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COPIA DA INTERNET E COLA
Colégios obrigam alunos a entregar trabalhos à mão para evitar uso de textos retirados de sites
Contra plágio, escolas exigem manuscritos
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
Importante meio de pesquisa
para os alunos, a internet também
se tornou um bom instrumento
para os que buscam vida fácil na
escola. "Pego todos os meus trabalhos lá, nem leio. Só preciso fazer uma capa", conta Augusto, 16,
que está no segundo ano do ensino médio de uma das maiores redes de colégios de São Paulo. Por
que faz isso? "Preguiça", diz ele.
Vida fácil porque, com a internet popularizada, desaparece parte das centenas de alunos que se
acotovelam em bibliotecas em
busca de bibliografia para entregar os trabalhos. Eles migraram
para as salas onde há computadores ligados na rede, uma fonte farta de futuros "trabalhos".
Casos como esse ficaram tão comuns que obrigaram as escolas a
mudar a forma de cobrar os trabalhos dos alunos, para evitar a
simples cópia de textos dos sites.
Vale até voltar ao passado, exigindo que os alunos gastem a caneta
para entregar atividades manuscritos, o popular "à mão".
Uma das escolas que adotaram
tal medida foi o colégio Interlagos, na zona sul de São Paulo.
"Isso evita o simples plágio",
afirma a coordenadora Ana Lucia
de Carvalho Pereira. Ela diz também que os alunos precisam ter
familiaridade tanto para usar o
computador quanto para fazer
trabalhos manuscritos. "No vestibular, eles têm de escrever à
mão", lembra.
A professora Juliana Mazzeto
Hessel, que leciona história para
as classes da quinta à oitava série
da escola, conta que muitos alunos reclamam do método. "É por
isso que intercalamos com os trabalhos digitados."
Ler e entender
Mas há casos em que o próprio
estudante faz a opção. A aluna da
sétima série Adriana Rodrigues,
13, prefere escrever à mão. "É
mais fácil, porque você vai lendo o
texto e já vai escrevendo."
Outra medida tomada pela escola foi atrelar os trabalhos a outras atividades, como uma palestra. "O aluno vai precisar ter entendido o conteúdo dos textos",
afirma a coordenadora.
Na Escola Estadual Ascendino
Reis, na zona leste de São Paulo,
alguns professores também pedem trabalhos manuscritos.
"Quando é digitado, o pessoal copia mesmo", conta Fábio da Nóbrega, 15, do primeiro ano do ensino médio.
O colégio Lourenço Castanho,
na zona oeste da capital paulista, é
outro que cobra que alguns trabalhos sejam manuscritos.
A escola também usa um método para descobrir eventuais plagiadores contumazes.
Para as atividades digitadas os
professores costumam jogar partes dos textos no Google (um dos
mais populares sites de buscas)
para saber se ele foi copiado.
Outra medida para evitar o que
o colégio chama de "clonagem de
trabalhos" foi pedir aos alunos
que façam análises com base nos
textos dos sites. "A ida à internet
tem de ser somente uma das atividades", diz Wagner Borja, um dos
coordenadores da escola.
Mudanças
O diretor da Escola de Aplicação
da USP (Universidade de São
Paulo), Fábio Bezerra de Brito,
afirma que apenas pedir que os
alunos entreguem trabalhos manuscritos é praticamente inócuo,
já que pode ser uma tarefa simplesmente mecânica, sem o envolvimento intelectual.
"O aluno pode copiar e não entender nada. Talvez capte uma ou
outra palavra do texto", afirma
Bezerra de Brito.
Para ele, os professores têm de
mostrar aos alunos os processos
de uma pesquisa, já que o uso cada vez mais comum da internet
também pode ter desvirtuado noções de ética sobre a autoria dos
trabalhos.
"Muitos nem têm consciência
de que não é certo simplesmente
baixar o trabalho da internet."
Outra sugestão de Brito é que os
professores acompanhem todos
os processos da realização do trabalho, desde a coleta dos dados
até a redação final, evitando que
haja algum tipo de desvio na elaboração.
Lupa
Já o professor da Faculdade de
Educação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Sérgio Ferreira do Amaral é enfático:
"Se o professor ler o trabalho, saberá se foi ou não copiado. Dá para perceber pela linguagem", afirma Amaral. "O problema é que
muitos nem lêem as atividades."
O docente da Unicamp também
considera que a cobrança por trabalhos manuscritos, se for feita
isoladamente, não traz resultados, pois os estudantes podem
não captar as informações.
Ou seja, além de exigir o trabalho manuscrito, é necessário realizar atividades complementares,
que possam ajudar o estudante a
absorver os conhecimentos cobrados nesses trabalhos.
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