São Paulo, Domingo, 21 de Novembro de 1999
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PESQUISA
Assistir televisão é o lazer de 50% da população da cidade, que queria ter mais tempo para se divertir
Paulistano gosta de ver TV, não avião

da Reportagem Local

Ao contrário da lenda, o passatempo preferido em São Paulo não é ver avião decolar. Pelo menos não pessoalmente, no aeroporto. Lazer para o paulistano é assistir TV ou vídeo instalado no conforto (ou desconforto) do lar.
Ao menos é o que diz a metade da população da cidade (com 16 anos ou mais) em resposta à pergunta "o que você faz com seu tempo livre?". A segunda opção de lazer caseiro mais citada -ler jornais, revistas, livros- ficou muito atrás, com 18% das respostas.
Quando consegue sair de casa, as principais atividades do paulistano no seu tempo livre são visitar parentes (16%) ou se reunir e conversar com amigos e vizinhos (12%). A prática de esportes aparece em terceiro lugar e é um hábito de apenas 11% da população.
A pesquisa Datafolha vai além dos clichês do tipo "praia de paulista é o rio Tietê" e explica por que o lazer é o item que tem a pior avaliação no índice sobre a qualidade de vida de uma cidade com tantos problemas graves, como violência e desemprego.
O paulistano se diverte muito menos do que gostaria. Apenas 37% estão felizes com o tanto que se divertem. Ou seja, a maioria absoluta, 61%, está insatisfeita com seu lazer. Em nenhuma outra área pesquisada os descontentes são uma fatia tão grande.
É por isso que a falta de lazer é o fator mais negativo na avaliação da qualidade de vida do paulistano: ela atinge a maioria dos cidadãos, de todas as classes sociais, faixa etária, sexo e instrução.
Comparando-se o tempo dedicado ao ócio pelos moradores da metrópole com o tempo que gostariam de desfrutar em atividade recreativa, percebe-se que o déficit de lazer do paulistano é uma de suas maiores frustrações.
Em média, ele dedicou 30 horas e 8 minutos ao lazer em setembro. Em outras palavras, cerca de uma hora por dia. Entretanto, o tempo que gostaria de usufruir se divertindo chegaria, numa média ideal, a 52 horas e 35 minutos por mês, ou 1 hora e 45 minutos/dia.
Quase metade da população, 46%, afirma que deixou de fazer, em setembro, alguma atividade de lazer que gostaria de ter feito. Principalmente: viajar (30%), ir ao teatro ou ao cinema (15%), ir a parques (13%), praticar esportes ou fazer ginástica (8%).
O motivo? Falta de dinheiro, em 46% dos casos, ou de tempo, para outros 29% (que afirmam trabalhar o tempo todo). Mas há uma diferença entre os dois grupos. No primeiro, destacam-se os mais pobres, das classes D e E. No dos sem-tempo, os da classe A e B apresentam percentuais maiores.
Seja por falta de alternativa, tempo ou dinheiro, a carência de diversão em São Paulo fica evidente até pelas respostas sobre o que os entrevistados fizeram no seu "tempo livre".
A terceira resposta mais comum foi "cuidar da casa (limpando, lavando roupa, cozinhando)". Isto é: para 15% dos paulistanos, essas tarefas não são trabalho, mas "tempo livre".
Isso sem contar respostas semelhantes, como "cuidar de crianças (filho, sobrinho, neto)" (5%) e "fazer consertos em casa" (5%). Houve muito mais respostas desse tipo do que de pessoas que declararam aproveitar o tempo ocioso para usufruir da declamada oferta gastronômica da cidade e ir a restaurantes e pizzarias: só 2%.
Mesmo a chamada oferta cultural ocupa uma fatia muito pequena da diversão dos paulistanos. Somando-se todos os que disseram ter aproveitado o tempo livre para ir ao cinema, teatro, show ou museu chega-se a 7%, mesmo percentual daqueles que afirmaram ter ido a bares.
(JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO)

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