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NADA É PROIBIDO
Sistema de pontos criado na USP permite criar cardápio mais saudável em casa sem abdicar de alimentos pesados
Dieta libera gordura e controla colesterol
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Sorvete cremoso, batata frita,
bacon, ovos, manteiga, salame.
Alimentos como esses, sempre
apontados como vilões de uma vida saudável, já podem ser consumidos sem culpa mesmo por
aqueles que lutam para reduzir os
níveis de gordura no sangue. Basta moderação e saber fazer conta.
É a proposta de um novo tipo de
dieta para o controle dos níveis de
LDL (colesterol "ruim") e triglicérides, fatores de risco para doenças cardiovasculares e que afetam
ao menos 24 milhões de brasileiros. A dieta é inédita no Brasil.
O método é baseado em uma
pontuação: quanto maior a concentração gordurosa dos alimentos, maior o número de pontos. A
dieta tradicional para redução de
colesterol veta o consumo de alimentos gordurosos.
A idéia é que as pessoas possam
comer qualquer tipo de alimento,
desde que não exceda a pontuação. No caso de homens de até 55
anos, é permitido o acúmulo de
30 pontos. Para as mulheres, são
25 pontos. Os alimentos foram
classificados de acordo com a
quantidade de colesterol e de gordura saturada que possuem.
O sistema, uma adaptação da
dieta tradicional de pontos para
emagrecimento, foi desenvolvido
por pesquisadoras do Departamento de Nutrição da Faculdade
de Saúde Pública da USP de São
Paulo e demonstrou ser mais eficaz que o regime clássico.
Foram testadas 62 pessoas com
colesterol alto: metade aderiu à
dieta dos pontos e a outra metade,
à tradicional. Ao final de quatro
meses, o primeiro grupo teve redução de 18% do colesterol total,
13% de colesterol ruim e 22% de
triglicérides. Os índices de redução do grupo que seguiu a dieta
tradicional foram mais modestos:
10% no colesterol total, 9% de
LDL e 15% de triglicérides.
Para a pesquisadora Elizabeth
Ferraz da Silva Torres, que coordenou o estudo, a dieta da pontuação, por ser mais flexível, pode
ganhar mais adeptos do que o regime clássico. "Ninguém é de ferro. De que adianta poder comer
alface à vontade se o camarãozinho frito é proibido?", brinca.
Na avaliação do cardiologista
Raimundo Marques Nascimento,
presidente do Funcor (fundação
do coração), ligado à Sociedade
Brasileira de Cardiologia, ainda
que seja mais maleável, a dieta
dos pontos, assim como as outras,
é difícil de ser seguida à risca a
longo prazo. "Passados três, quatro meses, as pessoas relaxam."
Porém, ele considera a proposta
válida porque, nessas situações, as
pessoas sempre incorporam algum hábito saudável. "Se trocarem o queijo amarelo pelo queijo
branco ou usarem óleo vegetal, já
serão medidas que podem ter boa
repercussão a longo prazo."
Para o fisiologista Carlos Eduardo Negrão, do Incor, o ideal é associar exercícios físicos à dieta.
O exercício físico não faz baixar
o colesterol LDL, mas ajuda a aumentar a produção da HDL (colesterol bom). Estudos recentes
do Incor mostram que pessoas
que fazem atividade física regular
aceleram a "lavagem" do colesterol ruim dentro dos vasos sangüíneos. A remoção da LDL é até
quatro vezes maior entre os adeptos da atividade física em relação
às pessoas de costumes sedentários (leia texto nesta página).
Embora não conheça a dieta, a
médica Valéria Cunha Campos
Guimarães, presidente da Sbem
(Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), avalia
que ela só possa ser aplicada às
dislipidemias leves.
A taxa de colesterol total no organismo considerada boa é de até
200 mg/dl, embora a faixa limite
seja entre 200 mg e 240 mg/dl.
Acima disso, o risco de ter obstruções nas artérias e problemas cardíacos aumenta. "Com taxas até
220 mg, ainda pode-se tentar a
dieta. Depois disso, tem que usar
medicamento", afirma Valéria.
As drogas mais utilizadas hoje
para esse fim são as estatinas, cuja
indicação para pessoas sem risco
cardiovascular está sendo colocada em xeque nos EUA.
O cardiologista Nascimento ressalta que pessoas já sofreram infarto ou AVC (acidente vascular
cerebral), hipertensos, diabéticos
ou com histórico familiar de
doenças cardiovascular são os
maiores candidatos ao medicamento. O próximo passo da pesquisa será testar os efeitos do sistema de pontos no tratamento de
indivíduos que tomam remédios
para controlar o colesterol.
"Queremos saber se associação
da dieta com os medicamentos
ajuda a reduzir ainda mais as taxas de colesterol", explica Marcia
Nacif, uma das pesquisadoras.
Segundo pesquisas norte-americanas, as dietas conseguem reduzir, no máximo, 20% do colesterol. Ainda assim, elas são indicadas mesmo para as pessoas que
utilizam medicamentos.
A metodologia da dieta dos
pontos para controle do colesterol é fruto de pesquisas realizadas
pelas nutricionistas Edeli de
Abreu e Márcia Nacif e foi transformada no livro "Sistema de
Pontos para Controle de Colesterol e Gordura no Sangue", publicado pela editora Metha.
De fácil compreensão, a obra dá
dicas sobre uma alimentação saudável e traz a lista de pontos, por
ordem alfabética, dos alimentos.
Serviço: Editora Metha:
www.editorametha.com.br;
livraria@editorametha.com.br
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