora. "Nossas empresas têm uma desvantagem muito grande e que está diminuindo muito lentamente."
Um dos componentes do custo de capital é o chamado "risco país", para o qual são avaliados os indicadores econômicos e os cenários futuros, compondo um quadro de credibilidade e de previsibilidade da economia do país. Nessa área, Frischtak identifica que está havendo uma melhora.
Em contrapartida, outro componente importante, que é o mercado de capitais, particularmente o mercado de ações, "está se estreitando" e impedindo que as empresas tenham condições de se capitalizar por essa via.
Menos capitalizada e tendo que pagar mais caro pelo dinheiro, a empresa brasileira já começa tendo dificuldade para oferecer preços competitivos com os das empresas de outros países.
Uma das alternativas para vencer esse obstáculo seria a aquisição de uma empresa nos países desenvolvidos, para usá-la como plataforma na captação de recursos para a expansão externa.
Essa empresa não teria o risco Brasil e poderia captar dinheiro ao custo do seu país-sede. Seria, por exemplo, a estratégia do grupo Gerdau com a compra da norte-americana Ameristeel.



Texto Anterior: Banco não fez nada escondido, afirma diretor
Próximo Texto: BNDES pode ser caminho à globalização
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.