São Paulo, sábado, 21 de maio de 2005

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RISCO SOBRE RODAS

Cerca de 300 pessoas bloquearam portão por 1 h 20, até a entrega de pedido de liberação do campus aos treinos

Protesto de ciclistas fecha entrada da USP

Ayrton Vignola/Folha Imagem
Ciclistas fecham portão principal da USP em ato contra morte de atletas na rodovia dos Bandeirantes


DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 300 ciclistas protestaram ontem, no portão principal da USP (Universidade de São Paulo), contra a morte de dois atletas, atropelados anteontem na rodovia dos Bandeirantes. Para os manifestantes, os acidentes ocorreram devido à decisão da USP de proibir a circulação de bicicletas dentro da universidade.
Desde o dia 25 de abril, apenas professores, alunos e funcionários da instituição podem pedalar no local. Segundo Marcos Mazzaron, presidente da Federação Paulista de Ciclismo, que organizou o protesto, a entidade irá apelar à Justiça caso a proibição não seja revogada. A USP afirmou, por meio de sua assessoria, que não comentaria a manifestação.
A universidade disse em nota, anteontem, que é "inaceitável" associar a proibição de ciclistas no campus à morte de Luís Fernando Costa Rosa, 40, que era professor da universidade e foi atropelado anteontem. Segundo a nota, o professor, assim como o grupo de atletas que ele acompanhava em suas pesquisas, tinha autorização para pedalar no local.

Pedido de reabertura
Acompanhados de um carro de som e exibindo faixas com mensagens como "Prefeito, quantos ainda terão que morrer?", os manifestantes bloquearam a entrada e a saída da universidade das 7h às 8h20, quando receberam autorização para entrar no campus do Butantã (zona oeste). Eles protocolaram na prefeitura da entidade um pedido para a reabertura imediata do local aos ciclistas.
José Carlos Citti, 41, que trabalha no mercado financeiro e participou ontem do protesto, disse que, após a proibição da USP, parou de andar de bicicleta, pois não queria se arriscar nas estradas. "Sou pai, e não é seguro [pedalar em rodovias]", afirmou. No entanto, sua mulher, que é triatleta profissional, não tem mais um local onde possa treinar, segundo ele. "Ela vive disso, então acaba tendo que pedalar nas estradas."
A manifestação complicou o trânsito na avenida Afrânio Peixoto, que leva diretamente à universidade, e na rua Alvarenga, que passa na frente da USP.
Irritado com o congestionamento, um motorista chegou a avançar o carro na direção dos manifestantes; atingiu um ciclista, que feriu levemente a perna.
Um dos principais argumentos da USP para vetar ciclistas são os conflitos entre atletas e motoristas. A presença dos ciclistas no local gerou muitas queixas à ouvidoria da instituição e, segundo a instituição, a atividade comprometia a segurança dos usuários.
Na prefeitura da Cidade Universitária, os ciclistas foram recebidos por Osvaldo Loula, coordenador da guarda do campus, e não pelo prefeito Wanderley Messias da Costa, como esperavam. Segundo Loula, o documento entregue será analisado pelo conselho do campus. Não há uma data estabelecida para essa avaliação.

USP
A universidade não comentou a morte do comerciante Amandio Bacalhau, 71, também atropelado anteontem na rodovia. Segundo a entidade, não era possível saber se Bacalhau só treinava na USP, como disse a federação de ciclismo.
Parentes das duas vítimas disseram que o professor e o comerciante tinham o hábito de pedalar em estradas antes do veto da USP.
Indagado sobre a contradição, Mazzaron disse que a federação não analisa as mortes de forma individual. "Nos preocupamos com a coletividade. A família pode ter a opinião dela, mas a nossa é que eles não teriam ido para a estrada se a USP estivesse aberta [para ciclistas]." (AMARÍLIS LAGE)


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