São Paulo, sábado, 30 de setembro de 2000

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RIO
Segundo a polícia, condomínios de luxo e empresas consomem 75% da eletricidade desviada em ligações clandestinas
Classe média alta furta energia elétrica

Patrícia Santos - 2.out.98/Folha Imagem
postes com ligações clandestinas na favela Nova Brasília, no Rio


SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Condomínios habitados por famílias de classe média alta e empresas equipadas com maquinário pesado são responsáveis por 75% da energia elétrica desviada no Estado do Rio. O furto dos restantes 25% de energia é creditado à população de baixa renda.
O surpreendente perfil do fraudador de energia é resultado de investigação desenvolvida pela Delegacia Especial de Crimes contra a Fazenda e a Administração Pública, da Polícia Civil.
Desde julho, a delegacia se dedica a apurar como funcionam os esquemas criminosos que resultam em furtos de luz, água, gás, linhas telefônicas e de TV a cabo.
A questão do desvio de energia elétrica foi a maior surpresa das investigações.
Os "gatos" (como são conhecidas no Rio as ligações clandestinas) de todas as favelas e comunidades carentes do Estado só representam 1/4 do total de energia que é furtado, para surpresa da delegada encarregada de comandar as investigações, Marta Cavalliere, titular da delegacia.
"Ao contrário do que imaginávamos, as maiores incidências de fraudes não têm origem nas favelas e nas chamadas comunidades carentes. Em termos de energia elétrica, somente 25% das perdas são causadas por pessoas pobres", afirmou a delegada. De acordo com o IBGE, mais de 50% dos fluminense têm renda mensal inferior a dois salários mínimos e mais de 70% ganham menos do que três mínimos.
De acordo com o que foi apurado até agora pela polícia, os maiores fraudadores são grandes condomínios residenciais da Barra da Tijuca e dos demais bairros da zona sul carioca e empresas de portes médio e grande, localizadas nas zonas norte e oeste.
De maneira sigilosa, a delegacia prepara para a segunda quinzena de outubro uma grande operação contra esses fraudadores.
Com mandados fornecidos pelo TJ (Tribunal de Justiça), policiais, peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (da Polícia Civil) e especialistas das empresas lesadas entrarão no condomínio na tentativa de flagrar as ligações clandestinas.
A delegada disse que os responsáveis pela instalação dos "gatos" serão presos em flagrante.
Inafiançável, o crime de furto de energia elétrica "ou qualquer outra que tenha valor econômico", previsto no artigo 155 do Código Penal, prevê para o seu autor pena de um ano a quatro anos de reclusão, além de multa.
"Vamos chegar ao edifício de luxo, à grande empresa, à indústria. A ordem do secretário de Segurança Pública (Josias Quintal) é para diminuir a incidência desse tipo de crime", disse Cavalliere.
A determinação de Quintal tem, também, motivos econômicos. Quanto mais há desvio de luz, água ou linhas telefônicas, por exemplo, menos imposto é arrecadado pelo Estado.
"Toda vez que ocorre uma fraude, o Estado é duplamente atingido: em primeiro lugar, com a prática do crime; em segundo, com a sonegação fiscal decorrente desse crime", afirmou a delegada.
A delegacia criou um setor para apurar exclusivamente os crimes praticados contra empresas concessionárias de serviços públicos.
Para definir o quanto os furtos representam em dinheiro, a delegacia está mantendo contatos regulares com dirigentes das empresas de energia (Light e Cerj), gás (CEG), telefonia (Embratel, Intelig e Telemar, entre outras), água (Cedae, a principal delas) e operadoras de televisão a cabo.


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