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Rua onde Lula morou em 1956 ainda alaga
Endereço em que presidente viveu com a mãe na Vila Carioca ficou inundado na semana passada, o que não ocorria havia mais de 20 anos
Em outra rua em que Lula viveu, a Padre Mororó, na cidade de São Caetano, os moradores são vítimas das cheias ainda hoje
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
O endereço na rua Auriverde,
Vila Carioca (zona sul), onde o
presidente Lula viveu com a
mãe, dona Lindu, e os irmãos,
quando, saindo de Santos, chegou a São Paulo, em 1956, não
enchia havia mais de 20 anos. A
canalização do rio Tamanduateí
conseguiu evitar a rotina de
inundações que transtornavam
o bairro. Mas encheu na semana passada. As chuvas de quarta
e quinta quebraram o jejum.
Ontem, quando descreveu as
enchentes que enfrentou em
São Paulo, Lula lembrou-se de,
trabalhando nos Armazéns Gerais Columbia, então entreposto de fardos de algodão, muitas
vezes não conseguir chegar ao
local porque a av. Presidente
Wilson enchia -"obviamente
que gostava porque não tinha
de trabalhar naquele dia", disse.
A Folha chegou ao endereço
que foi casa do menino Lula,
bem defronte aos galpões que
já foram do Instituto Brasileiro
do Café e que agora pertencem
à Receita Federal. Encontrou
um primo de dona Lindu, que
até hoje vive no imóvel. Ele não
quis identificar-se, por receio
de que pareça estar se promovendo à custa do parente famoso. Marceneiro, Lula o chama
de "tio" (a última vez que se viram foi na pré-estréia do filme
"Lula, o Filho do Brasil", em
São Bernardo, há dois meses).
O tio reformou a casa três vezes. Foi lá que criou os filhos. Hoje, é modesta e confortável.
Na semana passada, as águas
subiram muito, a ponto de interditar a Auriverde, bem na
esquina do endereço que já foi
de Lula. "Parecia que a gente tinha voltado no tempo", disse.
A Folha refez o caminho que
Lula percorria diariamente até
os prédios antes ocupados pelos armazéns. Ficam a cinco
quarteirões da casa, bem perto
da linha de trem e da estação Tamanduateí da EMTU.
Hoje, o local é ocupado pela
Revendedora de Tubos de Aço
Omega, que na semana passada
perdeu para as águas 12 computadores, 14 nobreaks, todo o
sistema de telefonia. "O aguaceiro subiu mais de metro",
disse o dono, Paulo José Soares
de Carvalho, 45. "Mas o pior
são os tubos. Ficou tudo oxidado -prejuízo de R$ 500 mil."
O vigia e porteiro Walter
Fernandes, 59, Rosana Lopes,
29, moradora do bairro desde
que nasceu, Rodrigo Rodrigues, 28, gerente comercial, há
dez anos trabalhando na Presidente Wilson, responsabilizam
a construção da nova estação
do Metrô, a Tamanduateí.
"Taparam o caminho das
águas da chuva, que iam pro
rio. Construíram um tapume e
um aterro no caminho das
águas, que ficam represadas.
Nos fizeram recuar 20 anos, reviveram as enchentes e o pavor", disse Rodrigues.
Em nota, o Metrô negou que
a obra tenha agravado as enchentes: "A área anteriormente
ocupada por galpões hoje é coberta por brita, o que facilita o
processo de infiltração". Segundo a empresa, um reservatório retém a água, que é lançada gradativamente no rio.
No discurso que proferiu ao
receber a medalha 25 de Janeiro, Lula fez menção a outra casa em que morou, perto da divisa com São Caetano: "Mudei
para uma casa novinha, (...)
cheirava a tinta, isso em junho.
Em dezembro e janeiro peguei
três enchentes, de entrar um
metro e meio dentro de casa".
A casa em que Lula morou
foi demolida. Ficava a 50 metros do ribeirão dos Meninos,
na rua hoje chamada de Padre
Antonio de Gennaro. Perguntou-se ao pedreiro e líder comunitário Oliver Costa, 63, se a
rua ainda é vítima de enchentes. Ele apontou para a comporta de ferro de um metro de
altura que acabou de instalar
no portão de sua casa, para evitar a entrada das águas.
Lula lembrou que "ia dando
enchente, a gente ia jogando
cascalho na rua e as casas iam
ficando para baixo". "Fui eu
quem mandou pôr", disse Costa. "Senão a rua ficava intransitável." Tanto cascalho foi colocado, que a rua chegou até o nível do segundo pavimento das
casas. "O jeito foi encher o primeiro pavimento de entulho.
Só aqui em casa, foram colocados 72 caminhões de entulhos." Hoje, ele ocupa o andar
superior (mesma providência
adotada pelos vizinhos).
Em outra rua em que Lula viveu, a Padre Mororó, em São
Caetano, os moradores são vítimas das cheias ainda hoje. Segundo a prefeitura, as águas não
chegam mais a 1,5 m de altura,
como disse Lula em seu discurso, mas as enchentes ali ainda
não foram solucionadas.
Colaboraram EVANDRO SPINELLI e VINÍCIUS
QUEIROZ GALVÃO, da Reportagem Local
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