São Paulo, domingo, 28 de maio de 2000


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PRAIA GRANDE

Portadores de deficiência mental ocupam horário de emissora às terças; auto-estima melhorou, diz professor

Alunos especiais fazem programa de rádio


FAUSTO SIQUEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PRAIA GRANDE

Doze alunos portadores de deficiência mental com idades entre 17 e 40 anos são os responsáveis por um programa de rádio que começa a conquistar audiência na Praia Grande (litoral paulista).
Orientados pelo professor Edmilson Ferreira, 35, há dois meses eles colocam no ar, todas as terças-feiras, entre 8h30 e 9h30, o programa "Rádio Trovão", referência ao nome da escola municipal de educação especial Anahy Navarro Trovão.
O horário é cedido pela rádio comunitária 99 FM (frequência 99,9 mhz), que funciona com autorização da Justiça Federal, concedida à Associação Comunitária Sol e Mar de Praia Grande.
Com 50 watts de potência, o sinal da emissora alcança Praia Grande e alguns bairros da cidade vizinha de São Vicente, segundo o comerciante e diretor da rádio Marciano Rodrigues Gomes.
Todos os programas da emissora são resultado da colaboração de voluntários, entre os quais comerciantes, radialistas, técnicos de som e profissionais liberais. A emissora não tem fins lucrativos.
O principal resultado do programa "Rádio Trovão" é o efeito positivo que produziu na auto-estima dos alunos, de acordo com o professor Ferreira e a diretora da escola, Maria Aparecida Rodrigues Silveira dos Santos. "Alguns, mais fechados, passaram a ficar mais soltos, comunicativos", afirmou a diretora.
"Procuramos, dentro da limitação do aluno, o potencial dele. Muitos têm leitura e escrita rudimentar, mas estão descobrindo outros talentos que podem desenvolver. Com isso, se sentem úteis e prestam um serviço à sociedade", disse Ferreira.
O programa tem a participação de ouvintes pelo telefone, apresenta música, notícias, entrevistas e uma radionovela, "A Terra Não é Nostra", paródia da novela da Rede Globo protagonizada pelos próprios estudantes.
"Muita gente que escuta o programa não sabia que era feito por alunos especiais. Achavam que era coisa de radialistas que se reuniam para fazer algo do tipo "Café com Bobagem" (grupo profissional de humoristas)", afirmou Marciano Gomes.
Os alunos integram a oficina pedagógica da escola, que envolve estudantes com mais de 14 anos e da qual a rádio é um dos projetos. Há outros, como pintura em camisetas e em gesso, reciclagem de latas e cultivo de horta.
O roteiro do programa é preparado no dia anterior a partir de uma discussão com o professor.
"Sinto-me emocionado. Rezo para a terça-feira chegar e eu vir para cá. Estou realizando um sonho que tenho desde pequeno, de ser locutor", disse o aluno Washington da Costa, 23.




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