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NARCOTRÁFICO
Em depoimento secreto à CPI, traficante diz que policiais foram à sua procura no Paraguai e agrediram seu filho
Beira-Mar acusa PF de tentar matá-lo
SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
Em depoimento secreto à CPI
(Comissão Parlamentar de Inquérito) do Narcotráfico, o traficante Luiz Fernando da Costa, o
Fernandinho Beira-Mar, 32, acusou policiais federais de terem ido
ao Paraguai para matá-lo.
Segundo o traficante, a tentativa
de homicídio teria ocorrido na cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero, na fronteira com o Brasil,
há cerca de 18 meses.
De acordo com o relato de Beira-Mar, gravado pela CPI, uma
equipe de homens da PF (Polícia
Federal) esteve na casa em que
morava, em Pedro Juan Caballero, com o objetivo de matá-lo.
O traficante teria escapado da
morte porque não estava em casa,
segundo o depoimento.
"Eles estavam armados com silenciador para me matar dentro
de casa", disse Beira-Mar aos deputados da CPI e aos policiais federais que o ouviram por telefone, durante 90 minutos, no dia 24
de março deste ano.
A íntegra do depoimento reservado de Fernandinho Beira-Mar
foi obtida pela Folha.
O traficante afirma que, como
não o encontraram, os agentes teriam espancado seu filho mais velho, Davidson, com 10 anos de
idade na época.
Alessandra Costa, irmã de Beira-Mar e presa desde o início deste ano sob a acusação de envolvimento com a quadrilha de traficantes, também teria sido agredida pelos policiais.
O traficante acusou o agente
Celso Figueiró, da PF, de ter chefiado a equipe que teria ido a Pedro Juan Caballero para matá-lo.
Figueiró foi o policial que o prendeu em Belo Horizonte, em junho
de 1996.
Os policiais federais teriam entrado no Paraguai pelo município
de Ponta Porã, no Mato Grosso
do Sul. As cidades de Ponta Porã e
Pedro Juan Caballero são separadas apenas por uma avenida.
"Ele (Figueiró) foi a minha casa
e a invadiu com a "poliçada". Torturou minha irmã Alessandra, pegou meu filho de 10 anos e arrebentou no pau", disse Fernandinho Beira-Mar à CPI.
Além dos supostos espancamentos e torturas, os policiais federais teriam roubado pertences
do traficante.
"Ele (Figueiró) levou quase tudo o que tinha de valor dentro da
minha casa", disse Beira-Mar.
Informado da presença de policiais em sua casa, Beira-Mar conta
que entrou em contato com um
promotor de Justiça do Paraguai,
que teria intercedido junto à polícia brasileira para soltar Alessandra e Davidson. O traficante não
disse o nome do promotor à CPI
do Narcotráfico.
Com veemência, o traficante
alertou deputados e policiais federais, durante o depoimento, que
não aceita o que chamou de perseguições contra a sua família.
"Sou um cara homem, sou correto, não faço pilantragem com a
família de ninguém. Sou um cara
de palavra, cumpro o que eu faço
e sou bandido", disse ele.
Essa foi a primeira vez em que
Fernandinho Beira-Mar vincula
policiais federais a irregularidades nas investigações sobre seu
paradeiro.
Por causa de denúncias de Beira-Mar e de gravações telefônicas,
a Secretaria de Segurança do Estado do Rio já afastou de serviço sete policiais civis, acusados de envolvimento em extorsões contra o
traficante.
Os policiais civis, em ocasiões
diferentes, teriam viajado ao Mato Grosso do Sul e ao Paraguai para tirar dinheiro de Beira-Mar.
"Tive de dar uma casa de R$ 500
mil, vários apartamentos, carros.
Já perdi a conta dos muitos milhões que paguei à polícia do Rio",
disse Beira-Mar no depoimento à
CPI do Narcotráfico.
O traficante demonstra no depoimento preocupação com a situação das irmãs, Alessandra e
Débora. As duas foram presas este ano, acusadas de participar da
quadrilha de traficantes liderada
pelo irmão.
No depoimento, Beira-Mar procurou condicionar o fornecimento à CPI e à PF de informações sobre o narcotráfico a benefícios
concedidos às irmãs.
"Minhas irmãs não podem pagar pelos meus erros", disse Fernandinho Beira-Mar, acrescentando não estar "ameaçando a família de ninguém".
"Deixaram fazer sacanagem
com a minha família. Isso é o que
eu estou mostrando para eles",
afirmou o traficante.
Histórico
O Tribunal de Justiça do Rio de
Janeiro condenou na segunda-feira passada três membros da quadrilha do traficante Fernandinho
Beira-Mar, por tráfico de drogas.
Alda Inês dos Anjos Oliveira,
ex-mulher e integrante da quadrilha de Beira-Mar, foi condenada
pelo Tribunal de Justiça a oito
anos de prisão.
Sua participação na quadrilha
foi considerada "relevante" pela
juíza Therezinha Maria de Avellar
Duarte, da 1� Vara Criminal de
Duque de Caxias.
Ela chegou a confessar em depoimento ao Ministério Público
seu envolvimento no tráfico liderado pelo ex-marido.
O doleiro Khaled Nawaf Aragi
também foi condenado a oito
anos de reclusão. Segundo a sentença, ele era responsável pela lavagem de dinheiro do tráfico.
O terceiro, condenado a seis
anos de prisão, foi Cláudio de Sá
Neves, conhecido como Dedão.
Responsável pelo envio de carros roubados para o Paraguai,
operação que era intermediada
por José Carlos Bandeira Crespo.
Crespo foi preso no ano passado
por tráfico de drogas.
Neves trocava os carros por cocaína. A droga era, então, vendida
nos morros do Rio de Janeiro.
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