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Nicéa volta para o ringue
CLEUSA TURRA
secretária-assistente de Redação
SÍLVIA CORRÊA
da Reportagem Local
Nicéa Pitta está de volta após
um exílio de três meses nos EUA.
Desembarcou -"para dar a cara a tapa"- reafirmando estar separada do marido e ameaçando
retomar na Justiça a presidência
do Casa (Centro de Apoio Social e
Atendimento) -cargo extinto
por Celso Pitta em represália às
declarações da mulher contra
seus secretários e contra ele mesmo, que ela classificou como "um
administrador sem pulso".
Vinte e quatro horas depois da
chegada, Nicéa reencontrou o
marido na casa do empresário
Jorge Yunes, e ambos anunciaram a surpreendente reconciliação. Não foi só. Segundo Nicéa, o
prefeito estava abatido, triste, voltou a ouvi-la e prometeu atendê-la. "Você tem toda a razão. Eu errei muito, mais uma vez", disse
Pitta, segundo a primeira-dama.
Outras 24 horas depois, Nicéa
recebeu a Folha em sua casa.
Eram 11h. Ainda de chinelos dourados, sem maquiagem e com
roupas informais, não esperou a
primeira pergunta. Foi logo contando ter conversado com o filho
Vitor até as 5h. Não parou mais.
Na casa silenciosa e de cortinas
cerradas, o telefone tocou dez vezes durante a conversa, mas só
duas ligações foram atendidas
-a de Pitta e a da filha Roberta.
Nicéa deu detalhes da reaproximação do casal, desvelou os bastidores do malufismo e voltou a
atacar os secretários do marido.
Ás 13h, aceitou um convite para
almoçar, dizendo que as empregadas haviam pedido demissão.
No almoço, ela se dispôs a repetir parte das declarações, com menos detalhes, em uma entrevista
gravada. Nela, afirma ter o compromisso do marido de que três
secretários perderão os cargos e
diz que voltará ao Casa, mas poupa Pitta de sua pesada artilharia.
Folha - Por que a sra. voltou?
Nicéa Pitta - Era muito cômodo
ficar lá fora e não dar a cara a tapa.
Sou responsável por meus atos.
Folha - Mas a sra. voltou disposta a uma reconciliação?
Nicéa - Não.
Folha - O que mudou?
Nicéa - O Celso falou: "Você
tem toda a razão. Eu errei muito,
mais uma vez. Se um dia eu falei
que em 99% você tinha razão,
agora digo que tem em 100%".
Folha - Então vocês falaram
sobre a queda dos secretários?
Nicéa - Ele disse que eu me precipitei. Que ele estava para tomar
uma atitude. Isso é verdade, o Vitor (filho do casal) tinha me falado: "Mãe, o papai vai dispensar o
Meinberg (Carlos Augusto Meinberg, secretário de Governo)".
Folha - A sra. tem o compromisso do prefeito de afastá-los?
Nicéa - Tenho.
Folha - Ele pediu para a sra. se
afastar da administração?
Nicéa - Não.
Folha - O que a sra. sabe sobre
os secretários?
Nicéa - O Pagura (Jorge Roberto
Pagura, secretário da Saúde) tem
a pretensão de dizer que está moralizando a Saúde, fazendo mídia,
média, mas não visita hospital.
Folha - O prefeito vai tomar alguma atitude em relação a isso?
Nicéa - Vai. E se não tomar, vocês vão ver. Eu não abro mão.
Folha - Bastam as trocas?
Nicéa - Sim, porque eu tenho
certeza de que os outros secretários não vieram por indicação do
Edevaldo (Edevaldo Alves da Silva, ex-secretário de Governo).
Folha - A sra. indicaria nomes?
Nicéa - Eu não indicaria, eu sugeriria funcionários de carreira.
Folha - O que a sra. tem contra
o Meinberg?
Nicéa - O Meinberg provou que
queria nos desestabilizar quando
disse que na CPI da máfia dos fiscais alguém havia afirmado que
uma senhora tinha me dado R$ 12
mil, e que eu teria que sair de casa,
senão seria presa. Disse para o
Celso: "Estão indo prender a Nicéa". Se uma sirene de ambulância por azar passasse em frente à
minha casa, eu acho que o Celso,
coitado... Ele só falava: "Nicéa, pelo amor Deus. Essas pessoas são
capazes de tudo". Mas era boato.
Folha - A sra. vê alguma ligação dele com o Edevaldo?
Nicéa - Você tem dúvida? A
criatividade da maldade perpetua
seus métodos. Ele contratou e indicou a Dinorá (Dinorá Rodrigues, presidente do Casa de maio
a julho). Ela já recebia e não trabalhava, morava em Campinas.
Folha - Desde quando o Maluf
mostrou que queria desestabilizar o governo do seu marido?
Nicéa - Eu sentia já na época da
campanha. As pessoas diziam:
"Olha a mulher do Pitta, a dona
Nicéa". O Maluf é muito ciumento. Ciúme de homem é o pior.
Folha - A sra. acha que o afastamento (de Maluf e Pitta) eram
cartas marcadas do outro lado?
Nicéa - Eram. O Edevaldo queria lançar o Lair Krahenbuhl (ex-secretário da Habitação) ou então o Richter (Paulo Roberto
Richter, ex-secretário da Saúde).
Folha - Então, eles elegeram o
prefeito, sabiam das condições
financeiras da prefeitura e buscavam desassociar as imagens?
Nicéa - Sim, porque ele gravou
aquela mensagem publicitária.
("Se Pitta não for um bom prefeito, nunca mais votem em mim".)
Eu fico impressionada de vocês
ter dúvida, se toda a população
comenta, até na colônia libanesa.
Folha - Comenta o quê?
Nicéa - Que eles usaram o Celso.
Folha - A sra. não quer passar
a limpo a história dos frangos
(caso que envolve o nome de Nicéa com a venda de frangos superfaturados à prefeitura)?
Nicéa - Estávamos nos Estados
Unidos -o Celso, eu, a Sylvia e o
Paulo Maluf, esse senhor que não
merece mais entrar nos meus
pensamentos. E ela (Sylvia) começou a falar de frango num jantar. Falava, falava, falava. Quando
voltamos ao Brasil, ela me colocou em contato com o irmão dela
(Fuad Lutfalla, proprietário da A
D"Oro). Ele me recebeu, chamou
o gerente e disse: "A Sylvia pediu
para ela vender o produto para
clientela diferenciada". Foi assim
que começou o trabalho. Só que
eu vendia, e eles não entregavam.
Folha - A sra. recebia (à época,
Nicéa declarou que fazia um estágio não remunerado)?
Nicéa - Reembolso de despesas.
Era depositado na minha conta.
Eu estava trabalhando quase de
graça. Como eu recebia porcentagem, sem entrega, não recebia.
Folha - Quem, então, arquitetou o escândalo dos frangos?
Nicéa - O Edevaldo. O nosso advogado nessa época era o dr. Jamil
(Mattar), que dá aula na FMU e
trabalha no escritório do Edevaldo. Ele ia nos depoimentos comigo, entrava mudo e saía mudo.
Folha - As notas fiscais apresentadas para justificar os
reembolsos são falsificadas?
Nicéa - Você já viu alguém assinar em letra de forma? E a quantidade de notas! Eu precisaria ter
trabalhado uns três anos lá.
Folha - E a compra do Vectra (a
CPI dos Precatórios acusou o casal de ter comprado o carro por
intermédio de um doleiro)?
Nicéa - Eu tinha um Escort conversível e estava pesquisando um
preço de venda melhor. Achei na
loja em Santo Amaro (Autoglobal) . Sempre tinha um rapaz que
me atendia, mas não foi ele que
foi à minha casa receber o dinheiro. Fiquei com medo e liguei para
lá. Disse: "Olha, tem um senhor
aqui, eu quero os documentos
dele, porque eu não posso entregar R$ 30 mil assim". Eles disseram: "Não precisa se preocupar".
Ele recebeu um envelope pesado.
Folha - Por que em espécie (o
único cheque de R$ 30 mil que
entrou na conta da empresa no
dia da compra foi do doleiro
Charles Moghrabi)?
Nicéa - Eu não estava mais movimentando a minha conta porque, na CPI, a minha conta saiu
em todos os jornais. Qualquer
pessoa poderia depositar! Aí saiu
a história de um doleiro, mas não
sei onde você encontra doleiro.
Folha - O que a sra. fará agora?
Nicéa - Meu plano é esperar o
Celso chegar e fazer com ele um
plano de trabalho, porque a cidade está esperando ansiosa. Nós temos uma curta chance de mostrar
que ele não é nada do que falam.
Folha - A extinção do seu cargo no Casa vai ser revogada?
Nicéa - Com certeza.
Folha - E o episódio dos selos
do Casa? Como a sra. soube?
Nicéa - Os funcionários me
contaram: "Dona Nicéa, o que está acontecendo com a verba dos
selos (a taxa cobrada pela exposição de anúncios publicitários nas
ruas deveria ir para o Casa)?". Falei: "Boa pergunta, vou lá no financeiro". Chegando lá, onde está o dinheiro? Não entra.
Folha - A sra. foi ao Edevaldo?
Nicéa - Na mesma hora. Ele:
"Irmã, não mexa nisso!". Fui ao
Celso. Ele pediu o gráfico de arrecadação. Era assim (indica a queda). A curva do Bresser Pereira.
Folha - Vocês tentaram identificar quem era o responsável?
Nicéa - Não dá tempo. Se solucionou, vamos ao trabalho.
Folha - E o prefeito vai se candidatar à reeleição?
Nicéa - Eu pedi a ele que não. E
quando eu falei que ia ser candidata, foi para deixar eles desesperados, tanto que não me filiei. O
TRE me desmentiu.
Após reconciliação, a primeira-dama ataca os malufistas, diz que retomará seu posto e garante ter a promessa do prefeito de que secretários cairão
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O Jorge (Yunes) me levou para a sala. O Celso já
estava lá. Era o meu marido,
abatido, triste.
O Celso falou: "Se um dia eu falei que em 99% você tinha razão,
agora digo que tem em 100%'
Nos temos uma curta chance de mostrar que ele (Celso Pitta) não é nada do que
falam.
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