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ARTIGO
Hormônio de crescimento: fantasia e realidade
EDER QUINTÃO
MARCELLO BRONSTEIN
especial para a Folha
Em seu artigo "Revolução científica contra o envelhecimento"
(Folha de S.Paulo, 14/11/99) o dr.
Tuffik Mattar fornece informações errôneas e sensacionalistas já
no título. O hormônio de crescimento (produzido na adeno-hipófise e não na neuro-hipófise,
como publicado) é muito importante para o desenvolvimento da
criança e do adolescente, e também para o adulto.
Embora a sua ação mais evidente seja no crescimento (daí o
seu nome), este hormônio tem várias outras funções, tais como aumentar a massa muscular e diminuir a massa gordurosa, fortalecer os ossos, aumentar a capacidade cardíaca e pulmonar, e mesmo atuar positivamente na esfera
mental. A importância deste hormônio na idade adulta é bem demostrada pelo benefício de sua
reposição em pacientes carentes
do mesmo (em decorrência de
doenças na região da hipófise).
Realmente, a melhora física e
psicológica destes indivíduos durante o tratamento com hormônio de crescimento é nítida. Assim, adultos normais, mesmo já
tendo completado o crescimento,
continuam produzindo hormônio de crescimento, em quantidades progressivamente menores à
medida que envelhecem.
Considerando-se que a produção do hormônio diminui com a
idade, aventou-se a possibilidade
de que a administração do mesmo em pessoas idosas poderia ter
um efeito positivo na esfera física
e mental. Embora seja uma idéia
que, se comprovada, traria benefícios à terceira idade, infelizmente ainda não chegamos à fonte da
juventude...!
Idosos
Não existem atualmente evidências científicas de que idosos
apresentem rejuvenescimento ou,
muito menos, tornem-se longevos
com o emprego do hormônio ou
de substâncias que estimulem a
sua produção ou efeitos, como foi
alardeado no artigo assinado pelo dr. Tuffik Mattar.
Adicionalmente, o hormônio de
crescimento pode precipitar o desenvolvimento de diabetes ou
mesmo de doenças malignas,
principalmente no idoso, naturalmente mais propenso a estas moléstias. Outra impropriedade colocada no artigo é de que a "somatomedina" (na verdade, existem
várias) ativa a produção da hipófise. Na realidade, a somatomedina C (ou IGF-1), é produzida
(principalmente no fígado) por
meio de estímulo pelo hormônio
de crescimento, e por sua vez inibe, e não ativa, conforme consta
na matéria, a produção do hormônio pela hipófise.
Sem nos alongarmos em outras
impropriedades do artigo, como a
que se refere à somatostatina,
gostaríamos de deixar registrada,
como professores universitários, a
nossa preocupação com o teor
não-científico daquele artigo, e
colocar bem claramente a nossa
posição: o emprego do hormônio
de crescimento, ou de substâncias
geradas por meio dele, não deve
ser incentivado numa população
leiga, naturalmente fascinada pelo sonho do rejuvenescimento e
longevidade. Somente estudos
realizados em centros científicos
de alto padrão, com controles
adequados, poderão mostrar no
futuro se existe algum subgrupo
de idosos (por exemplo, os debilitados ou incapazes de locomoção) que se beneficie do tratamento com hormônio de crescimento, ou com substâncias que
estimulem a sua produção ou
possuam os seus efeitos.
Desta forma, enquanto não se
comprove cientificamente a eficácia de drogas candidatas à fonte
da juventude, a alimentação e
atividade física adequadas e o
controle de fatores de risco como
fumo, diabetes, colesterol e pressão arterial elevados persistem
sendo as melhores recomendações para uma vida saudável e
prolongada.
Eder Quintão, 66, é professor titular de endocrinologia da Faculdade de Medicina da
USP
Marcello D. Bronstein, 54, é professor livre-docente, chefe da Unidade de Neuroendocrinologia, disciplina de endocrinologia, no
Hospital das Clínicas da USP
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